Autárquicas 2021/Vídeo: Debate com os candidatos à Câmara de Lousada

Aterros existentes no município foram o tema que suscitou maior discussão entre os cabeças-de-lista

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Os dois aterros sanitários em Lousada, o da RIMA e o da Ambisousa, foram os temas que suscitaram maior discussão no debate autárquico que juntou cinco dos seis candidatos à presidência da Câmara Municipal de Lousada. A iniciativa, promovida pelo Verdadeiro Olhar, foi moderada pelo director Francisco Coelho da Rocha e pela jornalista Fernanda Pinto e decorreu no Centro de Interpretação do Românico.  

Participaram na discussão Daniela Leal, cabeça-de-lista pelo Bloco de Esquerda, Mateus Laranjeira, da CDU, Pedro Machado, do PS e actual presidente do executivo, Simão Ribeiro, da Coligação Acreditar Lousada (PSD/CDS) e Susana Moreira, candidata do Chega. Apenas Paulo Sousa, do partido RIR (Reagir Incluir e Reciclar) esteve ausente, por indisponibilidade de agenda.

Foi logo na abertura do debate que os ânimos aqueceram entre os candidatos, quando foi abordada a questão do aterro da RIMA, localizado em Lustosa. A estrutura chegou a receber resíduos provenientes de Itália, o que, na altura, provocou alguma celeuma no concelho. Quando a Câmara tomou conhecimento desta situação, pediu a suspensão da deposição e solicitou esclarecimentos à empresa responsável pelo aterro, a Suma, à Agência Portuguesa do Ambiente, à Inspecção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, assim como a outros organismos.

“O lixo era oriundo da Sicília, uma cidade controlada pela Máfia. Por isso, era desconhecido o que vinha nos contentores para ser depositado no aterro” – Simão Ribeiro

Para Simão Ribeiro esta situação não foi compatível com um município que deveria ter “políticas amigas do ambiente”. Tanto mais que o lixo era oriundo da Sicília, uma cidade controlada pela Máfia”, por isso, era “desconhecido o que vinha nos contentores” e que era depositado no aterro. Para além disso, reforçou, “nada comprova que os lixos que foram (posteriormente) analisados, seriam os mesmos que vieram de Itália”. O social-democrata não deixou também de criticar a edilidade que, tendo um vereador no conselho de administração da RIMA, não conseguiu impedir o que aconteceu. “Ou é incompetente ou conivente”, acusou.

“Esta atitude do PSD foi ignóbil e pouco séria” – Pedro Machado

O socialista Pedro Machado não se conteve e lamentou a postura do maior partido da oposição de Lousada em todo este processo, classificando-a de “ignóbil” e “pouco séria”.

Apesar de reconhecer que, e após análises, o que estava a ser depositado “era material não perigoso”, este processo foi feito “à revelia” da Câmara, salientou.

Daniela Leal reconheceu que a situação foi anómala, sendo que o aterro estando situado em Lousada, “só deveria receber resíduos da região”. Ainda assim, considerou que estas estruturas, representam “um atentado ambiental”. Pela mesma bitola alinhou o candidato dos comunistas, Mateus Laranjeira, ao reconhecer que “os aterros não deviam existir” em Portugal.

“O nosso país é pequenino demais para levar com os lixos dos outros” – Susana Moreira

Já Susana Moreira, do Chega, não se mostrou “convencida com a justificação da Câmara”, acrescentando que “se não havia nada a esconder”, porque é que, na altura, a edilidade se mostrou “tão reactiva”. A terminar, frisou ainda que o nosso país “é demasiado pequenino para levar com os lixos dos outros”.

O aterro do Ambisousa também esteve no centro da discussão e o rosto do PS esclareceu que será selado e “transformado num parque verde”. Aliás, Pedro Machado assegurou que já decorre um concurso público para a primeira fase da selagem do espaço que, dentro de “poucas semanas”, deverá ter luz verde.

De imediato, Simão Ribeiro, que se mostrou “contra” a existência daquela estrutura, acusou morosidade no processo de encerramento. O aterro “tem três décadas e há muito que devia estar selado”.

 “Ouço esta conversa da selagem há oito anos e começa a ser difícil levá-la a sério” – Simão Ribeiro

Aliás, disse ainda que ouve “esta conversa da selagem há oito anos” e “começa a ser difícil levar a sério” este posicionamento, sobretudo porque “surge no final de mandato”. Pedro Machado não deixou passar em branco as palavras de Simão Ribeiro e lembrou que o “PSD sempre votou a favor do aterro”.

A cabeça-de-lista do BE mostrou-se “feliz com a selagem e requalificação do espaço”. Reconhecendo, no entanto, que o parque verde, “não vai compensar”, mas apenas “amenizar” o sofrimento da população. Ainda assim, Daniela Leal defende que o município deveria “dar voz às pessoas”, de forma a saber o que pretendem como “restituição” do que lhes foi retirado ao longo das décadas.

Susana Moreira também legitimou a existência de “problemas de saúde” causados pelo aterro, porque retirou “qualidade de vida” às populações. Por isso, deveria existir uma “indemnização para cada um dos habitantes” daquela zona, defendeu.

Instados pelos moderadores, sobre a futura Área de Acolhimento Empresarial de Caíde de Rei, todos foram unânimes em considerá-la uma mais-valia para Lousada.

Ainda assim, Simão Ribeiro reiterou que é uma boa medida, mas que “peca por tardia”, porque “há mais de 30 anos que é empurrada pelo PS”.

Pedro Machado não desarmou, destacando que Lousada “é cada vez mais procurada”, não só pelas pessoas, mas pelos empresários, congratulando-se com o facto de ser o município com “menor taxa de desemprego”.

“Nos últimos dias tive uma reunião com um investidor, que, a curto prazo, quer fazer um investimento de 40 milhões em Lousada e que vai criar entre 60 a 70 postos de trabalho” – Pedro Machado

E até avançou, em primeira mão, que, há poucos dias, teve uma reunião com um investidor que, a curto prazo, quer fazer um investimento de “40 milhões de euros” em Lousada, o que vai permitir criar “entre 60 a 70 postos de trabalho” no concelho.

A nova área empresarial de Caíde de Rei é aplaudida pelo candidato da CDU, mas Mateus Laranjeira espera apenas que os interesses dos trabalhadores sejam acautelados.

“É preciso criar um gabinete de apoio aos trabalhadores, para que não sejam explorados” – Daniela Leal

Também a bloquista sublinha a necessidade de “ajudar os trabalhadores”, não só da futura zona industrial, mas de todo o concelho, de forma a conseguirem fazer “valer os seus direitos”, através da criação de um Gabinete de Apoio, para que “não serem explorados”. E lembrou o que sucedeu em tempos de pandemia, sobretudo no sector têxtil, quando “os trabalhadores em lay-off eram chantageados e obrigados a trabalhar”.

Outro assunto quente chamado à discussão, foi a “discriminação partidária”, alegadamente exercida pelo partido no poder, o PS. O PSD acusa a autarquia de tratar de maneira diferente as freguesias lideradas pelos social-democratas.

“É necessário desmontar o núcleo duro do PS e PSD existente em Lousada” – Susana Moreira

Susana Moreira tomou a palavra e falou da necessidade de “desmontar o núcleo duro”, existente em Lousada, constituído pelos dois maiores partidos do concelho. A candidata do Chega lamentou que as outras forças políticas “não tenham voz” e até denunciou o facto de “as pessoas terem receio de dar a cara pelo Chega”, por temerem represálias.

“A Senhora não é de cá e incumbiram-na de vir para aqui fazer propaganda” – Pedro Machado

Pedro Machado aproveitou o facto de Susana Moreira não ser de Lousada e disse: “a senhora não é de cá e incumbiram-na de vir para aqui fazer propaganda”, aluindo ao facto de a candidata do Chega ser de Vila Nova de Gaia e não de Lousada.

Já Daniela Leal manteve-se distante desta troca de galhardetes e preferiu realçar que Bloco de Esquerda “não faz política de oposição”, preferindo “as sinergias que sirvam os interesses da população”. “Não disputo, mas acrescento”, sublinhou.

Pedro Machado justificou-se, lamentando que existam presidentes de Junta que “são instrumentalizados para fazerem oposição”. E até deu exemplos de autarcas de freguesias que “afixam comunicados em cafés”. Mas, e a encerrar o assunto, disse apenas que “não estaria a liderar a Câmara Municipal se fosse sectário”.

E depois de alguma troca de ‘galhardetes’, o debate foi direccionado para o assunto da pandemia, que dominou o último ano e meio de mandato. Pedro Machado disse estar de “consciência tranquila” em relação à actuação do município, perante aquela circunstância.

Mateus Laranjeira dá uma nota de “razoável” ao trabalho do município nesta matéria, enquanto Simão Ribeiro lamentou o facto de a edilidade ter “ignorado as propostas do PSD para combater” o vírus.

“Eleger um elemento da CDU traria muitos benefícios para a comunidade” – Mateus Laranjeira

Na última parte do debate, os candidatos esgrimiram argumentos para convencer os lousadenses a votarem neles. Mateus Laranjeira sublinhou a necessidade de “eleger um elemento da CDU, porque traria muitos benefícios para a comunidade”. Já Pedro Machado acredita que o PS vai conseguir eleger mais um elemento para o executivo, porque “Lousada está na moda e no mapa”, devido ao trabalho do executivo socialista, algo que, considerou, a população vai saber reconhecer. A “lógica da continuidade” e o facto de as pessoas “conhecerem” o seu trabalho são tidos pelo candidato como uma mais-valia.

E terminou, dizendo que não vive da política, não fez carreira na política e nunca participou em juventudes partidárias. Simão Ribeiro acusou o toque e acusou a edilidade de “arrogância política”, considerando que será “presidente da Câmara por vontade dos lousadenses”.

“Aproveitar a centralidade de Lousada e apostar numa “nova rede de transportes” são alguns dos projectos que fazem parte do caderno de encargos do candidato.

Já Susana Moreira preferiu apelidar todos os candidatos do Chega de “heróis”, porque não tiveram medo em dar a cara pelo partido, em cada um dos municípios portugueses. “Não tenho receio de lutar pelos interesses” da população local, frisou.

Para Daniela Leal há que trabalhar para conquistar “uma sociedade com todas as cores”, ou seja, onde caibam todos. Além da inclusão e da diversidade, o BE defende um concelho, onde “todos tenham voz” e que a autarquia sirva para “ajudar e trabalhar” em prol dos lousadenses e que não se gaste energia numa “oposição feroz”.

Para além destes assuntos, outros foram esgrimidos no debate que poderá assistir no site do Verdadeiro Olhar.