Dentro de pouco tempo, a comunidade cigana de Paredes será realojada em novos apartamentos, construídos pela Câmara Municipal, mesmo junto ao local onde reside há quase três décadas — em barracas, sem quaisquer condições de dignidade, salubridade ou conforto. E é bom que se diga isto com clareza: trata-se de um passo civilizacional.
Como já seria expectável, este realojamento tem gerado reações intensas, apaixonadas, por vezes desinformadas e, em alguns casos, tristemente marcadas por discursos extremistas e populistas. Vivemos tempos em que se tenta alimentar uma divisão social com base em preconceitos antigos e em ideias simplistas — e perigosas.
A pergunta mais habitual, tantas vezes feita em tom inflamado, é: “Por que é que são eles a ser realojados e não outros portugueses que também precisam?” É uma pergunta legítima, desde que feita com honestidade. Mas, talvez devêssemos reformulá-la: por que razão não eles? Ou melhor: por que razão não estes?
É que, ao contrário do que se insinua, os ciganos que vivem naquele bairro em Paredes são portugueses. São nascidos e criados cá, a maioria deles na cidade de Paredes. Alguns andaram na escola com os meus filhos, outros com os seus. Falam a mesma língua, partilham as mesmas ruas e certamente algumas das nossas preocupações. Têm uma cultura diferente? Têm. Mas são parte da nossa comunidade. E, na sua maioria, trabalham e criam os filhos. Como qualquer um de nós.
O problema do realojamento daquela comunidade cigana não começou ontem. Já tem cerca de 30 anos. E importa recordar que houve quem optasse por vedar aquela zona com chapas metálicas para esconder a miséria. A estratégia, à época, foi tapar o problema — não o resolver.
Hoje, finalmente, há uma solução. É legítimo debater se esta será a melhor solução. Eu próprio, como cidadão mais ao menos atento, tenho dúvidas quanto ao modelo escolhido. Estes homens, mulheres e crianças viveram sempre em casas de madeira ou de zinco, com espaço exterior, com fogo ao centro. Talvez, por isso, o modelo proposto pelo anterior presidente da câmara, com moradias unifamiliares e espaços abertos, fizesse mais sentido. A opção do atual executivo foi outra: apartamentos. Imagino que tenha havido estudos, pareceres ou fundamentos técnicos que sustentem essa decisão. Não os conheço. Mas gostava de os ver partilhados com a população.
A outra discussão — inevitável — é a do custo. Já ouvimos o candidato do PSD, Mário Rocha, alertar para o que considera ser um preço excessivo por estas construções. E talvez tenha razão. Mas essa é uma discussão política. O importante — o essencial — é que, ao fim de três décadas, famílias inteiras vão finalmente sair daquelas barracas sem dignidade. E isso não tem preço.
Há coisas que nos devem unir, e não dividir. E este é um desses casos. Podemos discutir o modelo, podemos criticar o custo, podemos querer mais transparência e melhor planeamento. Mas não podemos, nem devemos, colocar em causa o direito básico de qualquer ser humano a viver com dignidade.
O assunto não é a construção de apartamentos de habitação social. Trata-se de construir um gesto de humanidade.
Por isso, o realojamento da comunidade cigana de Paredes é motivo de orgulho — não de vergonha.
E então que custou 4M€, cerca de 45€ por habitante do concelho de Paredes. Espero que a comunidade cigana se sinta muito bem vinda e se junte mais à comunidade portuguesa, nas coisas boas mas também nas regras básicas e de senso comum.
A câmara municipal tem a responsabilidade de rentabilizar este investimento e não o colocar às costas dos munícipes. Não é correto serem pais para uns e padrastos para outros, é preciso criar os incentivos corretos.
Ainda um aparte, não é por os incêndios serem maus que vamos inundar todos o país com 1m de água, ambas as coisas são opostas e ambas são más, o oposto de um coisa má não é garantidamente uma coisa boa, percebem o que quero dizer?