Neste dia 25 de Abril de 2017 em que comemoramos o dia da Liberdade, recordo Mário Soares. Ele foi o paladino da liberdade. Ensinou-nos que entre muitos direitos que o Homem pode reivindicar, a liberdade é o primeiro e o maior de todos – liberdade de expressão, liberdade de fazer, liberdade de escolher, liberdade de ser. Todos os outros direitos se subjugam a este. Ele amava a sua família, o seu País, a sua Pátria mas acima de tudo amava a liberdade e tantas vezes sofreu a clausura na sua defesa. Mas nunca vacilou. Até ao fim da sua vida defendeu a sua e a liberdade dos outros. Lutou contra a opressão, contra a injustiça, contra a censura e indignou-se quando a liberdade, fosse de quem fosse, foi violada. Ele, que experimentou a tortura e o cárcere, levantou a voz na defesa da liberdade para todos nós e contribuiu para este que fosse o pilar da nossa Lei Fundamental, a nova Constituição da República Portuguesa. Ele contribuiu para a institucionalização da liberdade.
Embora muitos outros heróis da nossa história tenham lutado e até dado a vida pela liberdade de Portugal, pela nossa liberdade, é a Mário Soares que nós devemos o ensinamento de uma atitude, uma forma de estar na sociedade, que faz perdurar a liberdade e que nos leva a não prescindir do seu uso no dia-a-dia das nossas vidas.
Mário Soares defendeu a liberdade mas não foi dogmático. Queria realmente a liberdade, na sua versão duradoura, não revolucionária e não dogmática: a liberdade para todos, a começar por aqueles que não concordam connosco. Depois de derrotada a ditadura, voltou a combater pela liberdade contra os dogmáticos de esquerda que em Portugal também tentaram implantar a sua distorcida forma de liberdade. Os defensores da “nossa” liberdade contra a liberdade dos “outros”. Ele que foi comunista no despertar da sua luta politica, combateu o comunismo quando entendeu que este não defendia a liberdade como ele a entendia. ´
Quem defende a liberdade é tolerante. Aceita o desafio do debate mas não oprime quem discorda de si. Ao longo da sua vida teve a oportunidade de mostrar esta forma de viver. Mário Soares usou a liberdade como forma de atingir a reconciliação nacional.
Esse combate pela reconciliação nacional teve seguramente muitas fases. O atrevimento de liderar um Governo PS-CDS (1978) e depois com o PSD (1983-85) foram marcos importantes nessa reconciliação. A consagração dessa conciliação e que enraizou entre nós a liberdade como forma de vida foi a sua coabitação com o primeiro-ministro Cavaco Silva (1986-1991) durante o seu primeiro mandato presidencial. Foi incompreendido e apodado de “novo fascista” pela oposição à sua esquerda.
Com a sua “Presidência de todos os Portugueses” e a difícil coabitação com Cavaco Silva, Mário Soares tornou habitual a liberdade entre nós. Já não é uma causa de combate ou uma promessa de perfeição, mas fundamentalmente é um modo de vida que aprendemos a usufruir tranquilamente.
A homenagem a Mário Soares que a Federação do PS no Porto realizou no passado dia 23 de Abril, no Rivoli, foi uma demonstração dessa mesma reconciliação. Os testemunhos dos seus “amigos do Porto”, de todos os quadrantes políticos, mostraram como era abrangente a sua ideia de liberdade e como os portugueses se sabem unir na sua defesa. Obrigado Mário Soares.