No próximo domingo, várias cidades portuguesas vão pôr “Mãos à obra” e recolher o máximo de lixo que encontrarem pelas ruas. Em Penafiel, Paços de Ferreira, Valongo e Paredes já existem vários grupos criados, prontos a participar e a dar um contributo para limpar Portugal.
O projecto “Mãos à obra” surgiu há pouco mais de um mês pela ideia de uma jovem de 19 anos da Figueira da Foz, Inês Durão. É a primeira vez que realiza algo do género e que se entrega a uma causa ambiental e conta que o clique surgiu quando viu a notícia de que foram plantadas cerca de 350 milhões de árvores num dia na Etiópia. Pensou em replicar em Portugal, mas logo percebeu que “era muito difícil”, devido às autorizações necessárias para plantar árvores, então, optou pela recolha de lixo nas ruas por ser algo “muito mais acessível a toda a gente”.
Ideia surgiu de uma notícia vista na televisão e depressa correu o país
Começou sozinha com tudo, fez o logótipo – já que estuda Design Gráfico – criou grupos e páginas nas redes sociais e fez a divulgação, mas rapidamente conseguiu ajuda de mais duas pessoas que conheceu, entretanto, online.
Assim como as notícias correm mundo através da internet, também tudo pode ser feito através dela sem ser preciso um contacto cara a cara. E é assim que a iniciativa se tem desenvolvido: começou com a divulgação pelas redes sociais e a criação de grupos online para que se tivesse a noção de onde eram as pessoas interessadas.
Actualmente, já mais de 100 cidades portuguesas e mais de 11 mil pessoas aderiram, integradas em grupos criados também online, com um representante por freguesia e alguns até contam com o apoio de câmaras municipais e/ou de juntas de freguesia. A ideia chegou, inclusive, até a Barcelona, através de um grupo local que realiza iniciativas semelhantes, e a Londres, através de uma portuguesa que estuda lá.
Quatro concelhos aderiram e vão arregaçar as mangas
Por cá pela região, em Penafiel, a ideia foi difundida muito pela iniciativa de Renata Soares, de 20 anos. Decidiu participar como representante de Penafiel e da freguesia de Lagares e Figueira e foi tentando arranjar outros pelas várias freguesias do concelho “para depois ser mais fácil chegar às pessoas dessa zona e também para limpar melhor”. Conseguiu nove representantes (Penafiel, Irivo, Oldrões, Bustelo, Novelas, Fonte Arcada, Capela, Rio de Moinhos e Paço de Sousa), sendo que cada um desses grupos tem à volta de 30 pessoas que se mostraram interessadas em aderir ao evento e conta com o apoio das juntas de freguesia.
É a primeira vez que participa em algo do género, mas diz que os problemas ambientais são algo que a “preocupa muito” e que a iniciativa pareceu “ser uma coisa boa para o país”. “Se podemos fazer algo para melhorar a situação, acho que devemos fazer, então, decidi participar”, refere.
Numa dessas freguesias, nomeadamente, em Rio de Moinhos, está Érica Nunes, de 16 anos, que já está familiarizada com causas ambientais.
Já participou na greve climática estudantil e conta que acabou por aderir ao grupo de Penafiel e tomar a iniciativa de ser a representante da sua freguesia, depois de ter acompanhado tudo o que Inês Durão tinha vindo a postar online sobre o assunto. “Acho que nos devíamos preocupar cada vez mais porque é o nosso futuro que está em jogo. Claro que não vamos acabar com a crise climática por apanhar algum lixo do chão, mas qualquer pequeno gesto que possamos fazer já vai ajudar muito”, sublinha.
Paredes é outro dos concelhos que vai também aderir à iniciativa. Conta com o apoio do município, em colaboração com o Pelouro do Ambiente, e das juntas de freguesia. Chegou a cinco delas: Gandra, Rebordosa, Lordelo, Sobrosa e Paredes.
No caso de Sobrosa, uma das entidades que se juntou foi o “Sobrosa Plogging”, que é um conjunto de pessoas que já se costuma reunir e fazer algumas caminhadas para apanhar lixo em certos locais. “Tem que se quebrar um bocado esse preconceito que ainda existe de que «esse lixo não é meu». O lixo não é, mas o planeta é”, destaca Ricardo Silva, um dos responsáveis pelo “Sobrosa Plogging”.
Aqui, a ideia vai ser percorrer as bermas das estradas e caminhos municipais, onde há uma maior circulação “e onde tem mais lixo e também para tentar sensibilizar mais”. Pensam ainda em colocar cartazes nas bermas para “tentar sensibilizar”.
Da experiência que tem por integrar este grupo, Ricardo Silva conta que o que se encontra mais é plástico e destaca também os maços de tabaco, à parte das beatas para as quais já é costume alertar.
No entanto, acredita que as pessoas “têm vindo a ficar mais conscientes”, embora ainda haja “muito trabalho pela frente”. “Trata-se da parte de combater a falta de civismo que existe porque deitar lixo para o chão nas serras e tudo mais isso é falta de civismo. Mas tem havido uma receptividade e nota-se que o que é falado as pessoas começam um bocado a consciencializar que têm de mudar hábitos e rotinas”, explica.
Quanto ao que fazer com o lixo que é recolhido, diz que a ideia é “tentar separar ao máximo”, mas que “muito desse lixo já não dá para reciclagem”, por isso, o único destino será o aterro/ecocentro.
Em Valongo, o processo será o mesmo: Está prevista a participação de aproximadamente 100 jovens que se vão dividir em 16 grupos para recolher lixo das ruas, sobretudo beatas de cigarro, com o apoio do município. Um destes grupos vai juntar-se à Caminhada na Via do Peregrino, no âmbito da Semana Europeia da Mobilidade, para recolher lixo ao longo do percurso.
Já Paços de Ferreira vai aproveitar a ocasião para inaugurar o primeiro Eco Pontas, que é um equipamento destinado à recolha de beatas de cigarros que, nos próximos meses, será alargado a vários espaços urbanos das cidades de Paços de Ferreira e Freamunde.
Neste concelho, a acção, com especial enfoque nas beatas de cigarro e integrada no Ano Municipal do Ambiente e da Cidadania, vai ser promovida pela Câmara Municipal juntamente com um grupo de voluntários e vai também oferecer cinzeiros de bolsos aos munícipes fumadores.
Para o dia, há uma lista de material essencial que a organização divulgou: Água fresca, almoço e lanche, protector solar, t-shirt branca, luvas resistentes, chapéu/boné, calçado confortável, saco médio/grande e uma garrafa de plástico para o desafio do #ENCHEAGARRAFA (recolha de beatas de cigarro).
“A adesão está a ser enorme”
A iniciativa vai decorrer pelas 10h00 de domingo e Inês Durão revela-se um pouco nervosa. Refere que tem corrido tudo bem e que, no fundo, está a seguir a sua intuição. “Ainda estou um bocado perdida nas coisas, mas tenho a ajuda de pessoas que estão a ser competentes no que estão a fazer e isso ajuda sempre. E, para além disso, tenho sempre o apoio de adultos que já tem associações e sabem como estas coisas funcionam e, por acaso, tem alguns que foram muito receptivos”, conta, acrescentando que na iniciativa vão participar pessoas de todas as idades.
Revela que a sua “única preocupação neste momento é que vá chover”, porque os representantes “estão a entrar todos em pânico com a chuva” e isso está a deixá-la “muito nervosa”. “Se não chover, as minhas expectativas são altíssimas mesmo. Acho que estamos mesmo muito bem e a adesão está a ser enorme, mas é sempre aquele sentimento de que não sabemos o que nos espera”, acredita.
“Eu não quero protestar contra nada. Quero fazer o que puder para ajudar. Acho que faz mais sentido meter as mãos a obra”, remata.