Há três décadas, ser de Lustosa significava ter de enfrentar o preconceito instalado da aldeia retrógrada. Quem, como eu, estudou em Vizela nas décadas de 80 e 90 sabe do que falo. Os estudantes para frequentarem o 5.º ano tinham de se deslocar e o caminho mais fácil tinha como destino Vizela, já que a rede de transportes era mais eficiente, por servir também os muitos trabalhadores que se deslocavam para laborarem nas empresas têxteis. Para além de enfrentarmos o “desterro” forçado, com apenas 10 anos, sem os carros dos papás a levar-nos ao portão da escola, depois de chegarmos à paragem, a pé, e de viajarmos, por vezes, mal acondicionados, chegávamos finalmente à escola. Este percurso de cerca de 8 km era suficiente para que os colegas nos considerassem longe do progresso e da civilização. Éramos da terra da carqueja, como diziam, pejorativamente.
Os anos passaram. A nova escola em Lustosa passou a receber os alunos até ao 9º ano, primeiro, e depois até ao décimo segundo. A relação “obrigatória” com Vizela ficou mais ténue e creio que a freguesia reforçou a relação com Lousada, também em virtude da rede viária, que possibilitou uma aproximação física importante, na medida em que o número de pessoas que dependem da rede pública de transportes é menor, pelo recurso ao carro particular.
Hoje, temos uma freguesia em desenvolvimento, já com algumas infraestruturas importantes e expectante quanto ao surgimento de outras que contribuirão para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Mas temos também aquilo que sempre tivemos: gente capaz e empreendedora! É com muita satisfação que vejo lustosenses destacados em várias áreas: desportiva, empresarial, em várias profissões, no país e no estrangeiro…
O trabalho associativo e colaborativo em prol da sociedade são exemplos da vitalidade social de Lustosa. As festas populares realizadas nos últimos anos são disso exemplo, quer as realizadas em honra de S. Gonçalo, quer em honra de S. Tiago. Este ano foi particularmente marcante, pois tivemos grandiosos espetáculos e excelentes comissões que prestigiaram e muito a freguesia. É prova de que, quando as pessoas se unem sem atender a objetivos pessoais e protagonismos, se consegue fazer um excelente trabalho. É esta a fibra dos lustosenses!
Os próximos anos mostrarão a força das novas gerações. Teremos, certamente, muito orgulho nos nossos jovens e naquilo que construirão. A “terra da carqueja” tem muito mais do que esta planta que, diga-se de passagem, tem propriedades medicinais reconhecidas.