Por estes dias, em Paredes, PS e PSD celebram a compra dos terrenos do antigo Complexo Desportivo das Laranjeiras e o regresso dos mesmos à propriedade municipal. O PS reclama para si os louros de ter conseguido fechar o negócio da compra dos terrenos. Por sua vez, o PSD reclama para si o início desse tal processo administrativo e afirma-se o “pai da criança”. Parece-me que nem uns nem outros têm motivos para festejar: o PS, porque se limitou a dar seguimento a um acto administrativo iniciado em 2017 pelo anterior executivo; o PSD, porque esse acto administrativo foi uma tentativa de emendar a mão num negócio falhado.
Na verdade, a compra dos terrenos do Complexo Desportivo das Laranjeiras é apenas o culminar de um episódio negro do urbanismo na cidade de Paredes. Como na política a memória costuma ser curta, importa recordar que, caso se tivesse concretizado o negócio iniciado em 2008, toda aquela zona da cidade de Paredes estaria requalificada: teríamos um espaço comercial idêntico aos que existem em Penafiel, Paços de Ferreira e Valongo, teriam sido criadas dezenas de postos de trabalhos e a cidade tinha ganho um grande pavilhão multiusos, que neste momento não tem.
Mas por que é que o negócio da construção de um centro comercial e um pavilhão multiusos falhou? Ora, todos aqueles terrenos do antigo complexo desportivo foram vendidos em 2008 à Guedol, que, na altura, pagou 8,5 milhões de euros. A Câmara Municipal de Paredes aplicou esse dinheiro na compra de outros terrenos numa zona fora da malha urbana da cidade e começou ali a construiu um outro complexo a que chamou Cidade Desportiva.
Um ano depois, em 2009, os herdeiros da senhora que tinha doado o terreno do antigo Estádio das Laranjeiras ao União de Paredes, em 1926, recorrem ao Tribunal para exigir a sua devolução. Na altura, os herdeiros defendiam que o contrato de doação previa a sua reversão, caso o terreno doado deixasse de servir os fins desportivos a que se destinava. Só que, quando os herdeiros reclamaram a reversão do contrato, o terreno já não era do União de Paredes há mais de 13 anos, pois tinha sido penhorado e vendido em hasta pública para pagar dívidas contraídas pelo clube.
De facto, o terreno tinha sido adquirido, por 75 mil euros, em 1998, pela Nortecoope, e para evitar que o União de Paredes ficasse sem instalações desportivas, a Câmara Municipal comprou o terreno à Nortecoope e desde aí o clube passou a utilizar de graça as instalações que não eram suas.
Quando o tribunal deu razão à Câmara Municipal de Paredes, o país já tinha entrado em crise económica, a Guedol – que tinha investido 8,5 milhões e aguardava a decisão judicial para começar a obra – faliu e todo aquele espaço ficou ao abandono. Por isso, era uma obrigação a Câmara Municipal tentar reaver aqueles terrenos que estavam à venda em hasta pública. Coisa bem diferente é querer recuperar todo aquele espaço e, mais grave ainda, é colocar a hipótese de o União de Paredes voltar a jogar ali.
Com este episódio negro do urbanismo na cidade de Paredes, a Câmara fica com uma “cidade desportiva” por concluir e um espaço no centro da cidade que tem que reabilitar. Em vez de tentarem mostrar quem teve mais mérito num negócio que representa o fracasso, PS e PSD deveriam parar para pensar se não valeria a pena tentar encontrar outro investidor para aquela zona, que cumpra no essencial o projecto inicial, e com o dinheiro da venda concluir a Cidade Desportiva.
É certo que a decisão causaria ruído junto dos adeptos mais fervorosos do União de Paredes, mas se PS e PSD chegassem a um entendimento e explicassem a situação à população, certamente que esta, na sua maioria, compreenderia que há não dinheiro para tudo e daria valor a uma decisão que fosse sensata e responsável, longe do populismo do momento.