Há falta de habitação para comprar e arrendar em Paços de Ferreira. O presidente da Câmara Municipal estima que seja necessário construir no concelho cerca de 10 mil alojamentos para que fique dentro da média nacional.

“Temos cerca de 15 mil prédios de habitação, o que corresponde a cerca de 21 mil alojamentos. Para chegarmos à média nacional precisamos de construir mais 10 mil habitações. Há um mercado potencial porque o concelho está muito longe de chegar a essa média. Esperamos que mais investidores queiram fazer aqui os seus projectos”, defendeu Humberto Brito durante um périplo por vários investimentos privados em curso no concelho.

Segundo o autarca, a média nacional é de 1,7 habitantes por cada habitação, sendo que em Paços de Ferreira, com cerca de 57 mil habitantes, essa média é de 2,7. Construir mais 10 mil fogos é “um número ambicioso”, reconheceu, mas sustentou que as duas grandes cidades do concelho têm condições para acolher mais habitação, havendo até benefícios no âmbito da regeneração urbana em curso, com isenções de IMI, IMT e IVA a 6%.

“A oferta é escassa, face à procura pelo concelho. Queremos continuar a apostar e a apoiar todos aqueles que queiram vir para cá investir e também quem queira vir para cá morar”, afiançou o presidente da Câmara.

Nesse sentido, avançou que o município quer criar uma Linha Verde para o investimento na área da habitação. “O licenciamento na hora está instituído desde que entrei em funções. Um investidor não pode esperar. Temos um prazo médio de oito dias para responder aos projectos, salvo raras excepções, desde que os técnicos sejam exímios no cumprimento das regras legais. Há casos em concreto em que a resposta pode ser na hora”, assegurou Humberto Brito.

Mais que ter habitação em número, o edil diz querer “boa construção, com muita qualidade, a nível técnico e estético”.

Há edifícios que ainda não estão construídos e já estão praticamente vendidos, tal a procura

A visita realizada a um conjunto de investimentos na área de habitação em curso no concelho foi direccionada aos jornalistas. Incluiu passagens por um projecto de habitação para seniores, criação de novos apartamentos no centro da cidade e por um edifício antes destinado a exposição de móveis que foi reconvertido em habitação e colocados no mercado de arrendamento.

Só nos quatro investimentos privados visitados estão a ser criadas cerca de 120 novas habitações de diferentes tipologias. Em alguns casos, a construção ainda não começou e a maioria dos apartamentos já foram vendidos, tal a procura.

Silvestre Bastos é um dos empresários que está a investir no concelho, algo que tem vindo a fazer desde a década de 90. Neste momento, tem em curso, além de um edifício em fase de conclusão, que tem 28 apartamentos, “já todos vendidos”, dois novos projectos. O OffFerrara, integrado num condomínio privado, vai criar dois blocos de apartamentos, um de 30 e outro de 24 fogos, de tipologias T2 e T3. “É uma construção que está com o estudo prévio feito, em breve iremos entrar com o projecto de especialidades e arrancar com a obra”, promete. A previsão é que estejam concluídos em três anos.  Já o Varandas da Encosta, na Encosta de São Domingos, inclui 27 apartamentos e já está em construção. Dez também já estão vendidos. “Existe procura, não há é para entrega imediata. Tudo o que está feito e com obra em curso está praticamente vendido”, diz Silvestre Bastos.

No centro de Paços de Ferreira, onde “há 20 anos não havia nova construção no coração da cidade”, vai nascer o Empreendimento “Gol & Gre”. Terá oito apartamentos, com garagem individual para dois carros, e oito lojas com 20 parques de estacionamento num piso exclusivo. “É um espaço que junta habitação e comércio e tivemos a oportunidade de aproveitar a regeneração urbana. É quase meio quarteirão”, destacam os sócios Nuno Oliveira e Joaquim Pereira. “Quisemos criar um edifício que ao mesmo tempo pudesse dar uma frente com lógica urbana de comércio e depois permitir a criação de habitação, num nível mais elevado”, salientam ainda. O investimento só estará concluído daqui a dois anos, mas já 60% dos espaços estão vendidos. “O comércio está todo vendido”, sustentam. Um T2 custa a partir de 155 mil euros, dão como exemplo. Ainda assim, “bem mais barato que o metro quadrado no Porto”.

Paços de Ferreira tem ingredientes que tornam o concelho atractivo, diz autarca

Junto ao Parque Urbano, numa zona já reabilitada, a empresa Rectaguarda 25, dedicada à construção e investimentos imobiliários, vai criar um empreendimento para habitação chamado “Condomínio Privado do Parque”.  Segundo Pedro Andrade, trata-se de um projecto diferente no concelho, com 26 habitações que está a arrancar e estará concluído em dois anos. “Um terço do empreendimento já está vendido”, testemunha. Custam a partir de 180 mil euros, dependendo da tipologia. “Estamos com um investimento em Penafiel e achamos que o mercado de Paços de Ferreira precisava de habitação. Resolvemos investir aqui”, justifica.

Humberto Brito acredita que a procura por Paços de Ferreira vai continuar e diz que o município vai continuar a incentivar o investimento em novos espaços. No Porto “o preço da habitação é proibitivo para os rendimentos dos portugueses” e, em Paços de Ferreira, há “todos os ingredientes” para que o concelho seja atractivo, diz: proximidade geográfica ao Porto, qualidade de vida, desenvolvimento económico e emprego a ser criado.

“O registo do desemprego em Paços de Ferreira é residual, quando a nível nacional é de 6,8 em Paços de Ferreira é de 4,8, dois pontos abaixo da taxa nacional”, sustentou. “Há aqui emprego também. Todos os anos nascem imensas empresas neste concelho. Nos últimos cinco anos foram mais de 800 e a nossa população activa, cerca de 40 mil pessoas, não é suficiente para preencher os postos de trabalho que existem no concelho. Nós importamos mão-de-obra dos concelhos vizinhos”, lembrou o autarca.

Concelho vai ter residências seniores autónomas com apoio geriátrico

Em curso está ainda outro projecto diferenciador, um empreendimento habitacional sénior. Um conjunto de 19 residências seniores autónomas, em dois sentidos, explica o investidor. “Trata-se de uma aldeia geriátrica”, um conceito que não é novo e que existe muito lá fora, “as residências são autónomas porque são casas em que ninguém presta contas a ninguém e cada um tem a sua chave e porque as pessoas vêm para aqui com autonomia”, refere José Bastos. Se, entretanto, as pessoas ficarem dependentes, haverá uma prestação de serviços que assegura que podem manter-se nas mesmas casas, com apoio geriátrico.

Nesta primeira fase, o investimento é de cerca de 600 mil euros. “Este ano ficarão prontas as cinco primeiras casas e em três anos estará concluído”, acredita José Bastos.

No futuro, de acordo com a disponibilidade financeira, o objectivo é “fazer um hotel geriátrico noutro lote, com um contexto mais de lar, mas isso em quatro ou cinco anos”. Um outro projecto passa pela criação de uma unidade para doenças neurodegenerativas, como alzheimer e outras, num “espaço verde e pacato” contíguo.

Presidente da Câmara quer antigos espaços de exposição de móveis convertidos em habitação

Na Rua da Raivosa, em Carvalhosa, nasceu um espaço habitacional, para arrendamento, que o presidente da Câmara espera ver replicado noutros pontos do concelho.

“A ideia era fazer comércio, mas tivemos que nos adaptar”, disse Lino Costa. Transformou então o espaço construído em apartamentos. “Aproveitamos as paredes existentes, a estrutura, e fizemos 10 apartamentos. São todos T2 com lugares de garagem. Para já o objectivo é o arrendamento”, explicou. “Estão todos arrendados. Há muita procura”, garante Lino Costa, referindo que as rendas rondam os 400 euros.

“Esse é um desafio que lançamos aos proprietários de imóveis no concelho que têm exposições, muitas delas devolutas ou que não estão activas. Podem e devem seguir este exemplo, porque o município está disponível para criar uma linha verde para a transformação destes espaços em zonas habitacionais”, sublinhou Humberto Brito.