Durante o último mês, 224 crianças e jovens aproveitaram as férias para aprender mais sobre o património da região, no âmbito do Programa Férias de Verão da Rota do Românico. Um número que sobe para os 427 participantes se contarmos com um projecto especificamente direccionado para o concelho de Penafiel.
Este programa de férias da Rota do Românico consistiu na realização de actividades lúdico-pedagógicas, como visitas, oficinas e jogos, todas as tardes, em monumentos ou no novo Centro de Interpretação do Românico, em Lousada.
Dinamizado pelo Serviço Educativo, o projecto quer lançar a semente que permita à população valorizar ainda mais este património no futuro.
O Verdadeiro Olhar acompanhou a última actividade, realizada esta sexta-feira no Mosteiro de Ferreira, em Paços de Ferreira, que contou com 40 crianças.
O Românico, os romanos e as confusões do costume
Sentadas nas escadas com séculos de existência, 38 crianças e jovens de Carvalhosa, Paços de Ferreira, e duas de Pias, Lousada, ouvem as primeiras explicações. “Este é o Mosteiro de Ferreira e integra a Rota do Românico”, diz Joaquim Costa, guia e intérprete da Rota desde 2008. A seguir conta um pouco mais sobre o projecto que abrange 12 municípios e 58 monumentos.
Surge o primeiro alerta: “não confundam Rota do Românico com rota dos romanos. Há a tendência para confundir as duas artes. Isto não é romano”, salienta. Passando à história, Joaquim Costa ensina que o românico se prolongou do século XI ao XIV e dá a conhecer às crianças alguns elementos que as podem ajudar a identificar um edifício com características românicas, como a pedra, os arcos de volta perfeita, as colunas e o tipo de elementos esculpidos na pedra. “Era aqui que se enterravam as pessoas mais importantes e também onde se faziam festas religiosas”, dá como exemplo, referindo-se ao espaço entre muros, designado por nártex, mesmo em frente à igreja. “Mas ainda há mortos aqui”, questionam os meninos. Gera-se o burburinho.
Esclarecidas as dúvidas passam à lateral do Mosteiro, onde apreciam mais alguns elementos, e entram na Igreja. É ali que se dividem em grupos e se preparam para a fase seguinte da visita. Um peddy paper que vai testar os conhecimentos adquiridos.
“Queremos criar o gosto, apresentar o património da terra e que percebam a importância de o preservar e visitar”
Joaquim Costa faz estas visitas, no âmbito do serviço educativo, há oito anos. “As crianças acabam sempre por gostar, fica sempre alguma coisa e levam a mensagem para casa. Oferecemos sempre qualquer coisa para entregarem aos pais e despertar a curiosidade pela visita”, explica.
Ainda assim, nota que há muitas crianças que ainda não conhecem o projecto. “Sabem que são igrejas, mas não têm ideia do que é o românico”, diz.
Por isso, o serviço educativo quer lançar raízes para o futuro valendo-se do ditado popular ‘de pequenino se torce o pepino’. “Queremos criar o gosto, apresentar o património da terra e que percebam a importância de o preservar e visitar. No fundo, transmitir que isto é uma herança que devem preservar”, refere o técnico.
Durante o último mês, Emília Machado e Paula Monteiro, responsáveis pelo serviço educativo, realizaram um conjunto alargado de actividades. De segunda a sexta-feira houve visitas à Torre de Vilar, em Lousada, e ao Mosteiro de Ferreira, em Paços de Ferreira, ateliês que permitiram às crianças e jovens ser “fresquistas” por um dia, construir um monumento em 3D ou realizar jogos de descoberta da Rota do Românico, no Centro de Interpretação do Românico, em Lousada.
As reações a cada actividade são sempre diferentes, mas o feedback é sempre positivo, garantem. “Já tivemos meninos de Lisboa e até da China cujos pais vieram de férias para cá”, contam. Mas a maioria das 224 crianças que, em Julho, escolheu aprender mais sobre o património é de Lousada e de Paços de Ferreira.
Deste programa de férias de Verão levam a semente e podem aprender mais em casa consultando o canal juvenil disponível no site da Rota do Românico, onde podem aprender mais sobre a história, explorar os monumentos, testar os conhecimentos em jogos ou fazer visitas virtuais. “Saem daqui com interesse no património”, acreditam Emília e Paula, que fruto da boa adesão que o projecto teve neste primeiro ano acreditam que será para continuar.
“Quando chegar a casa vou contar o que aprendi”
Neste último dia, o grupo foi composto sobretudo pelas crianças e jovens do programa Verão Activo 2018 desenvolvido pela Junta de Freguesia de Carvalhosa. Entre as várias actividades dedicadas à saúde, desporto, cultura e história promovidas durante o mês de Julho, uma leva as crianças a conhecer os monumentos do concelho. “Além deste conhecemos a Citânia de Sanfins”, adianta José Maria Leão, membro do executivo da Junta de Carvalhosa, que acompanhou a visita. Este ano, integraram as actividades cerca de 50 crianças e jovens, divididos por dois períodos distintos. Esta sexta-feira, eram 38 os que visitaram o Mosteiro de Ferreira, sendo alguns deles repetentes.
“Há um manifesto interesse em conhecer o que nos foi legado e uma ânsia de aprender”, garantiu o autarca local.
Os jovens confirmam que gostaram da experiência. Leonor Moreira, de 11 anos, voltou pela segunda vez num mês ao Mosteiro de Ferreira. Antes, nunca lá tinha ido. A Rota do Românico conhecia da curiosidade que lhe despertavam as placas que vê na rua e de algumas informações recolhidas em aulas de história. “Gostei de vir cá. Aprendi que o românico e os romanos não são coisas iguais e que à frente do Mosteiro enterravam pessoas especiais e faziam festas”, destaca a menina de Carvalhosa. “Quando chegar a casa vou contar o que aprendi”, prometeu. Lara Isabel, de 10 anos, visitou o monumento pela primeira vez. “Sabia que existia, mas nunca cá tinha vindo visitar”, assume. “Foi interessante vir aqui. Fiquei a saber mais e é importante dar valor a estes monumentos. Na escola falamos sobre isto, mas foi pouco”, afirma.
“Foi uma semana divertida e aprendemos muitas coisas novas”
Os irmãos Francisco e Mafalda Branco, de 11 e nove anos de idade, são de Pias, Lousada. Passaram a última semana a dedicar as tardes às actividades promovidas pela Rota do Românico para ocupar as férias dos mais jovens. “Fizemos frescos em azulejo e uma Torre de Vilar em miniatura. Gostei muito”, explica Mafalda. “Eu já conhecia a Torre de Vilar por fora, mas não por dentro. E gosto muito de peddy papers. O único problema foi o meu medo das alturas”, refere Francisco. “A Torre tem 18 metros!”, acrescenta logo a irmã.
Os pequenos lousadenses dizem ter conhecimento que existem mais monumentos no seu concelho, apesar de não os conhecerem. Lamentam apenas que todos os dias tivessem que ouvir a mesma lição teórica sobre a Rota. Ainda assim, “foi uma semana divertida e aprendemos muitas coisas novas”, resume Mafalda Branco.
Recorde-se que a Rota do Românico assinala este ano os 20 anos do projecto e os 10 anos de portas abertas ao público.
Entre 2010 e 2018, as actividades do serviço educativo e do projecto pedagógico, que levam muitas vezes a Rota do Românico aos alunos das escolas dos 12 concelhos, envolveram 15.841 crianças e jovens, segundo dados da instituição. De realçar que todas as actividades para alunos e professores são gratuitas durante o ano lectivo. Nos últimos anos nota-se uma procura crescente por estes serviços que chegaram, em 2010, a 150 participantes e, em 2018, a 782 participantes.