Se em 2020 a “Palavra do Ano” escolhida pelos portugueses foi “saudade”, devido ao afastamento trazido pela pandemia, em 2021 a mais votada foi a palavra “vacina”, com 45% dos votos, revelou a Porto Editora, que organiza a iniciativa.
Não é difícil perceber porquê. O ano passado continuou marcado pela luta contra a pandemia Covid-19, tendo o processo de vacinação sido o centro das atenções.
A região não ficou à margem desta “guerra” liderada pelo vice-almirante Gouveia e Melo, um nome que passou a ser conhecido de todos. Também por cá todos se mobilizaram para criar condições e vacinar o máximo de pessoas no menor tempo possível com o objectivo de proteger a população quanto aos efeitos da doença e de diminuir o número de infectados com sintomas graves.
Por aqui, à semelhança do que aconteceu no país, arregaçaram-se mangas e várias entidades se juntaram, desde as câmaras municipais aos agrupamentos de centros de saúde, para pôr de pé centros de vacinação capazes de receber e vacinar centenas de pessoas diariamente.
E por aqui o processo de vacinação funcionou e foi elogiado. Atingiram-se mais cedo as taxas de vacinação previstas, com a população a aderir à vacina contra a Covid-19, não houve grande relato de filas, nem de problemas significativos. Isto numa região que é das mais populosas do distrito.
2021 terminou com número elevado de novos casos e elevadas incidências nos concelhos de Lousada, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Valongo – também devido a uma maior testagem – mas ao que tudo indica com menos internados e doentes graves, pelo que a vacinação parece ter produzido os efeitos desejados.
Eleições em tempo de pandemia
Um acto eleitoral, por si só, já é algo que marca o ano, pelas mudanças que daí advêm. Uma eleição em pandemia exigiu de todos – políticos, responsáveis pelas secções de votos e eleitores – uma adaptação, para que o processo decorresse de forma segura.
Em 2021, o país (e consequentemente a região) viveu dois actos eleitorais: as Presidenciais (em pleno pico da segunda vaga da pandemia) e as Autárquicas (com a situação já mais controlada e a maioria da população vacinada).
Do lado partidário, isso exigiu alterações, com as campanhas eleitorais a serem condicionadas pelas regras sanitárias impostas pela pandemia. Foram-se, na grande maioria os grandes eventos e arruadas. Houve comícios com limitações e uso de máscara obrigatório, aposta nos espaços ao ar livre e lotação condicionada, e uma grande aposta nas redes sociais e nas acções de rua, num contacto mais directo (ainda que com distanciamento) e, muitas vezes, porta a porta. Aos tradicionais panfletos e canetas, juntaram-se as máscaras ou o álcool gel como materiais de campanha.
Do lado dos votantes, também houve mudanças. Foi imposto o uso obrigatório de máscara nos locais de voto e era mesmo recomendado levar uma caneta de casa, para minimizar contágios. Além disso, houve toda uma nova logística para recolha de votos dos infectados e isolados, assim como a criação/desdobramento de secções de voto para não existir concentração de pessoas, sendo ainda criados circuitos de entrada e saída.
Na região, as Autárquicas não trouxeram mudanças em termos de rostos no que toca às câmaras municipais, embora tenha havido reforço de votação nalguns casos (Lousada, Paredes, Penafiel) e perda noutros (Paços de Ferreira e Valongo). De realçar que a maioria destes concelhos ganharam eleitores.
Resgate da concessão de água e saneamento em Paredes
Ainda que não tenha sido votada, resgate foi uma das palavras do ano em Paredes, com muitas notícias e reveses sobre um processo que, nos parece, ainda dará muito que falar.
Desde que a Câmara de Paredes anunciou que ia avançar com o resgate da concessão de água e saneamento no concelho e criação de serviços municipalizados o tema entrou na ordem do dia, quer pelas críticas da oposição, quer pela reacção da Be Water – Águas de Paredes, a concessionária do serviço.
Se 2020 terminou com a aprovação do resgate da concessão de água, com o PSD a abandonar a sessão da Assembleia Municipal, 2021 trouxe a aprovação do empréstimo de 21 milhões de euros para pagar o resgate – as contas do município apontam para uma indemnização nesse montante a que se somam mais 1,5 milhões de euros por reequilíbrio económico-financeiro. Mas a ‘novela’ foi muito além disso. Seguiu-se um parecer desfavorável da ERSAR – Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos, mas a câmara invocou que o documento não era vinculativo e avançou com o processo invocando o interesse público.
Foi o mesmo motivo que a autarquia usou para responder à providência cautelar interposta pela concessionária de água e saneamento para tentar parar o resgate, impugnado as decisões tomadas em Assembleia Municipal. A Be Water intentou ainda uma acção que pede 133 milhões de euros de indemnização. Embora a providência cautelar tenha sido chumbada, a concessionária avisou que o processo “ainda vai no adro”.
O ano terminou com a Assembleia Municipal a tomar nova decisão, desta vez promovendo a criação dos SMAS – Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Paredes, com a Câmara a garantir que o processo de transição estava em curso e que iriam começar a funcionar já este mês. Mas a Be Water já avisou que a providência cautelar ainda não está decidida porque foi interposto recurso.
Face às questões que têm sido levantadas com resgates em vários pontos do país parece-nos que ainda assistiremos a vários ‘episódios’ desta novela. Veja-se o exemplo das negociações com a concessionária em Paços de Ferreira, que se arrastam há anos, embora a Câmara também diga que pretende municipalizar o serviço.
Em Paredes, falta saber qual o desfecho esperado do processo que corre em tribunal e quanto é que isso custará, efectivamente, aos cofres do município.
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