A crise vista cá da aldeia

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Qual crise? É a primeira pergunta que nos ocorre.

Ah…o PC votou contra o orçamento. Se fosse comunista faria exactamente o mesmo. A geringonça suportada apenas pelo PC estava a tornar-se numa agonia insuportável. De cada vez que o partido reivindicava e obtia reconhecimento das suas propostas, sempre a favor de quem trabalha, nas eleições seguintes era penalizado.

Será justo pedirmos a um partido que lute pelos nossos direitos e depois castiga-lo eleitoralmente por nos defender? Será justo votar naqueles que, se pudessem, nos manteriam ainda sem os direitos entretanto resgatados por força da luta da CDU? Será justo votarmos naqueles que só aceitaram as reivindicações dos comunistas, contra a sua vontade, e apenas para se manterem no poder.

Aqui, da aldeia que dispensa o excesso de comentadores, a maior parte deles meros porta-vozes do poder instalado (mais evidente quando tentam disfarçar), não acompanhamos o “rebanho” dos que nos querem convencer que a culpa da queda do governo é dos comunistas.

Para nós, primeiro lugar, a culpa é do presidente da república que não soube ler os sinais que a conjuntura evidenciava. Não foi capaz de perceber que o PC quando diz não, não está a dizer “nim”, como tantas vezes Marcelo faz. Não percebeu, ou percebeu e fez de conta, que a queda do governo era mais vontade de A. Costa do que dos partidos, incluindo o seu. Não se apercebeu, ou percebeu e era o que queria, que o voto favorável do PC neste orçamento, mais do que resolver o problema de Costa, prejudicava toda a esquerda e sobretudo os comunistas. E disso, Marcelo não se importaria, cremos nós.

Torna-se portanto evidente que, mais do que condenar o PCP por não votar favoravelmente o orçamento, devemos reforçar a aposta nos que são confiáveis. Aliás, fazendo a vontade ao próprio presidente do PS que é incapaz de afirmar que quer uma maioria absoluta. Isso deixa transparecer aquilo que realmente pensa.

Perante este cenário parece-nos que, aos socialistas, só resta reforçar o voto na CDU. Com isso mantêm viva a chama de quem luta pela valorização do trabalho e fazem a vontade a A. Costa que, tem-lo dito muitas vezes, mais do que a maioria absoluta quer uma maioria de esquerda. E não deve estar a enganar-se ou a querer enganar-nos.

Da direita se poderá fazer leituras diferentes, mas será assunto de próxima crónica. No entanto, não nos parece que numa semana mudemos de ideias. E, para nós, bonito, bonito era ver Rio a vencer Rangel e Francisco a ganhar a Melo.