A coragem de dar a cara

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Na última semana, o presidente da Câmara Municipal de Lousada, Pedro Machado, veio a público denunciar perfis falsos que circulam nas redes sociais utilizando o seu nome e a sua imagem, difundindo conteúdos que visam atingir a sua reputação e a do seu executivo. Perante a situação, o autarca decidiu avançar para tribunal para pôr cobro à difamação e responsabilizar quem se esconde por detrás de identidades fictícias para lançar suspeitas e alimentar polémicas.

Infelizmente, este não é um caso isolado. Estamos em ano de eleições autárquicas e, como já se tornou tradição na política local e regional, os esgotos digitais transbordam sempre mais nesta altura. Em quase todos os concelhos da nossa região, multiplicam-se perfis anónimos que se dedicam a espalhar desinformação, lançar insinuações e, muitas vezes, recorrer à mais pura e rasteira difamação.

Os alvos são quase sempre os mesmos: quem exerce o poder e, em alguns casos, quem se atreve a desafiar esse mesmo poder. E se algumas das denúncias podem até ter algum fundo de verdade – e muitas vezes têm –, o problema não está no conteúdo em si, mas sim na forma cobarde e manipuladora como estas campanhas são conduzidas.

Se em Lousada o assunto é sério, em Paredes, este fenómeno atinge uma escala ainda mais preocupante. Não estamos apenas a falar de perfis falsos a espalhar suspeitas e ataques ao atual executivo municipal. Estamos a falar de publicações patrocinadas. Ou seja, há quem esteja disposto a investir dinheiro, garantindo que a difamação e a manipulação chegam ao maior número possível de pessoas.

Isto diz muito sobre a forma como alguns ainda encaram a política. Para estes estrategas da sombra, não é preciso debater, não é preciso apresentar soluções, não é preciso ter ideias. O objetivo não é construir nada – basta manterem-se escondidos atrás de perfis falsos e páginas sem rosto.

Mas a verdade é que este tipo de estratégia não eleva o debate político, não esclarece os eleitores e não contribui para um concelho melhor. Apenas alimenta a desconfiança e o descrédito na política. E pior: expõe uma total falta de coragem. Porque quem tem argumentos válidos, quem acredita naquilo que defende e quem quer verdadeiramente mudar o que está errado, não se esconde atrás de perfis falsos, dá a cara.

Podemos – e devemos – criticar os executivos municipais pelos erros cometidos. Há muito por onde pegar. No caso de Paredes é precisa mais transparência, mais visão estratégica, mais desenvolvimento sustentável. Mas isso deve ser feito de forma honesta, com coragem e frontalidade.

A política autárquica não pode ser reduzida a uma guerra suja de sombras, onde uns tentam destruir os outros sem sequer mostrar quem são. Porque, no final, quem perde não são apenas os alvos das campanhas de difamação – somos todos nós.

E é exatamente para isso que existe a Imprensa. Se há algo que merece ser exposto por ser prejudicial à sociedade, deve ser denunciado a um jornalista, que o tornará notícia de forma séria e responsável. Aqui, damos a cara, assinamos o que escrevemos e assumimos cada palavra publicada. Porque a democracia exige transparência, ética e coragem – qualidades que os perfis falsos jamais terão.

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