A distância entre querer e ter

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Agora que já terminaram as eleições autárquicas é, para nós, o tempo de dizer o que não dissemos. É o tempo de afirmar que, apesar de termos ido votar, o fizemos com a convicção de que não encontrávamos na nossa terra nem nas outras que olhamos aquilo que consideramos essencial ao retorno a uma nova esperança.

Aspirámos, no último ato eleitoral, a coisas tão simples como, por exemplo:

 – Queríamos um poder local, em que os autarcas, em vez de reclamarem só o voto, se propusessem a ouvir mais os cidadãos. Que a democracia representativa não fosse uma caixa fechada, cega, surda e muda, perante o desespero dos cidadãos que, mesmo que se sentissem representados, pudessem participar mais nas e das deliberações que a todos dizem respeito. Foi assim, ouvindo os cidadãos, que, em Paredes, foi recuperado o pavilhão gimnodesportivo municipal, uma obra que já tinha mais de 30 anos, mas cuja necessidade era e é ainda indiscutível. Falta agora respeitar os compromissos assumidos até ao fim e recuperar todo o complexo desportivo das Laranjeiras para o domínio público, para que toda a comunidade que se movimenta por ali, aos milhares e diariamente, possa beneficiar de um espaço que já foi seu. No fundo, recuperar de alguns dos anos de marasmo a que nos tínhamos resignado.

Desejávamos que, antes das promessas de fazer mais (ainda mais, diziam alguns), nos dessem a certeza de que iriam fazer melhor, fazer o mais certo, e nos explicassem porque eram essas as necessidades e não outras. Sobretudo que nos apresentassem um diagnóstico de cada concelho e nos propusessem soluções para os problemas que cada um tem e porque, em muitos casos, as necessidades são comuns, nos tivessem também apresentado soluções conjuntas para a resolução de problemas que hoje já não são suportáveis por cada município sozinho. As soluções intermunicipais são, há muito, o caminho mais curto para encontrar as melhores soluções que resolvem os problemas maiores. Em vez disso, prevaleceu a mentalidade paroquial. De tal maneira que, de forma paradoxal e completo absurdo, houve municípios a anunciarem obras nos concelhos vizinhos porque não as queriam nas suas terras. A construção da fábrica do lixo em Baltar é o exemplo mais estapafúrdio do que atrás fica dito.

Aspirávamos a que nos tivessem apresentado soluções para os graves problemas ambientais que assolam a região. A bacia hidrográfica dos rios Sousa e Ferreira, cada dia mais inviável, quase não mereceu referência nos diferentes municípios por qualquer dos partidos. Imperdoável, se quisermos algum dia viver com qualidade nesta região.

Contentávamo-nos com comprometimentos simples que levassem ao apoio de iniciativas concretas que criassem e promovessem a sustentabilidade social e económica. Ficaram-se por estados de alma que só nos permitem prever que as estratégias de desenvolvimento global continuarão subordinadas às lógicas de rivalidades concelhias. Que políticas de desenvolvimento económico e social existem para a região? Nenhuma. Apenas propostas ocasionais e avulsas apresentadas em vésperas de eleições. É caso para perguntar para que serve a Ambisousa? Se existir apenas para dar emprego às versões locais de “boys&girls” deixa-nos o pressentimento de que de tão importante depressa passará a excrescência.

Seria pedir muito aos vencedores que não ignorassem, sem outras razões, as propostas das oposições? Seria excessivo pedir às oposições que as diferenças de opinião- quando existem- fossem apenas motivo para preparar a alternativa, indispensável a uma democracia saudável?

– E porque não o comprometimento dos vencedores com os horizontes previsíveis para o final do mandato na freguesia ou no município?

 Pela nossa parte preferíamos estas coisas simples e pequenas às duplicações de obras anunciadas, aos anúncios de coisas novas que mais não são do que fazer o que já foi feito. Por vezes – sempre, dizemos nós- é mais importante colocar e pintar uma passadeira para peões no sítio certo do que prometer fazer uma piscina nova destruindo a que já existe.

Duma coisa estamos certos: a qualidade das políticas seguidas define a qualidade de vida que os concelhos oferecem aos seus habitantes. Melhores políticas darão sempre origem a melhores cidadãos.