Felizmente, hoje, os computadores permitem-me redigir este artigo sem as rasuras inestéticas que, por vezes, temos de fazer quando escrevemos com tinta. Em exames formais sem recurso às modernas tecnologias uma rasura pode comprometer – e muito – a estética do documento. Por isso, num mundo onde a aparência conta, procuram-se soluções para atenuar o problema. A Câmara Municipal de Lousada já pensou no assunto e aplicou medidas no sentido de melhorar a estética dos testes escritos realizados no âmbito de concursos públicos de admissão de pessoal. Os candidatos realizam os testes psicotécnicos a lápis, apagam quando se enganam, voltam a escrever e, no final, o trabalho está “um brinco”. Nota vinte na apresentação. Este foi um dos temas abordados na reunião de Câmara desta semana pelo vereador Leonel Vieira, a quem o procedimento causa, obviamente, estupefação.
Anda uma criança desde o primeiro ciclo do ensino básico a realizar testes a tinta permanente e exames seríssimos, em que é proibido o uso do lápis, tendo de recorrer a procedimentos previamente explicados para proceder a qualquer emenda, quando afinal era tudo tão fácil! Bastava que pudesse recorrer ao lápis! E assim o mundo seria bem mais belo. Estará já o Ministério da Educação a equacionar a adoção desta medida nos exames nacionais?
Por falar em regras e regulamentos, nesta reunião de Câmara, também ficamos a saber que, como dizia o nosso Camões, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Vem este comentário a propósito do subsídio atribuído às juntas de freguesia para a construção das casas mortuárias, que ronda os 50 000 euros. As juntas mais poupadinhas que não gastavam este montante teriam direito apenas ao valor gasto. Melhor seria gastarem os 50 000 e fazer uma obra como deve ser, pensará o leitor. Precisamente para acautelar a equidade, o vereador Leonel Vieira, no passado, propôs a atribuição do mesmo montante a todas as juntas, independentemente do valor despendido. Proposta recusada, obviamente. Um “não” escrito a lápis, agora apagado e substituído por um “sim”.
O caso diz respeito à Junta de Freguesia de Macieira, no anterior mandato, liderada pela Coligação Lousada Viva, que despendeu um montante inferior ao referido, tendo a Câmara atribuído um subsídio igual ao valor investido. O tempo passou, a junta é hoje liderada pelo PS. Não sei se a lápis ou não, mas o facto é que na ata da última reunião de Câmara ficou exarado o valor de 22000 euros atribuído à Junta de Freguesia de Macieira, para além do montante que a mesma despendeu na construção do edifício referido. Será caso para dizer “mudam-se as cores partidárias, mudam-se as vontades”?
Em suma, o lápis é, de facto, um auxiliar de escrita muito útil: mais ecológico, delével, mas não transparente…