Inauguração - 1

Se há uma semana destacámos as figuras e acontecimentos que mais marcaram positivamente 2024, agora chega a hora de revelar o outro lado da moeda. Os factos e as decisões que, no nosso entender, foram lamentáveis e prejudicaram a região. Situações que exigem reflexão e responsabilidade, porque a história constrói-se tanto pelos bons exemplos como pelos maus.

IC35: As Obras de Santa Engrácia do Interior Norte

Prometido há décadas, o Itinerário Complementar 35 (IC35) deveria ser uma ligação estruturante entre Penafiel e Sever do Vouga, atravessando os concelhos de Castelo de Paiva, Arouca e Vale de Cambra. A sua construção foi sempre apresentada como “prioritária” pelos vários governos, mas a realidade é que, ao fim de décadas, apenas 3 dos 70 quilómetros previstos estão construídos.

A necessidade da obra vai muito além do impacto económico que poderia trazer à região. A insegurança da Estrada Nacional 106 já custou mais de 90 vidas desde que o IC35 foi anunciado como essencial. Pior ainda, em 2001, após a tragédia da queda da Ponte de Entre-os-Rios, a Assembleia da República aprovou uma resolução que atribuía caráter de urgência ao projeto. Mas 24 anos depois, continua-se a adiar.

Mais recentemente, o IC35 foi incluído nos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o que parecia finalmente garantir a sua conclusão. Mas há um problema: as verbas europeias só podem ser utilizadas se a obra estiver concluída até 2026. E, neste momento, com a consulta pública só agora realizada, é difícil acreditar que os 12 quilómetros até Entre-os-Rios possam ser construídos a tempo. Se olharmos para o histórico da obra, com apenas 3 quilómetros feitos em 24 anos, os números falam por si.

Se há um verdadeiro exemplo de como se eterniza uma promessa e se empurra um problema para os próximos anos, o IC35 é, sem dúvida, um caso exemplar.

ADISCREP vs. Câmara Municipal de Penafiel: Entre Cadeados e Guerra Política

Foto: ADISCREP (DR)

O diferendo entre a ADISCREP, entidade que gere a Universidade Sénior de Penafiel, e a Câmara Municipal não foi apenas um simples litígio sobre um edifício. Este caso simboliza uma batalha política que se intensificou ao longo do último ano, com claros contornos de perseguição a figuras ligadas ao antigo presidente da Câmara, Alberto Santos.

O despejo de cerca de 80 alunos seniores das instalações que ocupavam diariamente não se deu por falta de espaço ou necessidade urgente de requalificação. Foi um movimento estratégico, inserido numa espécie de “limpeza política”, onde figuras ligadas ao atual presidente da Comissão Política do PSD local passaram a estar na mira da autarquia.

O edifício foi cedido à associação por um período de 20 anos, mas de um momento para o outro, a autarquia decidiu retomá-lo para instalar serviços municipais. Cadeados foram colocados, redes erguidas, e os alunos ficaram sem o seu espaço de convívio e aprendizagem. Quem perdeu com este braço de ferro político? Não foram os partidos. Foram as dezenas de seniores que encontravam ali um refúgio contra a solidão e um espaço de cultura e aprendizagem.

Este caso não terminou. Mas já revelou muito sobre a forma como a política pode ser usada não para melhorar a vida das pessoas, mas para ajustar contas.

Câmaras de Paredes e Penafiel: 40 Trabalhadoras Despedidas Sem Justificação

Foto: STTEPS (DR)

Numa altura em que tanto se fala de precariedade laboral, a decisão das câmaras municipais de Paredes e Penafiel de não integrar as 40 trabalhadoras de limpeza dos centros de saúde é, no mínimo, vergonhosa.

Até então, estas trabalhadoras garantiam a limpeza dos centros de saúde da região através de contratos com empresas externas, mas com a internalização do serviço, esperava-se que fossem absorvidas pelos quadros municipais, tal como manda a prática e até a lei. Em vez disso, foram simplesmente dispensadas, sem qualquer perspetiva de continuidade.

Não se trata de casos de funcionários públicos acomodados, mas de trabalhadoras com baixos salários e contratos precários, que há anos garantiam um serviço essencial. A decisão das autarquias não só foi socialmente insensível, como também comprometeu a estabilidade destas mulheres, que viram as suas vidas viradas do avesso sem qualquer justificação plausível.

Encerramento de Fábricas de Confeções: O Vale do Sousa a Perder Força

Foto: Pexels/Anna Shvets (DR)

O ano de 2024 trouxe más notícias para a indústria têxtil do Vale do Sousa, com o encerramento de várias fábricas de confeções, particularmente em Lousada. Empresas históricas fecharam portas, deixando centenas de trabalhadores no desemprego e contribuindo para o declínio de um setor que já foi um dos motores da economia local.

Os motivos são vários: aumento dos custos de produção, concorrência desleal de mercados asiáticos e a falta de um plano estratégico que permita a estas empresas modernizar-se e competir no mercado global. O mais preocupante é a ausência de uma resposta eficaz do Governo, que continua a assistir ao declínio da indústria sem apresentar medidas concretas para travar este ciclo de encerramentos.

Se esta tendência continuar, a indústria têxtil da região, outrora um pilar da economia local, pode estar condenada.

ETAR de Arreigada: O Caos Ambiental Sem Solução

A ETAR de Arreigada, em Paços de Ferreira, continua a ser um problema ambiental grave. Desde 1993, altura em que foi construída, que os problemas se avolumam. Em 2016, um investimento de 5,1 milhões de euros prometia resolver as falhas, mas os resultados foram desastrosos.

Os maus cheiros continuaram, a poluição no Rio Ferreira manteve-se e a solução apresentada – uma ETAR provisória – é apenas mais um remendo num problema que se arrasta há décadas.

O que está previsto agora? Mais uma ampliação, desta vez de 15 milhões de euros. Mas até quando vamos continuar a despejar dinheiro público numa estrutura que nunca funcionou corretamente?

Câmara de Paredes: Negócios Confusos e Perguntas Sem Resposta

A autarquia de Paredes esteve envolvida em vários negócios controversos ao longo do último ano. Primeiro, a polémica da Unidade de Valorização Orgânica de Baltar, uma obra de 17,5 milhões de euros envolta em irregularidades ambientais. Depois, o escândalo da venda de terrenos que afinal não pertenciam à autarquia, apanhando de surpresa vários proprietários que viram as suas árvores abatidas e os seus terrenos ocupados sem qualquer aviso.

Entretanto, o vereador que há altura dos factos era responsável pelo pelouro demitiu-se sem dar grandes explicações, mas continua a ser presença assíduas em quase todos os eventos municipais. A falta de clareza sobre estas decisões levanta questões sobre a transparência da autarquia.

Os Dias Finais de Antonino de Sousa: Política de Terra Queimada e Culto da Personalidade

Se havia dúvidas sobre a política de terra queimada de Antonino de Sousa, presidente da Câmara Municipal de Penafiel, os últimos meses de 2024 dissiparam-nas. Desde o confronto com a ADISCREP, passando pelo afastamento de autarcas ligados ao PSD local, até à forma como geriu os conflitos internos, a saída de Antonino não está a ser propriamente pacífica.

E, como se não bastasse, o autarca ainda arranjou tempo para dar início ao “culto da personalidade”, batizando várias infraestruturas com o seu nome. Entre elas, destaca-se o Pavilhão Antonino de Sousa, numa tentativa de eternizar a sua passagem pelo poder.

Em Penafiel, 2024 ficou marcado pelo fim de um ciclo político atribulado, que deixa marcas profundas no concelho.

Estas foram as piores figuras e factos de 2024, numa região que merece mais, mas que continua a ser prejudicada por decisões erradas, falta de visão e políticas de curto prazo. O VERDADEIRO OLHAR continuará a acompanhar de perto estes e outros temas, para que não caiam no esquecimento.

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