Os autarcas de Valongo, Paredes e Gondomar levantaram várias dúvidas às alterações das linhas de transportes, no âmbito da concessão dos transportes para 2020, em reunião do Conselho Metropolitano do Porto realizada, esta sexta-feira de manhã, no Museu Municipal de Valongo.

Os autarcas suscitaram reservas quanto às alterações propostas pelo município do Porto, nomeadamente, a mudança de términos do Campo 24 de Agosto para o Dragão.

Os três autarcas avançaram mesmo que só tiveram conhecimento das alterações propostas em Dezembro de 2018.

O presidente da Câmara de Paredes,  Alexandre Almeida assumiu que o município, à semelhança  da posição que tinha sido vertida pelos seus autarcas congéneres de Valongo e Gondomar, vai reequacionar as alterações das linhas e a alteração de cenário.

“Enquanto o passe único não for uma realidade, e estamos a falar de um período de mais três ou quatro meses, esta alteração constitui um transtorno para a população”

“O concurso estava a ser preparado num pressuposto das linhas terminarem no Campo 24 de Agosto. Há esta intenção de alteração das linhas para o Dragão, o que no caso de Paredes constitui um problema porque ainda não temos o Andante em funcionamento. Com o passe único isto deixará de ser um problema será uma questão de “timing” porque as pessoas chegando ao Dragão com o passe único poderão deslocar-se de Metro para onde quiserem. Enquanto o passe único não for uma realidade, e estamos a falar de um período de mais três ou quatro meses, esta alteração constitui um transtorno para a população de Paredes porque tem um bilhete para ir até ao Dragão, mas depois teria de dispor de outro para circular no Metro”, disse, salientando que tudo isto terá de ser reequacionado e debatido pelo município em sede de executivo e Assembleia Municipal.

O presidente da Câmara de Valongo, José Manuel Ribeiro, realçou, também, que só teve conhecimento das alterações em Dezembro, confirmando que a alteração das linhas vai acabar por afectar a vidas das pessoas.

“Neste momento perante uma decisão unilateral de um dos municípios poderá estar em causa o trabalho desenvolvido há mais de um ano na preparação de um concurso internacional para os transportes rodoviários. Estamos a falar de uma área que engloba os três concelhos que tem cerca de 400 mil pessoas, um quarto da população da Área Metropolitana do Porto vive nesta zona”, expressou, salientando que os três municípios vão ponderar  as alterações introduzidas juntamente com a Área Metropolitana.

“Uma Área Metropolitana só é Área Metropolitana se as pessoas forem respeitadas”

O chefe do executivo de Valongo esclareceu que esta semana endereçou uma carta ao presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, a apelar ao bom-senso.

“Numa altura, em que temos compromissos nacionais que vão no sentido de reduzir os carros nas cidades e aumentar o acesso e circulação dos transportes públicos, no Porto é tudo ao contrário”, acrescentou, reconhecendo que os munícipes que tiverem de mudar de um transbordo no Dragão vão ter de dispor de mais meia hora. “Isto afecta e perturba a vidas das pessoas que têm filhos e têm de os levar à escola, têm que ir para o trabalho, têm que estudar. Uma Área Metropolitana só é Área Metropolitana se as pessoas forem respeitadas. Da mesma forma que é possível manter à SCTP a linha até ao centro do Porto porque é que não é possível manter as linhas privadas? Tem que imperar o bom senso, caso contrário entramos numa situação de discriminação em que uns são cidadãos de primeira e outros de segunda”, frisou.

José Manuel Ribeiro defendeu, também, que uma solução boa não pode ser uma imposição de uma só parte. “Não podemos ter uma visão da cidade fechada. A Área Metropolitana do  Porto com os seus cerca de 1 milhão e 700 mil habitantes é forte porque tem 17 municípios. A cidade do Porto tem pouco mais de 200 mil habitantes e só é forte pelos restantes habitantes que durante o dia duplicam a circulação, se deslocam aos equipamentos centrais que estão centrados na cidade do Porto. Os decisores políticos têm que encontrar soluções que não afectam a vida diária das pessoas”, expressou.

“Teremos que  perceber se ao integramos o concurso global não estamos a prejudicar a população e a onerar ainda mais a câmara porque a receita será repartida por ligações”

Também o presidente da Câmara de Gondomar, Marco Martins, admitiu que as alterações das linhas e participação no concurso global, como está definida, pode prejudicar a população e a onerar ainda mais a câmara.

“Vamos ponderar, dadas as novas circunstâncias se vale a pena ir ao concurso global ou se devemos ir sozinhos ou até com municípios vizinhos, até porque o novo cenário coloca em causa, o conforto, a tranquilidade e a segurança. Para a semana irei falar com os meus colegas presidentes de câmara e falarei com os operadores. Se as linhas são só nossas e não vão para fora do território não há interesse em ir ao concurso global. Teremos que ter em conta e perceber se ao integramos o concurso global não estamos a prejudicar a população e a onerar ainda mais a câmara porque a receita será repartida por ligações. Se for uma ligação municipal a receita é integral daquela unidade territorial, o passe único poderá minimizar eventuais s prejuízos não fazendo parte do concurso”, atestou.

 “É preciso ponderação, bom senso para conseguirmos uma solução equilibrada”

Já o presidente do Conselho Metropolitano do Porto e da Câmara de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, disse-se optimista. “Os três autarcas levantaram problemas, preocupações, que estão a ser dirimidas pela Unidade Técnica de Serviço. Na próxima segunda-feira convidarei os colegas para uma reunião de carácter informal. É preciso ponderação, bom senso para conseguirmos uma solução equilibrada”, assegurou.

Quanto aos terminais, Eduardo Vítor Rodrigues assumiu que são um problema que decorre da forma como se organiza a relação dos STCP com os privados, mas, também, como se organiza o território de cada um e neste caso a cidade do Porto.

“É evidente que a cidade do Porto tem vindo a sofrer uma crescente intensidade de circulação de transportes públicos de operadores das zonas periféricas e isto tem de se reequilibrado”, atestou.

O presidente do Conselho Metropolitano do Porto manifestou, também, entender as preocupações do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, relacionadas com a intensidade da circulação, as questões ambientais e a fluidez de trânsito.

“Sempre que existirem condições para que haja terminais suficientemente bons, transferência intermodal sem alteração de tarifário, temos todas as condições para que as coisas se façam tranquilamente. Tenho recebido da parte de Rui Moreira toda a abertura para encontramos soluções de consenso. E isso vai acontecer já na próxima reunião da Unidade Técnica de Serviço”, sustentou, declarando que os municípios vão acabar por participar no concurso porque interessa a todos.

“Vai ter de haver o momento do diálogo em que cada um perceba a realidade dos outros. Enquanto não percebemos a situação concreta do Porto, vamos sempre achar que isto são caprichos e não são. Isto são preocupações  genuínas. O Porto não é uma cidade muito grande do ponto de vista territorial, mas tem intensidade elevada de autocarros e nem todos cumprem com as normas e os critérios ambientais”, asseverou, constatando que com a implementação do passe único seja uma realidade no primeiro trimestre de 2019 e o concurso possa avançar e os privados encontrem razões suficientes para virem a jogo.

“Estamos a definir alguns critérios que estão fechados como a idade média das viaturas, o prazo do concurso, e é fundamental que esse conjunto de critérios qualidade nos transportes, acessibilidade para pessoas portadoras de deficiência sejam garantidos. Queremos autocarros inclusivos sem colocar em causa a incapacidade dos operadores fazerem uma renovação integral da sua frota”, atalhou.