Autárquicas na região: tudo como dantes

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Não era difícil prever que pouco ou nada mudaria com estas eleições autárquicas na região do Vale do Sousa, incluindo Paredes (que nunca sabemos bem se pertence ao Vale do Sousa ou à Área Metropolitana do Porto).

Contudo, se não houve mudanças nas lideranças dos executivos municipais, os resultados obtidos pelos recandidatos, que eram todos, não deixam aqui e ali de evidenciar alguns equívocos ou surpresas, por muito pequenas que sejam.

Tomemos como primeiro exemplo Penafiel, onde a direita parece ter assentado arraiais e os penafidelenses têm gostado da festa. É que, apesar das duas décadas no poder, Antonino de Sousa, concorrendo ao seu último mandato, conseguiu um resultado histórico. A vitória é tão mais retumbante quanto o PS/Penafiel é, na região, o concelho onde os socialistas mais apostam, sobretudo se tivermos em conta o número de militantes que ocupam cargos de nomeação. À partida, a designação de “boys for the jobs”, como lhes chamam os maldizentes, deveria ter como consequência a projeção de individualidades para, no mínimo, se apresentarem como alternativas à direita, há tanto tempo no poder.

Curiosamente, ou não, é a concelhia de Penafiel do PS de Penafiel que mais cargos de nomeação política ocupa na região. São mais de duas dezenas de militantes. Paradoxalmente, de cada vez que um deles avança, a derrota é sempre maior do que a anterior. Concluir que os erros são apenas de “casting” é diminuir a incompetência dos candidatos. Ironia do destino seria o PS/Penafiel vencer, um destes dias, uma destas eleições com alguém que não fosse do “aparelho”.

Em Paredes, Alexandre Almeida, na primeira recandidatura, passou de 5 para 7 vereadores, dos 9 que compõem o executivo municipal. O PSD perdeu 2. É normal, no primeiro mandato, o partido no poder aumentar a distância para os seus opositores. Se por um lado não nos parece justo menorizar os números da vitória dos representantes socialistas em Paredes, também nos custaria crucificar Ricardo Sousa pela estrondosa derrota. Não era fácil fazer muito melhor, mas era possível.

Sobra-nos a dúvida. O PS atingiu o limite de crescimento no primeiro mandato de Alexandre Almeida? Se sim o PS pode “durar” menos no poder do que os as décadas que duraram os seus principais opositores.

O PSD bateu no fundo nestas eleições? Se sim, como parece, antecipa a recuperação percentual  já a partir das legislativas e pode aspirar, com outros protagonistas, à recuperação da autarquia paredense. Nas próximas eleições será ainda cedo para acontecer, mas pode ser um bom reinício.

O CDS, parceiro envergonhado desta coligação em Paredes, acabou por beneficiar da situação caótica em que se encontrava o PSD, seu aliado. Em pouco mais de 4 anos, o CDS/Paredes passou de 2 para 5 e agora para 11 eleitos nos diferentes órgãos autárquicos, mas, embora tenha subido de 1 para 3 os seus representantes na Assembleia Municipal, ainda não foi desta que elegeu um vereador.

Obteve, contudo, razão para contrariar aos que afirmam que só teve este aumento do número de eleitos graças ao PSD. O número de votos na coligação, na Assembleia Municipal (AM), órgão onde o CDS tinha candidatos em posições elegíveis, a votação foi superior, em cerca de 3.000 votos, à da lista concorrente ao executivo municipal. Disse o líder da coligação PSD/CDS que por poucos votos não elegeu o terceiro vereador. Dirá o representante do CDS que se na lista ao executivo constassem elementos do CDS em lugar elegível, os votos que a coligação teve a mais na AM chegavam e sobravam para manter esse vereador.

Não escamoteemos, no entanto, a realidade. Foi uma grande vitória, mais de Alexandre Almeida do que do PS e foi um enorme desastre do PSD, mais do que uma derrota de Ricardo Sousa.

A CDU acabou por escorregar ainda mais no plano inclinado que se anunciava há vários anos. O lugar ganho na assembleia de freguesia de Cete não servirá de contentamento aos comunistas que há largos anos detinham a presidência da junta de Parada de Todeia e mantinham, há muito, lugares na assembleia municipal que agora perderam. São danos de vulto que dificilmente recuperarão nos próximos tempos.

As novidades dos grupos de independentes – uns mais independentes do que outros- trouxeram a leve esperança da abertura do espectro eleitoral a novos protagonistas. Por nós, sobretudo no poder local, o aumento da importância da democracia participativa, mesmo que em desabono da democracia representativa, é sempre bom sinal.

Por fim, aceite-se que, na região e neste ato eleitoral, poucas eram as mudanças esperadas. A coisa vai aquecer mais, muito mais, nas próximas autárquicas. Será nessa altura que muitos dos atuais presidentes das câmaras da região chegam ao limite dos seus mandatos. Aliás, exceptuando Alexandre Almeida em Paredes, nos outros concelhos da região terão de ser novas as caras a apresentar aos eleitores. E daqui a quatro anos o desafio será maior para o PS, partido que lidera quase todas as câmaras da região.