Hoje, muitos estariam no Santuário de Fátima, depois de mais uma peregrinação cumprida, mas este ano foi diferente. Tudo foi cancelado devido à pandemia. E os 1100 peregrinos que deviam ter partido de Paredes ficaram em casa. Conheça a história de alguns.
15 anos de peregrinação
Nos últimos 15 anos, Fernando de Deus dedicou uma peregrinação a Nossa Senhora. Foi pela primeira vez em 2006, para agradecer uma promessa cumprida. “No caminho de regresso já vinha a remoer a ideia e decidi que iria repetir a experiência”, conta. Ano após ano continuou nesse renovar de fé. Não só por isso, mas pelo companheirismo, amizades criadas e uma partilha de sentimentos que só quem se lança à estrada compreende. “Às vezes vamos sozinhos a meditar na vida ou a rezar. Outras ajudamo-nos uns aos outros. Basta um bom dia e um sorriso”, dá como exemplo o bancário de Paredes.
Ficar em casa este ano foi difícil, não esconde. “O dia em que estava agendada a partida foi marcante e a aproximação ao 13 de Maio vai ser terrível. Este ano vai ser um vazio”, lamenta o homem de 53 anos, que ainda teve fé que a peregrinação iria ser permitida. Mas perante o crescimento dos números da COVID-19 percebe que assim não seja. “Vamos a ver se em Outubro há condições para nos pormos a caminho. Tenho essa esperança”, confessa.
“A esta hora já estávamos em Fátima”
Manuel Jorge Pinto passa os dias a andar a pé. Em alguns chega a fazer 30 quilómetros. “Não me dou parado”, confessa o homem de 64 anos.
Mora em Vila Nova de Gaia, mas todos os anos vai em peregrinação com o Rancho Regional de Paredes. Começou por ir a acompanhar a filha, que foi cumprir promessa. Há 11 anos. Nunca mais parou. “Já houve um ano em que fui a Fátima a pé duas vezes”, conta. Vai por fé, mas também pela experiência de partilha e companheirismo.
Não ir este ano ao Santuário foi “frustrante”, admite. “Estou convencido que vamos em Outubro, mas sei que será difícil”, explica.
Hoje, dia de chegadas, já partilhou o momento com quem lhe faria companhia na peregrinação. “Costumamos ir em grupo dentro do grupo. Ainda há bocado liguei a uma senhora a dizer: ‘a esta hora já estávamos em Fátima’”, relata.
“Faço este caminho há 20 anos e a minha fé não aumentou nem diminuiu. É a mesma”
É com emoção na voz que Eva Mendes fala da sua experiência de peregrinação. Foi há 20 anos que tudo começou quando testemunhou com os seus olhos o que considera ter sido um milagre. Viu o sobrinho, a quem chama filho, sofrer uma queda perigosa. Na hora pediu a Nossa Senhora que o amparasse. Acredita ter sido atendida, já que o sobrinho praticamente não sofreu ferimentos. “Fui a Fátima agradecer logo a seguir e prometi que enquanto pudesse iria lá num testemunho de fé. Faço este caminho há 20 anos e a minha fé não aumentou nem diminuiu. É a mesma”, garante a mulher de Matosinhos, que segue integrada em grupos de peregrinos de Paredes quase desde o início.
“É um caminho de agradecimento e de fé. Uma prova de amor à Mãe”, afirma Eva Mendes, de 59 anos, que não esconde a tristeza pelo cancelamento, embora o compreenda. Acredita que mesmo em Outubro ainda não estarão reunidas condições para se fazerem à estrada. Mas crê também que é a “mão de Nossa Senhora” que tem ajudado Portugal a não ter os números “catastróficos” de infectados de outros países.
Nos últimos 20 anos passou a noite de dia 12 no Santuário. “Hoje está a custar-me muito, mas o meu caminhar em casa, a minha devoção está a ser muito intensa. Vou fazer uma noite de oração”, adianta.