Neste mesmo mês, mas em 2014, houve um surto de doença do legionário no concelho de Vila Franca de Xira. Tal como agora, desconhecia-se a origem, mas sabia-se onde estava o foco da infecção da bactéria Legionella pneumophila. E, neste caso, o foco estava numa fábrica de adubos.
Nessa altura, mesmo desconhecendo a localização exacta, dentro da fábrica, do foco da infecção, o Governo de então mandou encerrar imediatamente o complexo, alegando perigo para a saúde pública dos trabalhadores e dos moradores na região. Pouco tempo depois, descobriu-se que a bactéria estava concentrada nas torres de refrigeração da tal fábrica e daí a existir um processo-crime com nove arguidos foi um instantinho. E os partidos que agora formam ou suportam o Governo pediram então a cabeça do ministro do Ambiente.
Regressemos à actualidade. No início deste mês, foram detectados três casos de pessoas infectadas com a bactéria Legionella pneumophila no Hospital de S. Francisco Xavier, em Lisboa. Um dia depois, a directora-geral da Saúde (DGS) afirmava que a origem da bactéria estava na água quente do hospital público e que isso “não era um acontecimento extraordinário”. Por isso, o hospital manteve-se aberto e a funcionar normalmente.
Poucos dias depois, de três passamos para 19 pessoas infectadas. O hospital manteve-se aberto e a funcionar normalmente e a directora-geral da Saúde afirmou que “a bactéria [Legionella] é comum na natureza” e que, por isso, não há motivos para alarme. De 19 passámos para 26 pessoas infectadas. De 26 passámos para 30, de 30 para 38 e já vamos em 41 pessoas doentes devido à tal bactéria. O hospital manteve-se aberto e a funcionar normalmente. Entretanto, morreram duas pessoas e mais cinco estão internadas nos cuidados intensivos. O hospital continua aberto e a funcionar.
Mesmo sem ser especialista em saúde pública, fico sem saber se o encerramento de uma fábrica de adubos foi uma decisão precipitada e exagerada ou se manter um hospital público aberto e a funcionar, com centenas de pessoas a entrarem e saírem, é um acto de irresponsabilidade do Estado.
Entretanto, os mesmos políticos que em 2014 pediam a cabeça do ministro do Ambiente e dos administradores da tal fábrica de fertilizantes continuam em silêncio. A Entidade Reguladora da Saúde não diz nada sobre o assunto e a Direcção-Geral da Saúde vai tratando esta ocorrência como normal: “Estas bactérias vivem na água quente e temos tido um Outono particularmente quente”.