A Escola Secundária de Ermesinde tem mais um motivo de orgulho pelos resultados alcançados pela comunidade escolar. A razão é simples e tem um nome: Miguel Filipe Barbosa Machado. O aluno do 12º ano, que anseia seguir a carreira diplomática e ser escritor, classificou-se no 3º lugar a nível nacional nas IV Olimpíadas da Língua Portuguesa.
Nunca antes tinha participado em qualquer competição a nível escolar, nem sequer fazia parte dos seus planos. Miguel Machado, de 17 anos, estava, aliás, como nos confessou, “cheio de sono” na aula de Português quando a professora lançou o desafio a toda a turma para a participação nas Olimpíadas de Português. Ninguém pôs o braço no ar, conta, e lembra-se “de ter a cabeça encostada no braço esquerdo quando a professora disse que o prémio era de 500 euros”. “Aí a minha cabeça levantou-se. Sem querer parecer ganancioso, a promessa de um prémio pecuniário é sempre aliciante”, disse, salientando ter pensado, então, que “poderia ser interessante”. “Gosto de português, gosto de escrever, vamos ver no que dá”, lembrou.
“Acabei a prova da segunda fase incrédulo que iria chegar sequer ao terceiro lugar”
A primeira fase, diz Miguel, pareceu bastante fácil. “A prova correu efectivamente muito bem e tinha quase a certeza de que iria passar à segunda fase”, relembra, sublinhando que a prova da segunda fase, com a interpretação de um texto de Agustina Bessa-Luís, “já foi diferente”. E foi também nessa segunda fase que Miguel tomou noção de que era muita gente a competir. “Acabei a prova da segunda fase incrédulo que iria chegar sequer ao terceiro lugar”, diz, revelando a ansiedade que sentiu nos tempos seguintes aguardando pela revelação dos resultados, agendada para 31 de Maio. Mas só a 27 de Junho, já depois de concluídos todos os exames escolares, é que chegou a mensagem de telemóvel da professora dando a notícia de que tinha obtido 174 pontos. ”Mas a mensagem estava incompleta, o que não deu para perceber se tinha ganho ou não. Para que dá 174 pontos?”, pensou na altura. Um telefonema para a professora esclareceu tudo. Miguel classificou-se no 3º lugar a nível nacional nas IV Olimpíadas da Língua Portuguesa, com a mesma pontuação do 2º classificado e a um ponto do 1º classificado. “Nem queria acreditar que, no meio de tantos milhares de inscrições que houve para a primeira fase e no meio de centenas para a segunda, eu tinha ficado, a nível nacional, em 3º lugar”, sublinha, acrescentando, porém, que este terceiro lugar teria outro sabor se não fosse com a mesma pontuação do segundo lugar. Sem perceber o critério que o colocou nesta posição, Miguel aguarda a entrega de prémios para saber se será eventualmente colocado em igualdade com o aluno classificado em segundo lugar, já que a pontuação é exactamente a mesma. Caso não seja, o pai de Miguel irá apresentar reclamação. Miguel machado considera que ser classificado em terceiro lugar, nesta situação é um “desvalorizar do seu desempenho”. “É a potencial desilusão que poderá haver no processo. Não é demérito ficar no terceiro se tivesse pontuação menor, mas nesta situação acaba por ser um pouco”, desabafa, concluindo, porém, que a sua participação foi satisfatória.
“Escrever é mesmo aquilo que me dá mais satisfação e proporciona mais realização”
A língua portuguesa é a sua preferida, a par da inglesa. Já a disciplina não será a favorita, nem tão pouco a que tem melhor nota. É aluno de 16 valores, mas já teve 18 num teste. Miguel Machado explica que desde pequeno que uma das suas principais ocupações era ler todo o tipo de livros, tendo desenvolvido o gosto pela literatura de fantasia desde os 12 anos, altura em que viu o filme Senhor dos Anéis e depois leu a trilogia do britânico JRR Tolkien. Mais recentemente leu a Guerra dos Tronos, de George Martin. Estes dois autores são, aliás, a sua inspiração. Miguel Machado começou há três anos a escrever um livro, um romance de fantasia épica, estando agora num processo de reescrita dos 15 capítulos. Algo que estima que demorará ainda mais três ou quatro anos. Os livros de fantasia, conta, foram durante alguns anos um “refúgio”, o seu “mundo” quando chegava a casa depois da escola, onde era vítima de bullying por rapar o cabelo devido a uma condição genética que impede o crescimento do cabelo mais do centímetro e meio. “Fazia esquecer os problemas que tinha nem que fosse por umas horas. Entrava no meu mundo e isso acabou por se reflectir nas escolhas de escrita”, explica, sublinhando que “escrever é mesmo aquilo que me dá mais satisfação e proporciona mais realização”. Não é por isso de estranhar que dos planos para o futuro de Miguel Machado faça parte “ser escritor e seguir a vida diplomática, viajar, conhecer culturas novas, mundos novos e estar inserido num contexto sócio-político internacional”. Citando Miguel Machado: “Se Eça de Queirós o fez porque não hei-de eu fazê-lo também?”