Óculos & Cª

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Fernando Sena Esteves“Que quereria ter, sem falta, se naufragasse numa ilha deserta?” Muitas pessoas a quem se fez esta pergunta responderam “Os óculos”. A resposta parece bastante óbvia, sobretudo para os entradotes em anos e que vão ficando mais e mais pitosgas. Apesar de que numa ilha deserta seria difícil descobrir situações em que os óculos pudessem fazer mais falta, como ler, escrever… ou usar o computador. Nos antigos ambientes rurais em que decorria maioritariamente a vida da maior parte da população e em que predominavam os iletrados, mesmo em classes mais favorecidas não havia o uso corrente de óculos, nem se sentiria muito a sua falta.

Uma exceção era a dos sacerdotes (ou presbíteros). A falta de vista dificultava-lhes a leitura dos missais e esta afeção que começa aí pelos 40 anos até recebeu a designação de presbiopia, popularmente “vista cansada”. Um dos remédios era o recurso a missais com grandes carateres que em tempos idos talvez fossem mais fáceis de conseguir que um bom par de óculos. Sinal de boa vista era a de uma senhora idosa que sem óculos conseguisse enfiar uma linha no buraco da agulha.

As deficiências da visão e muitas outras são as que os valentes paralímpicos têm de superar nas provas, como as que se acabam de realizar no Rio de Janeiro,onde os nossos atletas fizeram boa figura. Foram apenas 37, mas obtiveram nada menos de quatro medalhas de bronze e 25 diplomas por classificações entre os oito melhores do mundo.  Achei especialmente interessantes as oficinas que nestes jogos estavam ao dispor dos atletas para todo o tipo de reparações, desde cadeiras de rodas aos mais variados tipos de próteses.

Por falar em próteses, as dos dentes rivalizam com as dos óculos em variedade, modernidade, bons resultados… e custos elevados. É especialmente marcante a instalação de arames que corrigem, ao longo de muitos meses, a configuração dos dentes. Quer por razões funcionais ou simplesmente estéticas, por vezes com resultados espetaculares. A talhe de foice, recordo uma aplicação original… e animal: foi a de um dentista que conseguia colocar dentaduras em ovelhas, com o resultado de lhes prolongar a vida e manter a produção de lã por mais alguns anos.

E para terminar, uma história de cuja veracidade tenho algumas dúvidas. Num baile, um homem convidou uma jovem para dançar e foi uma valsa que lhes saiu em sorte. O homem tinha pouca queda para a dança e os movimentos um tanto desencontrados da moça atribuía-os à sua própria falta de jeito. Pior era, no entanto, a sua dificuldade em arranjar tema de conversa, e o que lhe saiu, depois de umas quantas voltas, foi “A menina gosta de queijo?” “Gosto, sim.” Mais umas voltas e nova pergunta: “E o seu pai também gosta de queijo?” “Gosta, sim.” Depois de mais uma série destas perguntas a respeito do resto da família e de mais umas quantas voltas, o homem pára de repente e diz: “A menina desculpe, mas noto-a mais alta do que quando começámos a dançar!” “É que o senhor roda sempre para o mesmo lado e está a desatarrachar a minha perna de pau”.