Há muito que se tornou do conhecimento público que as reuniões da Câmara Municipal de Paredes têm sido marcadas por episódios de linguagem inadequada, pouco educada e, muitas vezes, recheada de expressões brejeiras por parte do Presidente da Câmara, bem como do seu vice-presidente, Elias Barros. Os alvos têm sido frequentemente os vereadores da oposição, mas o que aconteceu na passada sexta-feira elevou o desrespeito a um novo patamar: o desrespeito estendeu-se aos jornalistas, algo que, até à data, não tínhamos presenciado.
Numa conferência de imprensa convocada para explicar a saída de Elias Barros do cargo de vice-presidente, mantendo-se como vereador sem pelouros, o próprio e o Presidente da Câmara revelaram mais do que a simples incapacidade de lidar com perguntas incómodas – revelaram uma postura de intolerância e desprezo pelo papel do jornalismo.
Comecemos pelos factos. O vereador explicou que a sua decisão se devia a “motivos profissionais”. É natural e esperado que, num momento de clarificação, os jornalistas queiram aprofundar as razões que levam a uma decisão tão relevante na gestão autárquica. E foi exatamente o que a jornalista do VERDADEIRO OLHAR fez ao perguntar qual era o projeto profissional que impediria Elias Barros de continuar a exercer o cargo de vice-presidente. Neste ponto, o vereador tinha duas respostas aceitáveis: ou partilhava o seu novo projeto ou, legitimamente, optava por não revelar, alegando tratar-se de uma questão pessoal. Em vez de escolher qualquer uma destas vias, Elias Barros decidiu enveredar por um caminho de desrespeito e agressividade, atacando a jornalista com uma atitude que podemos apenas classificar como deselegante e intimidatória, tentando inverter os papéis ao acusar a jornalista de “deselegância”.
Mas não ficámos por aqui. Como é do seu dever, a jornalista colocou a questão que estava em todos os círculos da política local – algo que se murmurava na oposição, e até mesmo dentro do próprio Partido Socialista: se a saída de Elias Barros da vice-presidência estaria relacionada com um eventual processo judicial em curso. A pergunta foi clara e direta: “Pode garantir que a sua saída não está relacionada com nenhum processo judicial em curso que envolva o senhor ou alguma das suas empresas?” Um questionamento legítimo, necessário, e que deveria merecer uma resposta cabal de qualquer figura pública que se preze pela transparência.
A reação de Elias Barros foi novamente desproporcionada, ofensiva e absolutamente inaceitável. Em vez de responder com a clareza e o respeito que se espera de um representante público, optou por insultar a jornalista, insinuando que esta estaria a agir sob instruções de terceiros, como se tivesse sido manipulada ou estivesse a servir os interesses de outros. Uma tentativa evidente de desviar a atenção da pergunta legítima e de lançar suspeitas infundadas sobre o trabalho da jornalista. Elias Barros não só se recusou a responder de forma transparente, como projetou os seus próprios fantasmas sobre a jornalista, insinuando conspirações onde elas não existem, numa lamentável demonstração de autoritarismo e desprezo pelo direito à informação.
O episódio da passada sexta-feira foi mais do que um ataque a uma jornalista; foi um ataque ao jornalismo, à liberdade de imprensa e à própria democracia. Quando figuras públicas tentam amordaçar a comunicação social com insultos e atitudes intimidatórias, o que está em causa não é apenas o respeito por quem faz as perguntas, mas o respeito por todos os cidadãos que merecem respostas.
O papel do jornalismo é questionar, investigar e, acima de tudo, esclarecer. E continuaremos a fazê-lo, com a determinação e a integridade que sempre nos caracterizaram, mesmo quando aqueles que deviam prestar contas se escondem atrás de insultos e falta de respeito.
O que se passou na sexta-feira é apenas um reflexo da falta de decoro de quem ocupa cargos públicos em Paredes.
Sem dúvida. Desrespeito pela imprensa, pela jornalista, pela educação e urbanidade, pela democracia, ou seja, pelos valores que, enquanto membro eleito de uma autarquia local, tem obrigação de cultivar e defender. Sob pena de se poder pôr em causa a capacidade e a formação para exercer tal cargo.
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