Vamos abrir os olhos?

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Nós somos também fruto daquilo que lemos, sobretudo quando temos capacidade de filtrar as mensagens e, através delas, contruirmos entendimentos críticos que só se chamarão assim se percebermos mais do que aquilo que lemos. Ou melhor, se formos capazes de construir uma opinião pessoal que resulta da nossa capacidade de interpretar as mensagens. E convém sempre, sobre o mesmo assunto, ler mais do que uma opinião, ter mais do que uma perspetiva.

E nem isso nos bastaria se a nossa “base de dados” se resumisse ao que lemos e nos descuidássemos da necessidade de estudar. Sempre.

De que nos adiantaria, através de uma crónica jornalística, por exemplo, tentar despertar e encorajar o leitor para o estudo da Arte ou do Património se quem nos lê não enquadra estes conhecimentos no seu leque de interesses?

De pouco, seguramente, porque, a nós, a todos nós, é sempre mais fácil a fruição superficial da coisa do que o sabor profundo da coisa que desfrutamos.

Parece-nos que é, também, com base na simplicidade destes raciocínios que 2020 nos continuará a contentar, ou não, consoante nos satisfizermos com o que nos derem ou só nos darmos como satisfeitos com a nossa capacidade de lutarmos para obtermos aquilo que almejamos.

Sem grandes divagações e sem surpresas, o início do ano dar-nos-á notícias que dizem que os reguladores, agora que a justiça angolana caiu em cima de Isabel dos Santos, vão passar a estar especialmente atentos aos “factos novos detetados”.

Quer dizer: durante décadas não viram nada de errado nos negócios da filha do presidente José Eduardo dos Santos, mas agora, que a justiça angolana começou a agir, agora é que vai ser. Admiro muito quem escreve estas coisas como se os organismos inspetivos de Portugal não existissem e apetecer-me-ia rir se não fossem jornalistas os que se encarregam de espalhar a mensagem.

Os fogos na Austrália deixam-nos a fazer comparações com incêndios recentes em Portugal e, inocentes, exclamamos: afinal, cá podia ter sido pior!

Assistimos, cheios de medo – não vá o rastilho ser grande- ao ataque de Trump ao Irão. Até podemos ter opinião, mas ela é tão irrelevante como nós.

Vemos a Assembleia Municipal de Paços de Ferreira a decidir a adesão à Área Metropolitana do Porto e ficamos sem saber o que os habitantes do concelho ganham ou perdem com isso. Aliás, sabemos que Paredes já faz parte da AMP e, de vez em quando, aparece ligado a projetos do Vale do Sousa. Não sabemos se isso beneficia ou prejudica duplamente os munícipes, como também desconhecemos se o os impostos dos paredenses vão para os cofres de duas instituições em vez de saírem só para um.

São decisões políticas – dizem eles, como se, por isso, também não tivessem de nos prestar contas.

Começa a ser tempo de olharmos, uns para os outros, nem de cima para baixo nem de baixo para cima. De frente e enfrentando os que, eleitos os nomeados, tomam em nosso nome as decisões que nos importam e com as quais eles pouco se importam, como se não estivessem em causa proveitos pessoais ou interesses partidários rendidos aos ciclos eleitorais.

Em 2020, vamos abrir os olhos? Ou não?