O mundo não se encontra em paz… Na verdade, o conflito começa em cada um de nós e a prova disso é que, cada vez mais, há violência e demasiados comentários nas redes sociais carregados de intolerância, insultos e extrema violência verbal.
Hoje em dia, uma boa parte da população tem acesso à internet e usa as redes sociais para expressar as suas opiniões ou, então, para pesquisar e obter informações. Esta mudança de comportamento alterou as relações interpessoais, anteriormente baseadas, por excelência, no contacto presencial.
Por um lado, as redes sociais, apesar de serem privadas, permitiram, enquanto fenómeno de massas, romper com a compressão do espaço público, que o tornava acessível praticamente apenas a uma elite, cuja opinião nem sempre coincidia com a da maior parte da população. Por outro lado, as redes sociais também se tornaram um meio fácil de manipulação e formulação de opiniões. Se, porventura, se esperava que, através desta forma de comunicação, houvesse um clima de partilha, discussão de ideias de forma salutar, união e conhecimento, conclui-se que, na verdade, muitas vezes, constituem um verdadeiro campo de batalha verbal, sob a forma de comentários.
Efetivamente, torna-se mais fácil para o ser humano ter comportamentos insultuosos quando não se encontra na presença do outro, porque, uma vez que não vai ter de encarar a sua reação, sente-se mais à vontade e “protegido” para dizer o que quer e lhe apetece, muitas vezes de uma forma menos apropriada.
Na realidade, escondidas atrás de um monitor, algumas pessoas não filtram os seus comentários negativos e acabam por ser, muitas vezes, agressivas. Basta percorrermos os comentários a algumas publicações, sobretudo de cariz desportivo, religioso, político ou sobre a vida de figuras públicas…
Quando alguém faz uma publicação sobre um assunto com o qual não concorda ou que, por algum motivo, lhe causa revolta ou frustração, é muitas vezes criticada num tom irónico e mordaz. Comentário após comentário, rapidamente começam os insultos e surge uma bola de neve de intolerância e conflito. E isto acontece na maioria das vezes com pessoas que nem sequer se conhecem, mas que, mesmo assim, se tornaram rivais, sentindo desprezo umas pelas outras.
É aqui que, na minha opinião, mora o perigo…
Há uma liberdade que não pode ser confundida com liberdade de expressão, onde se insulta, se agride verbalmente, se magoa, sem noção de que, do outro lado, estão pessoas como nós.
Nestes casos, parece-me que as redes sociais são cada vez mais utilizadas para descarregar frustrações, sem nos preocuparmos com o impacto que isso possa causar em quem lê ou a quem são dirigidas as críticas. Estas situações são sempre desagradáveis e, mesmo que não nos envolvam, acabamos por nos deixar afetar emocionalmente…
Recentemente, numa palestra, ouvi a expressão “pessoas tóxicas” aplicada às pessoas com discursos pessimistas e críticos acerca de tudo quanto os outros fazem, afetando o nosso estado de espírito e limitando a nossa ação. Concordo cada vez mais com esta ideia… Não se trata de crítica construtiva, que poderia ser muito positiva, mas de crítica que visa denegrir algo ou alguém, promover a humilhação…
Como disse Oscar Wilde, “A Crítica, tanto na mais elevada quanto na mais baixa das suas expressões, não passa de uma forma de autobiografia”. Neste sentido, é cada vez mais urgente trabalhar competências pessoais e sociais! É cada vez mais importante colocarmo-nos no lugar do outro e fundamentarmos as nossas opiniões com factos e não apenas com base na opinião dos outros ou do modo como a comunicação social nos passa a informação!
E porque estamos no início de um novo ano, é uma boa altura para refletirmos sobre o modo como emitimos a nossa opinião, pois, se é certo que, felizmente, temos a liberdade de o fazer como bem entendemos, também é certo que o devemos fazer de modo responsável e assertivo!