A afirmação foi proferida por Pedro Amaral durante a última Assembleia Municipal de Lousada, como critica à “continuidade” das políticas dos últimos anos, muitas vezes referenciada pelo executivo socialista. “Lousada continua a ser o mais pobre dos mais pobres quando é um concelho com um potencial extraordinário. É pena estar acorrentado ao pensamento do PS de há 30 anos”, advogou o eleito da Acreditar Lousada (PSD/CDS-PP).
O membro da Assembleia citou depois dados recentemente divulgados pelo Verdadeiro Olhar relativos ao baixo índice de poder de compra do concelho (abaixo da média da Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa); aos baixos salários médios praticados no concelho, também abaixo da média nacional; ao facto de as exportações terem crescido, mas muito abaixo dos concelhos vizinhos; e de ser dos concelhos da região com menos alojamentos abrangidos pela rede de esgotos.
Os dados, sustentou Pedro Amaral, são “a prova provada de que a continuidade é mais continuidade no poder do que de melhoria das condições sócio-económicas de Lousada”.
“Face a este cenário, qual é o projecto de desenvolvimento económico para o concelho para o resto do mandato?”, questionou.
A política dos salários mínimos
A questão do poder de compra também preocupa o PS, respondeu, primeiro, Eduarda Ferreira (PS). “Isto está relacionado, sobretudo, com o tecido empresarial da região muito ligado ao têxtil e aos salários mínimos. É preciso diversificar o tecido empresarial e este município está preocupado com isso”, frisou, dando como exemplos as apostas nas zonas empresariais de Lustosa e Caíde de Rei.
João Correia (PS) foi no mesmo sentido. “Já o seu antecessor nessa cadeira disse que é um problema do tecido económico. Estamos numa zona têxtil com política de salários mínimos e baixo valor acrescentado. Vemos os empresários em altos BMWs e os funcionários a ganhar o ordenado mínimo. Os empresários também têm se fazer o seu papel. Chegar aqui e imputar a continuidade da situação ao executivo é redutor”, afirmou o eleito.
Para Pedro Machado este índice de poder de compra “não é novidade nenhuma”. “O mesmo Pordata que citou reflecte que temos tido um crescimento contínuo, sempre que saem novos indicadores”, frisou o presidente da Câmara de Lousada. “Claro que isto é um problema, mas não se resolve de um ano para o outro”, avisou. Mas “o que importa é dar ênfase ao negativo. Isto é a continuidade da política do bota abaixo da oposição”, criticou o autarca.
“Disse que aumentamos as exportações, mas menos que os outros. Quem me dera a mim que os nossos vizinhos estejam bem. Quanto mais unida e forte estiver a região melhor para nós”, acrescentou o edil lousadense em resposta à coligação PSD/CDS-PP.
Sobre a água e saneamento, Pedro Machado lamenta que muitos ainda não estejam ligados à rede quando houve um “esforço orçamental tremendo por parte da autarquia para que as infra-estruturas básicas fossem feitas”. Para o presidente da Câmara a questão é cultural, mas ainda assim prometeu reforçar as campanhas de sensibilização para ligação à rede pública.
O empresário têxtil e o BMW
Mais à frente, Agostinho Gaspar, da Acreditar Lousada, lamentou que João Correia tivesse tomado o púlpito para “insultar”. “Eu tenho uma indústria têxtil e tenho um carro da marca que citou e luto todos os dias para pagar salários. Menos de 20% dos meus funcionários ganham o ordenado mínimo”, atirou. Salientou ainda que, apesar de já ter tido uma grande representatividade no concelho, a indústria têxtil é hoje minoritária e “nem sequer mão-de-obra tem quanto mais encomendas”. Concordou que é preciso diversificar o tecido empresarial e apelou a que se trabalhe nesse sentido.
“Não estava a falar de si, estava a falar de um lugar-comum”, justificou João Correia.
Pedro Machado voltou a tomar a palavra para acrescentar que a Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa está a trabalhar com um politécnico no sentido de dar à região o que precisa, segundo os estudos: transferência de conhecimento, inovação e centros de investigação. “Isso é que depois tem efeito multiplicador e de contágio”, defendeu, adiantando que há um projecto estruturante definido para Lousada na área do vestuário, a Fábrica do Futuro, cuja candidatura foi apresentada ao Plano de Recuperação e Resiliência.
“Na grande maioria das actividades económicas o maior problema é a mão-de-obra e o desafio demográfico”, sentenciou.