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Dois atletas da região – Armando Oliveira, de Lousada, e Augusto Oliveira, de Paredes – integram uma lista de nomes de portugueses que já correram “50 maratonas ou mais”.

Actualizada a 31 de Julho, a lista inclui já 78 atletas e foi divulgada pelo site correrporprazer.com.

Segundo os dados, o atleta português com mais provas concluídas é Tiago Dionísio, de Lisboa, com 740 maratonas ou mais.

Augusto Oliveira, de 49 anos, de Paredes, surge na lista com 100 maratonas ou ultramaratonas concluídas e Armando Oliveira, de 65 anos, de Lousada, com 65 maratonas ou ultramaratonas no currículo.

De acordo com os autores da lista, Pedro Amorim e António Belo, o documento é actualizado mensalmente. Só entra na lista quem tiver no mínimo 50 maratonas ou ultramaratonas concluídas. Ou seja, “implica ter concluído uma prova oficial na distância de 42,195 quilómetros ou superior”, “uma prova cujo resultado possa ser confirmado através de consulta das classificações publicadas ou, principalmente para as mais antigas, disponibilizadas pelas organizações”.

Nunca foi primeiro, nunca foi o último e nunca desistiu

Foto: DR/Cristina Moreira Photography

Armando Oliveira é natural de Cristelos e vive em Silvares. Trabalhou desde os 12 anos e é um empresário de construção civil reformado.

Chegou a jogar nos juniores do futebol e praticou hóquei em campo durante 14 anos, mas nunca foi “grande jogador” porque não tinha hipótese de ir aos treinos, por trabalhar fora e só regressar ao concelho ao fim-de-semana.

Depois do 25 de Abril, começou a dedicar-se ao atletismo. Era uma modalidade em que podia treinar “à hora que desse jeito”. Na tropa fez parte da selecção de atletismo, também sempre integrou a equipa dos Bombeiros de Lousada, onde foi voluntário 30 anos.

“Nunca tive treinador, nem nunca ninguém me orientou, mas sempre gostei de provas longas”, conta o lousadense. A primeira foi a meia-maratona da Nazaré. Participou depois na primeira maratona de Lisboa e nunca mais parou. Fez maratonas em Portugal e também em Londres, Barcelona, Sevilha, Madrid, Roma, República Checa, entre outras. Sempre a expensas próprias. Eram as suas férias: “Costumo dizer que sou um ‘maraturista’. A maratona era as minhas férias”.

Pelo meio, foi operado ao tendão de Aquiles e o fisiatra disse “que não poderia correr mais a maratona”. “Depois disso fiz mais 16”, salienta. Também já foi operado ao menisco, mas nem isso o parou. Fazia uma média de três a quatro maratonas por ano e também fez nove ultramaratonas, a mais longa com mais de 84 quilómetros. Em casa tem “um museu” de taças e medalhas.

Durante alguns anos “colou-se” aos ‘Porto Runners’ e fez grande amizade com grandes nomes do atletismo, como Aurora Cunha, Rosa Mora e António Pinto, entre outros. Depois ajudou a fundar o Lousada Runners, sigla pela qual compete. Também pratica BTT. Todos os dias faz 10 quilómetros de corrida ou ciclying. “Parado fico doente”, brinca.

Foto: DR

O lousadense realça que sempre foi um “amador” e “anónimo” e que ao contrário dos profissionais depois de longas provas “com muitos quilómetros nas pernas” tinha de estar pronto para, na segunda-feira, ir trabalhar ou, muitas vezes, fazer voluntariado nos bombeiros.

“Tenho uma máxima na corrida: nunca fui primeiro, nunca fui último e nunca desisti”, frisa Armando Oliveira. “Ia nem que fosse de rastos, mas tinha de concluir. Tenho uma paixão muito grande pelas maratonas”, afirma.

Agora, acredita, vai ter de abrandar o ritmo, por questões de saúde.

A corrida devolveu-lhe a vida

A história de Augusto Oliveira já é conhecida. Agora com 49 anos, o paredense viveu tempos difíceis, marcados pelo álcool e drogas e teve um acidente que quase o levou à morte, mas conseguiu dar a volta ao destino através da corrida, que foi a sua terapia e uma forma de voltar à vida.

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Depois de uma adolescência e juventude preenchida por muita actividade física e desportiva, tendo sido atleta de alta competição de canoagem de águas bravas, o paredense caiu na dependência de álcool e drogas e foi alvo de hospitalizações e desintoxicações, chegando a um estado de “desânimo e declínio físico, mental e emocional”. Sofreu um grave acidente de mota e seguiram-se um mês em coma, duas cirurgias e três tromboses venosas profundas. À família foi dito que, se sobrevivesse, poderia ficar dependente de terceiros para toda a vida.

Augusto Oliveira atravessou um período de recuperação lento, em que chegou a ultrapassar os 100 quilogramas e, só após “três anos de fisioterapia, fez o seu primeiro quilómetro”.

Foi aí que encontrou, na corrida e trail, sobretudo, a vontade de se reabilitar. Segundo a lista, já fez 100 maratonas e ultramaratonas. Entre elas estão as mais conceituadas provas do Mundo: UTMB – Ultra Trail Mont Blanc – 168 km, Ultra Trail do Pirineu – 110 km, Ronda dels Cims – 170 km e no Tor des Geants – 338 km e BadWater – 217 km, como Verdadeiro Olhar já deu a conhecer em várias reportagens.

Recentemente lançou o livro “Correr Fez-me livre – Dos cuidados intensivos à ultramaratona” em que retrata a sua experiência, numa obra que é “uma espécie de prova de 340 quilómetros” em que vai saltando entre a história da sua vida e as competições e o que sente durante as provas.

A corrida, assume, foi a sua melhor terapia: “Desde que comecei a corrida já tirei uma licenciatura, já conquistei a minha filha, muita coisa se passou desde os meus 105 quilos até à primeira prova de 100 quilómetros”, explica o paredense, funcionário dos CTT que se dedicou nos últimos anos às ultramaratonas.  

Foto: DR/Matias Novo