D. António Ferreira Gomes conhecido de todos como Bispo do Porto, e por alguns como bispo de Portalegre, celebrava no próximo dia 10 de Maio o seu 110.º aniversário.

Penafiel, a sua cidade Natal, vai homenagear no dia do seu nascimento este ”grande pensador e possuidor de uma rectidão e coragem moral muito rara, que enfrentou desafios adversos com o fito de contribuir de forma activa para a garantia do imperativo supremo do respeito pela dignidade de cada pessoa em singular e dos seus direitos fundamentais”, refere a Câmara Municipal num texto sobre o penafidelense.

Na cidade há uma estátua em sua homenagem e uma escola à qual foi atribuído o seu nome (EB 2/3 D. António Ferreira Gomes).

A primeira visita oficial que realizou como Bispo do Porto foi a penafiel

A religião teve sempre uma grande força na vida de D. António Ferreira Gomes. Começou desde cedo a ter gosto pelos assuntos eclesiásticos. Deixou para trás a sua família em Milhundos, onde nasceu em 1906, e foi estudar para um seminário aos dez anos.

Aos 19, decidiu ir estudar para a Universidade Gregoriana, em Roma, e, aos 22, quando terminou os estudos, foi ordenado presbítero (ancião) na Torre da Marca por D. António Augusto de Castro Meireles.

Ainda no mesmo ano, foi nomeado prefeito e director do Seminário de Vilar, onde estudou.

Passados três anos, é publicado o seu primeiro livro, o drama “Herói e Santo” e, em 1936 (passados cinco anos), foi nomeado vice-reitor do seminário e Cónego da Sé do Porto.

No ano da Proclamação dos Direitos do Homem, em 1948, tornou-se Bispo Coadjuntor da Diocese de Portalegre.

Ao longo da década de 50, aquando do governo de António

Foto: Fundação SPES
Foto: Fundação SPES

de Oliveira Salazar, mostrou-se “preocupado com a miséria social, com a crítica do corporativismo do estado, apelando à liberdade de expressão do pensamento e da acção política”, informa artigo no site da Diocese do Porto.

A 13 de Julho de 1952, foi nomeado Bispo do Porto, ocupando o lugar a 12 Outubro. Aqui, passou a ser administrador apostólico de Portalegre até que chegou a vez do seu sucessor, D. Agostinho Lopes Moura.

Como Bispo do Porto, a sua primeira visita oficial foi a Penafiel.

Em 1958, as coisas começam a aquecer depois de, nas eleições de Oliveira Salazar contra Humberto Delgado, Ferreira Gomes ter tido que se ausentar para uma conferência em Barcelona. Salazar “ficou perturbado por temer uma exploração oposicionista do caso”. No regresso de Barcelona, D. António Ferreira Gomes decide escrever o “Pró-memória”, “em que escreve tópicos para preparar uma conversa a sós” com o ditador. Esta carta é conhecida pela Carta Salazar, “embora erradamente conhecida como tal”, defende o artigo. Num artigo da Fundação SPES, lê-se que ao terminar o texto, “referiu algumas questões relativas às possíveis objecções que o Estado teria em relação à Igreja.”

Este texto circulou, criou polémica, e D. António foi aconselhado, por um amigo, a “tirar umas férias” em 1959. Quando tentou voltar, foi proibido por parte do Governo.

Viveu 10 anos de exílio. Começou por Vigo, depois Santiago de Compostela, Valência, Alemanha e Lourdes, de onde, segundo o artigo da Câmara Municipal de Penafiel, enviou uma carta ao Cardeal Cerejeira, Patriarca de Lisboa e presidente da conferência Episcopal Portuguesa, “a denunciar o afundamento da Igreja hierárquica ao regime de Salazar”. Voltou a Portugal, por autorização de Marcelo Caetano, em 1969.

Em 1977, com 71 anos, executa o seu testamento onde cria a Fundação SPES com fins benéficos, educacionais e culturais.

Passados três anos começam os reconhecimentos. A 7 de Agosto de 1980 recebe a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade. Um ano depois, pede a resignação, que só se concretizou dois anos mais tarde, altura em que recebeu a Medalha de Honra da Cidade do Porto, a Medalha de Ouro da Cidade de Penafiel, a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo. A 10 de Junho, é atribuído o seu nome a uma rua, na sua aldeia de nascença, Milhundos, em Penafiel.

No dia 2 de Maio, despede-se dos seus seguidores e vai viver para Ermesinde, para a quinta “Mão Poderosa”, casa da diocese, onde veio a falecer a 13 de Abril de 1989.

Em 1991, é feita a transladação dos restos mortais para o Cemitério Paroquial em Milhundos e, oito anos depois, em 1999, é colocada uma estátua em Milhundos, da escultora Irene Vilar, para o homenagear.