Foto Cherina (direitos reservados)

Começou a tocar em coretos, como todas as bandas em Portugal, com apenas 33 músicos. Hoje, 200 anos depois, a Banda de Freamunde é grande demais, não só em tamanho, mas em qualidade e já não conseguiria actuar naqueles espaços emblemáticos exíguos, situados ao ar livre, e que se encontram em todas as povoações portuguesas.

A banda cresceu e este sábado sopram-se as velas a um grupo que nasceu em 1822. A Banda de Freamunde, antes Banda Marcial de Freamunde e, desde que passou a associação de utilidade pública, depois do 25 de Abril, mais concretamente em 1979, passou a designar-se Associação Musical de Freamunde. Orgulham-se os responsáveis desta colectividade de estarem à frente de uma banda que “é a mais antiga do concelho e das mais antigas do distrito do Porto”.

E não é para menos, porque além da antiguidade, ao longo desde percurso formou centenas de músicos e, muitos deles, saltaram para as bandas da GNR, Força Aérea, Marinha ou PSP. Muitos dos seus elementos são agora professores de música em escolas e conservatórios.

“Todos se têm entregado com alma a este projecto”

Paulo Querido, presidente da Associação Musical de Freamunde, José Maria Queiroz, vice-presidente e responsável pela banda, e António Brandão, professor e dirigente da Escola de Música e da Tuna, estiveram à conversa com o Verdadeiro Olhar. Transpareceu o amor a esta estructura e à banda que conseguiu chegar a esta idade devido “a um grande amor, dedicação e muito esforço, não só da parte das direcções, mas de professores, alunos, sócios e população de Freamunde”, frisou o presidente. Todos se têm entregado “com alma” a um projecto que começou como banda e, hoje, tem escola de música e até uma tuna, explicou José Maria Queiroz.

É evidente que tantos anos, são sinónimo de muitas alegrias, mas também de “momentos difíceis”. E bem presente na memória dos três está a pandemia, porque “parou tudo e “separou e afastou muitas pessoas” que faziam parte desta estrutura que quebrou, mas não vergou, e a prova-lo está o facto de a banda, que é dirigida pelo maestro, professor e compositor, Vítor Resende, nunca ter tido tantos músicos como agora”, referiu António Brandão.

Quando se fala na banda, os olhos de José Maria Queiroz, brilham. O vice-presidente, contou que entrou para o grupo “no dia 14 de Abril de 1966, em Louredo, Paredes. Foi num dia de Páscoa. São 53 anos de banda”, recorda. Entrou porque gostava de música e um professor que o ensinou, aconselhou a pai que “seria o melhor para mim”, conta. Entrou, e nunca mais saiu.

Ao longo desta sua caminhada, contabiliza “bons e momentos menos bons”. Mas quando instado sobre o que mais o marcou neste percurso, não hesita e refere que foi a entrada do filho, ainda criança, para a banda. E prossegue, hoje “é professor de música aqui na escola e em conservatórios”. Ver o seu descendente a seguir-lhe as pisadas deu-lhe “a maior alegria de todas”.

“Tudo era bem mais difícil, as bandas eram bem mais pequenas e conseguiam tocar em coretos, e não existiam tantas condições como agora”

Mas em altura de aniversário, é tempo para recordar o passado. José Maria Queiroz é a pessoa certa para fazer essa viagem. “Tudo era bem mais difícil, as bandas eram bem mais pequenas e conseguiam tocar em coretos, e não existiam tantas condições como agora”. E recorda que “vinha a pé para a banda. Hoje os miúdos vêm todos de carro. Ui, eram tempos muito difíceis”, lembrou. Saudades? O dirigente diz apenas que as saudades se reportam apenas ao facto de  ser “mais novo”, tirando isso, gosta mais do que vive actualmente. “Há melhores condições e até os instrumentos têm outra qualidade, não há comparação”.

José Maria Queiroz

Paulo Querido está a presidir a associação há poucos meses. Mas a sua ligação a esta estrutura não é de agora, já tem anos. Os colegas de trabalho caracterizam-no como “um excelente líder” que “conseguiu recuperar o amor e a paixão pela associação”.

“Assertivo, ouve as pessoas, dialoga e interage, não só com todos os elementos da direcção, mas com o maestro, os músicos, os sócios, alunos, pais e simpatizantes da banda”, são outras das qualidades apontadas a Paulo Querido que confessa que navegar num barco tão pesado como este, “não é fácil”, porque os recursos financeiros nunca são os desejados.

No caso das deslocações, implicam um grande esforço, porque “temos que pagar aos músicos, que são profissionais e de excelente qualidade, dar-lhes transporte, alimentação”. Também é necessário “comprar instrumentos para as crianças” da escola, por exemplo. Tudo somado, torna-se num trabalho hercúleo, mas “o amor” a esta causa, faz esquecer todas as contrariedades, contou o presidente.

António Brandão

Para levar este projecto a bom porto, a associação tem contado com a ajuda da “Câmara Municipal, os pais e sócios, assim como a população de Freamunde que tem um grande carinho pela banda e pela associação”, referiu Paulo Querido.

Para além da aniversariante, existe a Escola de Música que funciona com classes de instrumentos, como banda, cordas, tradicionais e aulas de canto. “Flauta, clarinete, saxofone, trompete, trompa, trombone, tuba, bombardino, eufónio, percussão, violino, viola de arco, guitarra, cavaquinho, acordeão e concertina e piano”, são os instrumentos que se ensinam, especifica António Brandão. O professor também avançou ao Verdadeiro Olhar que na calha está o “regresso da Tuna”.

Parada desde 2019, devido à covid, existe há nove anos e, durante o período em que funcionou, fazia uma “média de 11 a 14 actuações por ano em Freamunde, no concelho de Paços de Ferreira e municípios como Lousada, Paredes, Marco de Canavezes, Braga, Mesão Frio, entre outros locais. Aliás, estas incursões representam uma “receita importante” para a instituição, como aconteceu no início do ano, quando o grupo andou a cantar as janeiras.

A Tuna tem elementos com idades que vão desde os 12 até aos 78 anos e “promove o encontro entre os mais novos e os mais velhos”, frisou o docente.

Paulo Querido

Sobre o futuro, o presidente confessa que quer prosseguir pelo caminho do crescimento, com mais elementos “na escola, na banda e na Tuna”. A associação funciona na antiga escola primária e Paulo Querido quer melhorar as condições do espaço, que tem 15 salas, para que todos consigam “fazer mais e em melhores condições”.

Mas enquanto estes projectos não saem do papel, está tudo apostos para começarem as comemorações do aniversário da Banda de Freamunde. Assim, sábado, às 21h30, o grupo sobe ao palco do pavilhão do Centro Escolar local, sob a direcção do novo maestro Vítor Resende. Depois disso, seguem um conjunto de eventos, concertos e actividades, que se vão prolongar ao longo deste ano.

A Banda de Freamunde assinala 200 anos de existência. Mas todos são unânimes em afirmar que o grupo está pronto para enfrentar mais dois séculos, basta continuar o caminho feito até agora, rodeada de “amor, dedicação e muito trabalho”.