Dar resposta prioritária ao mercado de trabalho local e reforçar a competitividade do tecido empresarial da região ao nível do capital humanos qualificado, assumindo-se como um instrumento estratégico para ultrapassar os problemas com que se debatem as empresas: escassez de mão-de-obra qualificada disponível e dificuldades de atracção e fixação de população residente, entre outras. São esses os principais objectivos da Academia Profissional do Vale do Sousa que vai nascer em Paços de Ferreira. O foco será no sector do mobiliário.
O projecto, apresentado esta segunda-feira, durante um encontro sobre partilha de boas práticas em educação, visa criar mecanismos de coordenação entre as políticas e os instrumentos de educação e de formação profissional, assim como empresários, oferecendo formação profissional especializada e abrangente para ir de encontro às necessidades das empresas do futuro.
Capital humano deve ser visto como vantagem estratégica, mas é preciso requalificá-lo e formá-lo
“O modelo de aprendizagem proposto para a Academia Profissional do Vale do Sousa assenta na combinação entre os pilares da educação, cultura e ciência, saber e saber fazer, uma abordagem vocacional e de educação clássica numa perspectiva humanista, combinando teoria e prática, num compromisso adequado às exigências do mercado de trabalho e uma base robusta de educação. Este compromisso é conseguido através de maior flexibilidade pedagógica e novos conteúdos formativos orientados para a empregabilidade, de todos os que procuram um ensino mais prático e voltado para uma especialização técnico-profissional, com valor de mercado”, resume o projecto.
Segundo o diagnóstico realizado, a indústria do mobiliário sofre uma pressão competitiva, originada pela globalização dos mercados. Isso exige aos profissionais do sector novas competências para que as empresas consigam sobreviver e ser competitivas. São elas: competências de gestão de negócio em sistemas de produção globais e conhecimento de sistemas de produção automatizados e integrados, assim como o domínio de novos materiais e processos produtivos, novos canais de marketing e comercialização digitais e novas capacidades para tirar vantagens do design.
Neste processo, o capital humano deve ser visto como vantagem estratégica, com requalificação de trabalhadores existentes assim como a formação de novos quadros já adaptados às necessidades das empresas. “O tecido laboral necessita de uma força laboral com elevada preparação, adaptação e apta para gerar inovação, combinando o conhecimento industrial existentes com novo conhecimento tecnológico”, refere o documento.
Actualmente, conclui o projecto da Academia, o cluster do mobiliário e do têxtil em Paços de Ferreira enfrenta fraquezas significativas ao nível da qualificação do capital humano, o que se reflecte na capacidade competitiva do tecido empresarial. É preciso programas de formação específica para dirigentes, quadros médios e trabalhadores, sendo que novas formas de colaboração homem-máquina vão melhorar “a produtividade, qualidade e eficiência”. Preveêm-se mais robôs, mas operados por trabalhadores, tratando das tarefas mais pesadas, sujas e perigosas. E deverá haver uma aposta no design, na realidade virtual e aumentada e no marketing e comércio digital.
O projecto da Academia contará com formação profissional, ministrada através de cursos temáticos e especializados, respondendo às necessidades do mercado de trabalho; laboratórios especializados, que permitirão aos estudantes pensar e experimentar soluções imediatas para problemas que vão surgindo em contexto laboral, sempre sob orientação; Technology Breakout Sessions para que a comunidade da academia esteja a par dos desenvolvimento tecnológicos mais recentes e possa constituir ferramentas de trabalho diárias; e o business club, um mecanismo dinâmico de ligação entre a comunidade académica e o tecido empresarial.
Esta segunda-feira, foram assinados os protocolos de parceria entre os muitos agentes ligados à educação e formação, pública e privada, que integram o projecto, um deles a Profisousa, que lidera a Academia, assim como com mais de 20 empresários que integram o business club. Fazem parte ainda a Câmara de Paços de Ferreira, a Moveltex e a Associação Empresarial de Paços de Ferreira, entre outros.
Na fase de instalação a Academia terá como casa a antiga escola básica n.º1 de Paços de Ferreira.
“Cada vez é mais difícil às empresas encontrar trabalhadores com as competências que procuram”
Durante a sessão, Humberto Brito considerou que a educação é fundamental, sobretudo a que tente ir de encontro às competências importantes para o futuro. “Muitas fábricas de alta tecnologia são quase vazias da presença humana, mas isso não significa mais desemprego. Estudos apontam para a valorização do trabalho na indústria 4.0”, afirmou o presidente da Câmara de Paços de Ferreira, assumindo que haverá novas profissões, mas também que muitas das actuais vão continuar a existir, ainda que assentes em novas metodologias e processos.
Numa questão o autarca não tem dúvidas: a aquisição de competências digitais significa empregabilidade. E é certo que a capacitação técnica dos trabalhadores tem de prosseguir. “Cada vez é mais difícil às empresas encontrar trabalhadores com as competências que procuram. É preciso dar respostas às necessidades produtivas e adaptar a formação e modelos de aprendizagem às novas dinâmicas”, defendeu.
A Academia Profissional do Vale do Sousa, que cumpre uma promessa eleitoral, não será “cosmética”, mas um novo modelo educacional adaptado à realidade das indústrias, garantiu.
“Vamos dotar os cidadãos de competências para enfrentar os desafios futuros em estreita articulação com as empresas e instituições de ensino”, frisou Humberto Brito.
Já Jorge Portugal, director-geral da COTEC Portugal, assumiu que a qualificação dos trabalhadores é o grande desafio para as próximas décadas.
“Esta academia é um passo para a frente. Estamos a entrar na quarta revolução industrial. A adaptabilidade das pessoas é critica”, argumentou, concordando que tudo no futuro vai exigir competências digitais.
A grande maioria das empresas em Portugal, reconheceu Jorge Portugal, não está preparada para esta evolução para uma indústria nova. “Apenas uma em cada quatro empresas está preparada para a quarta revolução industrial”, disse.
Por outro lado, contestou o mito da diminuição do trabalho pelo surgimento de mais automação nos processos. “A quarta revolução industrial não vai criar menos emprego, vai criar mais emprego, mas com competências diferentes”, alegou.
O director-geral do COTEC Portugal explicou ainda o que é preciso mostrar às empresas: “Quando se investe numa máquina imaginasse o retorno. O grande desafio é mostrar aos empresários que há retorno mensurável pelo investimento na educação”. “O custo na requalificação de um funcionário traz ganhos de produtividade. O capital humano é o maior activo e é preciso investir nele ou torna-se obsoleto”, referiu.
Segundo Jorge Portugal, o Tâmega e Sousa tem uma vasta rede de educação em funcionamento. “O que falta é uma abordagem integrada para ligar estas peças todas. O grande valor da Academia está nessa integração e no facto de fazer a ligação entre a oferta e a procura”, admitiu.