Autor de Ermesinde apoia tratamentos de menina com tumor cerebral com os próprios livros

Filipe Bacelo narra a própria história. Foi alcoólico e encontrou na escrita uma "tábua de salvação"

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Fonte: Filipe Bacelo

Filipe Bacelo é escritor e é natural de Ermesinde, em Valongo. Actualmente, trabalha com as editoras Chiado e Emporium, sendo os livros “O Comboio das Nove” e “O amor vence sempre” as principais obras do autor.

Quando conheceu o projecto “Anocas”, que apoia uma menina chamada Ana, portadora de um tumor cerebral desde 2008, nomeadamente pela necessidade de vários tratamentos e terapias, o autor juntou-se à causa.

Através da publicação dos seus livros, Filipe Bacelo teve a oportunidade de colaborar com as necessidades da menina. Já tinha decidido “que iria doar a partir daquela altura os lucros dos livros para ajudar alguém, e encontrei a Ana”, refere. Diz ainda que não ficará por aqui, pretendendo ajudar ainda o Fernando, “um menino de 23 anos que tem paralisia cerebral e precisa de adaptar a carrinha para que se consiga mover com mais conforto”.

Neste momento, 336 euros já foram entregues à Ana, porém, para que tudo funcione, Filipe Bacelo afirma ter “uma gratidão enorme a todos que seguem as páginas nas redes sociais, compram os livros e que partilham os textos”.

Por ter nascido em Ermesinde, Filipe Bacelo diz que “a cidade é perfeita para viver” e acrescenta que adora caminhar pelas ruas da cidade e sentir as histórias das pessoas, realçando o facto de “sentir os olhares, as paixões, as correrias desenfreadas para não perderem o comboio”.

A infância refere-a como “super normal para a época”. Brincava-se nas ruas de terra batida e havia “corridas de bicicleta em pistas improvisadas no monte e partidas de futebol, onde o sonho de ser um astro do futebol mundial viajava na alma”. Alma que mantém como sonhadora até aos dias de hoje.

Sempre gostou de escrever, mas rasgava o que escrevia

O surgimento da paixão pela escrita não se concretizou em idade certa. O autor afirma ter gostado sempre de escrever poemas de amor, sem nunca se ter levado a sério, referindo que “rasgava o que escrevia” e, por isso, hoje não tem nada dessa altura.

Fonte: Salomé Bruçó

Apesar disso, Filipe Bacelo entende que a escrita o salvou, após um momento difícil decorrente na sua vida. Aquando criou “uma página no Facebook e, rapidamente, as pessoas aderiram”. Quando se apercebeu, diz, “já o primeiro livro vinha a caminho”.

Para Filipe, escrever era algo que pensava ser impossível, tanto que, actualmente, é empregado de mesa, descrevendo trabalhar com “vontade e paixão” e gostar do “contacto com as pessoas, de falar e ouvir as suas histórias, no fundo, de aprender”.

O autor diz ter o desejo de ver a escrita como trabalho primário, porém, está consciente que “em Portugal, a cultura vem em último nas escolhas” e “viver somente da cultura em Portugal é um desafio”.

Teve um “amor tóxico” com o álcool durante 13 anos. Escrita foi tábua de salvação

Como toda a gente, Filipe tem uma história e, diferente de muitos, narra-a como inspiração para as suas obras, explicando que foi “alcoólico durante 13 anos, um amor tóxico” que o destruía tanto ao próprio como à família.

Foi “convidado” a sair de casa pela companheira e, vendo-se sozinho e com os dias contados, repetia continuamente a relação que tinha com a bebida, descrevendo esses dias como “vividos na escuridão dos sentimentos, culpando tudo e todos pelas próprias escolhas e atitudes”.

Pôs fim a tudo após ter acordado de “mais uma noite de copos, sentado na beira da cama”, momento em que olhou em volta e viu “o inferno em que a vida estava” e aí, ergueu-se e foi à luta, sozinho, à procura de si próprio.

Hoje, assina os textos como “Lobo Solitário”, lembrança desses dias, da própria luta e da busca do propósito da vida, esclarecendo que se encontrou, perdoou-se e foi pedir perdão à família. Aí “agarrou-se à escrita, e ela foi uma das tábuas de salvação”, servindo-se dela como “inspiração para o primeiro livro”.

O leitor de Bacelo sabe que a mensagem mais forte que os livros procuram passar, e o autor enfatiza, é o “amor incondicional” acrescentando que “mais mensagens podem ser encontradas nos mesmos, como o perdão, a superação, a gratidão e a fé”.

Fonte: Salomé Bruçó

A notícia para publicação da primeira obra, intitulada de “O amor vence sempre”, foi recebida a 27 de Novembro de 2018 e o lançamento realizou-se a 31 Março de 2019.

A par das obras actuais, o autor confirma que a editora tem em sua posse mais dois livros terminados, de pensamentos e poesia, não existindo ainda uma data confirmada para o lançamento. Salienta ainda que está a escrever a segunda parte da obra “O Comboio das nove”, o qual especula vir a tornar-se uma trilogia a ser lançada em 2021.

Neste momento, a próxima apresentação que realizará está agendada para o próximo dia 5 de Setembro, pelas 16h00, no pavilhão 78 da Feira do Livro do Porto, no Palácio de Cristal, juntamente com uma sessão de autógrafos.

Foto: Salomé Bruçó