Se há coisa que não vai bem ao oxigénio, é encontrar-se na situação de um átomo isolado. Se for produzido nesse estado, arranja logo companhia, nem que seja a de um outro átomo igual para formar uma molécula estável de oxigénio, ou O2. É assim ao jeito dos dois detetives das histórias do Tintim que andavam sempre juntos… até nas conversas: eram o Dupont (bigode de pontas para fora) e o Dupond (pontas para dentro).
Outras moléculas com oxigénio são o ozono, O3, que proteje os seres vivos da radiação ultra-violeta do Sol ou os milhentos óxidos da crosta terrestre ou ainda o peróxido de hidrogénio, o H2O2. Este é o componente da popular água oxigenada, um eficaz desinfetante, pois que atua libertando oxigénio atómico, muito reativo e eficaz a eliminar micróbios.
Mas do que queria mesmo tratar hoje é da água, cuja molécula se forma pela ligação forte de um átomo de oxigénio com dois de hidrogénio ao partilharem os respetivos eletrões. Acontece, no entanto, que o oxigénio puxa para perto de si os eletrões e fica com uma pequena carga negativa, deixando os hidrogénios também com uma ligeira carga elétrica, mas positiva. Por este facto e pela sua peculiar arquitetura, cada molécula de água é atraída pelas outras moléculas vizinhas, formando-se ligações fracas entre si, mas tão numerosas que a pequena molécula, em vez de um gás, constitui um líquido. Este, por sinal, tem de ser aquecido a 100 graus Celsius para entrar em ebulição, ao passo que para outros líquidos, de moléculas muito maiores, bastam temperaturas inferiores. Entre as muitas “virtudes” da água está a sua grande capacidade térmica, que lhe permite acumular elevada quantidade de calor: coisa muito oportuna para as botijas de água quente que por estes dias começam a apetecer.
Mesmo sem a seca extrema que atualmente se vive em Portugal, se sabe da importância da água para a vida humana, até considerando que do nosso corpo uns 60% são água. Alguém que soube disso chegou-se ao espelho, suspirou e exclamou: “Acho que aproveitei bem os outros 40%!”.
A água de que tanto se fala agora pela falta de chuva, é muito abundante, mas a maior parte não está em condições de ser usada para o consumo e a higiene das pessoas nem para as incontáveis aplicações industriais que dela necessitam. O nosso planeta possui ao todo uns 1360 milhões de quilómetros cúbicos (km3) de água, mas mais de 96% é água salgada dos oceanos. E da restante a maior parte reside nos glaciares (77%) ou em depósitos subterrâneos (22%), seguindo-se-lhes os lagos e mares interiores, a humidade do solo e a da atmosfera. No fim aparecem os rios com os seus 1250 km3, que em comparação parecem um pequeno borrifo… Até a atmosfera tem dez vezes mais água! Dava-nos muito jeito ter por perto um depósito subterrâneo como o aquífero Guarani que existe em parte do território do Brasil e de outros três países vizinhos: o seu volume de 45000 km3 é impressionante, com a fração explorável de 170 km3 por ano.
Não deixa de ser surpreendente que apesar da prolongada falta de chuva em Portugal exista uma razoável quantidade de água nas albufeiras das barragens. O Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos publicou os níveis da água nas principais doze bacias hidrográficas. Verifica-se que as reservas hídricas estão em média com 61% da capacidade máxima e 78% dos valores médios do outono. E mais surpreendente ainda é o facto de em três dessas bacias, como a do Douro, os níveis serem superiores à média outonal.
Merece especial referência a bacia do Guadiana, que com 85% dos valores médios outonais, inclui a grande albufeira de Alqueva. Este empreendimento, que poderá ter criado 20 mil postos de trabalho diretos e indiretos, baseia-se na formação de um dos maiores lagos artificiais da Europa, com os seus 4,15 km3 de capacidade máxima, o que representa 1/3 do total das 230 barragens portuguesas.
A água também tem os seus perigos, até inesperados, como observou alguém a quem garantiram que 15% dos acidentes de viação são causados por condutores que ingerem bebidas alcoólicas e que exclamou: “Então 85% dos acidentes são causados pelos condutores que bebem água! São perigosos esses gajos…”