Uma maior capacidade de triagem, maior capacidade de armazenamento de materiais triados e melhores condições para os funcionários. São essas as principais mais-valias da Nova Unidade de Triagem de Lustosa, em Lousada, inaugurada pelo Ministro do Ambiente e da Transição Energética.
O equipamento, que resulta de um investimento superior a seis milhões de euros apoiado por fundos comunitários, realizado pela Ambisousa, permitiu passar para quase o dobro a área coberta do equipamento (tem agora mais de 3.000 metros quadrados) que foi também dotado da mais recente tecnologia de separação automatizada.
A obra, explicou o presidente do conselho de administração da empresa intermunicipal que trata os resíduos dos seis municípios do Vale do Sousa – Castelo de Paiva, Felgueiras, Lousada, Paços de Ferreira, Paredes e Penafiel – vai servir mais de 330 mil habitantes, distribuídos por 740 quilómetros quadrados, e reforçar a recolha selectiva e triagem de resíduos urbanos.
Em 2018, os habitantes da região produziram 140 toneladas de resíduos indiferenciados e este investimento, disse Antonino de Sousa, visa “contribuir para o cumprimento de metas na recolha seletiva” em que o Vale do Sousa está ainda “aquém do desejado”.
“Um dos maiores investimentos feitos na área do ambiente na região”
O também presidente da Câmara Municipal de Penafiel lembrou o percurso da Ambisousa, empresa que completa este ano 18 anos, e que a antiga estação de triagem de Lustosa estava “degradada e sem reunir as condições mínimas de funcionamento, na funcionalidade e em condições para funcionários”.
Em 2016, a Ambisousa avançou então com uma candidatura ao POSEUR (fundos comunitários) no sentido de criar infra-estruturas que permitam cumprir as metas definidas no PERSU 2020 (Plano Estratégico para os Resíduos Sólidos Urbanos), reformulando a unidade de triagem de Lustosa e também a de Rio Mau, em Penafiel.
A obra, de grande dimensão, foi um “dos maiores investimentos feitos na área do ambiente na região”, com a componente nacional do investimento a ser assumida integralmente pela Ambisousa, a expensas próprias, sem recurso a financiamento bancário, realçou Antonino de Sousa.
Esta nova unidade permite canalizar os fluxos indiferenciados da recolha selectiva para optimizar a triagem. Em Lustosa ficam o plástico, o metal e as embalagens e, em Penafiel, o papel e o cartão, explicou.
Por outro lado, o processo de triagem é feito “de forma automática, com maior eficiência e recurso às melhores tecnologias”. A unidade, disse o presidente do conselho de administração da Ambisousa, cresceu para cerca do dobro e tem agora mais de 3.000 metros quadrados, o que dá maior capacidade de triagem e deixa estes concelhos “melhor preparados para dar resposta às metas”. Permite ainda maior capacidade de armazenagem dos materiais já triados e melhores condições para os funcionários.
Ambisousa avança com recolha selectiva
“Este ano a Ambisousa vai assumir um novo desafio”, anunciou o autarca. “Julgo que é uma decisão pioneira no país. Vamos assumir a recolha selectiva”, sustentou Antonino de Sousa.
Para cumprir as metas e porque a região está “aquém do desejado”, a empresa intermunicipal tem várias apostas previstas. Entre elas, elencou será feita uma “aposta forte” na distribuição de mais ecopontos, na recolha selectiva porta-a-porta e desenvolvido um conjunto de acções “muito fortes” de sensibilização ambiental que “vão com certeza trazer melhores resultados”.
“É preciso equacionar a instalação de uma unidade de valorização de orgânicos porque temos que trabalhar de forma mais intensa o objectivo de tirar o orgânico dos aterros sanitários. É um caminho que é difícil, que é exigente, mas no qual estamos todos igualmente empenhados e acredito que vamos ter sucesso”, afirmou ainda.
Mais ecopontos e descontos na factura deram resultados positivos em Lousada
Antes, Pedro Machado, autarca de Lousada, também tinha realçado a importância do investimento para o futuro e afirmado que a área do Ambiente é uma das que serve de exemplo de que a união de esforços dos autarcas em busca de soluções comuns dá frutos.
“Há metas europeias para a redução de resíduos enviados para aterro e estamos a ser penalizados por não cumprir essas metas”, registou, no entanto, o edil.
Em Lousada, deu como exemplo o presidente da câmara, o caminho tem sido positivo. “Somos o concelho que mais contribui para a recolha selectiva”, afiançou. A mudança está a acontecer desde 2016. Nessa altura, Lousada cada habitante de Lousada encaminhava para a reciclagem em média, 18 quilogramas de resíduos por ano, quando a média da Ambisousa era de 21 quilogramas. No ano seguinte, a média concelhia aumentou para os 22 quilogramas anuais e a dos concelhos do Vale do Sousa para os 23 quilogramas/habitante/ano. Já no ano passado, salientou, em Lousada esses números aumentaram para os 30 quilogramas por habitante por ano, quando a média regional está nos 27 quilogramas. “Estamos muito perto das metas definidas de 32 quilogramas/habitante/ano”, frisou Pedro Machado.
A solução não foi mágica, garantiu. Para estes resultados contribuiu o reforço do número de ecopontos, que era de 184, em 2016, e aumentou 18%, em 2017, e 51%, em 2018, e também o projecto piloto Lixo Sustentável, que permite a troca de resíduos recicláveis por descontos na factura do lixo aos habitantes do concelho. No primeiro semestre de funcionamento, o projecto contava com 296 famílias inscritas e 42 toneladas de resíduos entregues. “Em Dezembro de 2018 eram já 1.200 utilizadores inscritos e 321 toneladas de resíduos recicláveis depositados no ecocentro”, deu como exemplo o autarca, defendendo que estas ideias sejam apropriadas por outros concelhos.
Visto que a Ambisousa vai assumir a recolha selectiva de recicláveis a curto prazo, Pedro Machado deixou ainda uma ideia: a de que a empresa intermunicipal possa também assumir a gestão dos resíduos indiferenciados.
Ambisousa pode ser alternativa para a limpeza urbana e a recolha de resíduos sólidos urbanos, acredita presidente da Valsousa
Humberto Brito, presidente da Associação de Municípios do Vale do Sousa – Valsousa, que tutela a Ambisousa, salientou que a empresa concretiza a vontade de seis municípios para encontrar soluções para tratamento lixo urbano.
“A Ambisousa tem trabalhado e continua a trabalhar sempre em prol do ambiente, cumprindo a missão de serviço público para o qual foi criada. Tem sido responsável pela gestão dos aterros, incluindo a triagem da recolha selectiva”, descreveu o autarca de Paços de Ferreira.
O presidente da câmara sustentou que “todas as autarquias sabem que é preciso reduzir a quantidade de resíduos enviados para aterro e aumentar, substancialmente, os resíduos provenientes da recolha selectiva” e que esse esforço de alteração de comportamentos necessário compensa mais se for feito de forma supramunicipal.
“Estamos numa altura em que municípios terminaram ou estão em fase de terminar contratos de concessão no que à recolha e limpeza urbana diz respeito. Sendo assim, chegou o momento de procurar novas alternativas, novas parcerias e novos modelos, por razões de poupança económica, mas sobretudo para melhorar o serviço prestado à comunidade”, defendeu Humberto Brito. “Da nossa parte acreditamos que a Ambisousa pode desempenhar nesta matéria uma nova missão”, garantiu o presidente da Valsousa, manifestando a disponibilidade para se encontrar “uma solução integrada e alargada para melhorar a limpeza urbana e a recolha de resíduos sólidos urbanos, independente das soluções próprias já existentes num ou noutro município”.
No futuro, antecipou, a Ambisousa terá que fazer um fortíssimo investimento em matéria de sensibilização ambiental, tendo já sido aprovada uma candidatura nesse sentido, que envolve a dinamização de acções de sensibilização e educação com vista à valorização de resíduos. “Acreditamos que um trabalho em rede, concertado, reforçará a coesão territorial”, concluiu o autarca.
“Investimentos como este são fundamentais para separar estes resíduos e dar-lhes valor económico, permitindo assegurar as metas ambientais do país”
O Ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, presidiu à sessão e lembrou que, em Portugal, “38% dos resíduos vão para aterro quando em Janeiro de 2030 só podem ser 10%”. “Investimentos como este são fundamentais para separar estes resíduos e dar-lhes valor económico, permitindo assegurar as metas ambientais do país”, disse.
João Pedro Matos Fernandes diz que prefere chamar os resíduos de “recursos”, já que são materiais que podem ser explorados e têm valor económico.
É importante, salientou o governante, despertar a consciência ambiental da população e mostrar que a escolha começa logo na compra, evitando os plásticos, por exemplo. “A ideia de descartável é para descartar”, defendeu. “Temos que cada vez mais usar produtos que durem mais e possam ser reciclados e reutilizados”, afirmou ainda o ministro, recordando que em Portugal, em cinco anos, foram encerradas 300 lixeiras.