Conceição Magalhães, de 85 anos de idade, residente na Rua Nova, em Entre-os-Rios, é a única representante do concelho de Penafiel, que apesar de já estar aposentada, sabe confeccionar a papuda, um doce regional que se assemelha ao tradicional biscoito.
A octagenária será uma das convidadas da I Festa da Papuda, uma iniciativa da Confraria da Lampreia de Entre-os-Rios, evento que tem como objectivo dar a conhecer este doce regional reabilitá-la junto das outras doceiras e introduzi-lo nos restaurantes como sobremesa.
Ao Verdadeiro Olhar, Conceição Magalhães, mãe de 11 filhos, destacou que aprendeu a confeccionar a iguaria com a mãe desde tenra idade.
“Era criança e já ia com a minha mãe vender papudas nas feiras, romarias e festas. Depois comecei a fabricar a papuda, auxiliando a minha mãe. Quando ela morreu tomei conta do negócio”, disse, salientando que além do concelho de Penafiel, em Lagares e Capela, chegou a vender a papuda em Cete, concelho de Paredes.
“Percorria as romarias e as festas todas. Os meus doces eram muito conhecidos”, explicou, salientando que ainda a sua mãe era viva e já trabalhava por conta própria.
“Casei muito nova e, à data, as dificuldades eram muitas. Tive 13 filhos, dois faleceram, pelo que tive de começar a trabalhar muito nova. Muitas vezes ia vender a pé. Quando tinha que me deslocar para mais longe, o meu marido levava-me de motorizada para as feiras e romarias”, frisou, sublinhando ter estado muito anos em Entre-os-Rios a vender a papuda, junto à Ponte Duarte Pacheco.
“Sempre fui vendedora ambulante. Nunca tive mesa. Tinha um tabuleiro, embrulhava meia dúzia de papudas num cesto, tapava-as e entregava-as aos automobilistas que passavam”, declarou, afirmando ter, também, vendido junto ao restaurante Miradouro, unidade de restauração que já há data era uma referência no concelho.
Falando da forma de confeccionar a papuda, Conceição Magalhães explicou que se trata de um doce feito da mesma massa do biscoito, cujo fabrico exigia tempo e muita força de braços.
Os doces tradicionais de Conceição Magalhães eram confeccionados com ovos frescos, farinha de padeiro e açúcar.
“A massa da papuda é muito idêntica à do biscoito. É uma massa que tem de ser devidamente trabalhava, leva farinha de saco de padeiro e fermento de padeiro. Também dá da outra farinha, mas o sabor não é o mesmo. Primeiro faço um fermento, deito açúcar, canela, limão na farinha e trabalha-se tudo à mão”, manifestou, salientando que o fermento tem que ficar a levedar durante umas horas, dependendo do fermento que levar.
“Depois de levedar verifica-se se a massa está fofinha, terminando com a pintura dos bolos e vai ao formo”, confessou, acrescentando que chegou a vender papudas pequenas, mas, também, papudas grandes, embora estas demorassem mais tempo a confeccionar e as tradicionais cavacas.
Conceição Magalhães, avó com 24 netos, realçou, também, que enquanto trabalhou não lhe faltavam clientes e encomendas.
“Cheguei a cozer muitos quilos de farinha que dava para fazer muitas papudas. Comprava aos sacos de 50 quilos”, confessou.
Sobre a forma de degustar este iguaria, Conceição Magalhães assegurou que pode ser saboreada como sobremesa ou degustada simplesmente sem nada.
“É um doce que se come bem”, afiançou.
Questionada sobre a I Festa da Papuda de Entre-os-Rios que vai decorrer já este sábado e a reabilitação deste doce, Conceição Magalhães reconheceu que é fundamental recuperar esta iguaria, embora se tenha mostrado céptica quanto à ideia de que o doce continue a ser vendido pelas doceiras da região.
“É um doce que dá muito trabalho a fazer. No meu tempo era tudo feito à mão, de forma artesanal. Era preciso fazer muito esforço de braços até que o processo ficasse concluído. Hoje, já não é assim. É tudo feito nas máquinas”, sustentou, sublinhando, no entanto, que gostava de ver a papuda fazer parte do cabaz das doceiras de Entre-os-Rios.