Nuno Morais, natural de Paço de Sousa, fez-se jogador nas escolas de formação do Futebol Clube de Penafiel. Tinha começado o percurso no futebol profissional há pouco tempo quando o seu talento despertou a atenção do Chelsea de José Mourinho, com quem assinou contrato durante três anos. Uma experiência que não o levou à ribalta, mas que lhe permitiu aprender muito. Pelo meio, o médio teve uma passagem de uma época pelo Marítimo, a título de empréstimo.
Mas foi quando foi jogar para o Apoel FC, em Chipre, que Nuno Morais conseguiu dar provas do seu valor. Hoje, o jogador de 32 anos, que acaba de sagrar-se campeão pelo clube cipriota pela sexta vez (em nove anos), diz-se reconhecido pelos adeptos e não esconde que, para já, não pensa regressar a Portugal.
Além de ter conquistado mais um campeonato, o penafidelense bateu recentemente um recorde: É o jogador estrangeiro com mais jogos realizados na história do futebol no Chipre.
No coração guarda dois emblemas nacionais, cujos percursos vai acompanhando à distância. O Futebol Clube do Porto e, claro, o Futebol Clube de Penafiel.
Passou pelo Chelsea e pelo Marítimo
Nuno Miguel Barbosa Morais nasceu em Paço de Sousa em Janeiro de 1984. Estudou sempre pelo concelho. Era um “aluno médio” que “quase… acabou o 12.º ano”, confessa. É que nessa altura, já era o futebol que se impunha na sua vida. Começava a dar os primeiros passos como profissional na equipa do Futebol Clube de Penafiel.
Foi no clube duriense que iniciou a sua caminhada como futebolista. Num daqueles acasos do destino que, só mais tarde, fazem sentido. “O meu irmão mais velho queria ser jogador e eu fui por arrasto. Tinha 9 anos”, conta.
Os bons resultados conseguidos nas camadas jovens foram alimentando o “bichinho” de ser jogador profissional de futebol. Chegou à equipa principal do FC Penafiel aos 17 anos. E o bom desempenho no Penafiel acabou por abrir-lhe as portas do Chelsea. Tinha acabado de renovar contrato e o clube penafidelense tinha subido à primeira divisão. “Foi quando o José Mourinho foi para o Chelsea e eu fui para lá treinar à experiência”, recorda o atleta, que já era agenciado pela GESTIFUTE, empresa de gestão de carreiras de profissionais desportivos, liderada pelo ‘super-agente’ Jorge Mendes.
Ficou na equipa “B”, mas não cruzou os braços e aproveitou a oportunidade. Três meses depois, já treinava com a equipa principal e começava a sua história no futebol internacional. “Foi uma experiência óptima. Trata-se de futebol de alto nível e eu tentei aprender ao máximo”, garante o penafidelense. Só que raramente era chamado a usar as cores do Chelsea pela equipa principal. No segundo ano de contrato, foi emprestado ao Marítimo, tendo a oportunidade de jogar, pela primeira vez, na I Liga em Portugal. Foi também na Madeira que viu a família aumentar com o nascimento do primeiro filho.
Esperava ficar em Chipre um ano ou dois, mas já lá vão nove! E não se arrepende.
Voltou a Londres no ano seguinte para cumprir o terceiro ano ao serviço do Chelsea. Fez alguns jogos pela equipa principal, mas a maioria das vezes voltou a vestir a camisola pela equipa “B”.
Ainda assim, destaca a “experiência fantástica” que foi trabalhar com o melhor treinador do mundo, José Mourinho, e com toda a equipa técnica e de jogadores. “Aprendi muito a nível profissional e pessoal durante esses dois anos da minha vida”, refere Nuno Morais, destacando o apoio de grandes jogadores e colegas como Makelele, Didier Drogba e Frank Lampard.
A ida para o Apoel FC, no Chipre, em 2007, surgiu de forma inesperada. “Sabia onde ficava Chipre?”, perguntamos. “Sabia mais ou menos…”, confessa a rir. Juntamente com Jorge Mendes avaliou a proposta do clube cipriota. Como queria jogar numa liga mais competitiva, na equipa principal, aceitou. Esperava jogar lá um a dois anos. Já lá vão nove. E não se arrepende.
No início, confessa o jogador, a adaptação não foi fácil. Não foi logo convocado para jogar e chegou a estar prestes a sair do clube. Até que a lesão de um colega lhe permitiu mostrar o que sabia fazer. “As coisas começaram a mudar e tenho feito um bom percurso”, acredita o futebolista de Penafiel.
Os últimos anos têm sido os melhores na história do Apoel FC e na história do Chipre no futebol europeu. Desde que está no Apoel, Nuno Morais já foi seis vezes campeão nacional. O clube é, actualmente, tetracampeão da liga cipriota. “E chegamos à Liga dos Campeões três vezes”, salienta o atleta. “É a única forma de mostrarmos o nosso valor e qualidade à Europa. Infelizmente, ninguém vê um jogo de um clube do Chipre a não ser os cipriotas”, lamenta.
Na Liga dos Campeões, o melhor resultado do Apoel, um marco histórico, foi chegar aos quartos-de-final da prova, em 2012. Na altura, foram derrotados pelo Real Madrid. E Nuno Morais teve a oportunidade de competir com Cristiano Ronaldo.
Jogador acaba de bater um recorde
Olhando para trás, “ir para Chipre foi uma decisão acertada”, garante o penafidelense.
Vive num país com bom clima, com pessoas apaixonadas pelo futebol e onde há boa qualidade de vida. O seu terceiro filho nasceu lá e os três meninos já frequentam as escolas de futebol de formação do Apoel FC. Tem uma vida tranquila, com tempo para fazer o que gosta e ainda estar com a esposa e os filhos.
“Nunca sabemos o futuro, mas para já não penso sair do Chipre”, afirma o jogador, que se sente acarinhado pelos adeptos cipriotas. “Há reconhecimento pelo meu trabalho”, garante.
Mas também há motivos para isso. Nuno Morais acaba de bater um recorde. É o jogador estrangeiro com mais jogos na história do futebol em Chipre: vai em 253 com a camisola do Apoel (o recorde anterior era de 251 jogos). Foi também um dos médios europeus com mais minutos de jogo esta época.
Por isso, não é de estranhar que o jogador confesse que ainda não sabe se vai voltar a Portugal um dia. “Ainda quero continuar a carreira de jogador por mais alguns anos. Ainda é cedo para pensar nisso”, diz.