O inexplicável “dia de reflexão”

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É, seguramente, a maior excentricidade do sistema eleitoral português e, será, porventura, um caso raro em todo o mundo civilizado.

Por que carga de água se anda meses a falar quase só das eleições e na véspera do ato eleitoral se cria um dia para “refletir”. O que é isso? Que diferença faz mais vinte e quatro horas de chinfrim eleitoralista?

 Aliás, quando já não te cansas por tanto ter teres cansado de ouvir a ladainha costumeira porque te hão-de limitar a liberdade de te chateares, ou não, apenas mais um dia, depois de meses de berraria?

Alguém, de forma honesta e clara, nos convencerá da necessidade de um dia para estar calado, pensativo, reflexivo, como se fosse pecado falar de eleições na véspera do dia em que se realizam?

Em tempos de pandemia e com dois dias para votar a coisa assume formas também estranhas. Os que votaram na semana passada não “reflectiram”. O voto deles é válido, vale mais ou menos dos que, como nós, disporão desse “privilégio” amanhã?

Ou há democracia ou comem todos, diz, erradamente, a sabedoria popular. Há sempre uns que comem mais do que outros até porque não há democracias perfeitas. Há, sobretudo, algumas que não precisavam de ser tão “defeituosas”.

O “dia de reflexão” é uma invenção inexplicável. Se ao menos esse dia servisse para actualizar os cadernos eleitorais para dar mais autenticidade às eleições, por uma vez, mas só por uma vez, dávamos de barato a existência de um dia desses. Coisa estranha que em pleno séc. XXI, com os meios à nossa disposição, ainda não se tenha efectuado uma tarefa tão simples como esta. Evitávamos que alguns mortos “votassem”, afastávamos as suspeitas sempre presentes de alguém querer fazer uma “chapelada” com os eleitores que não existem e traríamos mais verdade e confiança aos resultados eleitorais.

O “dia de reflexão “ é uma bizarria que não se entende, mas já que existe, pela nossa parte, para cumprir a lei, exigimos um genuflexório. Se é para meditar, que se face com o rigor correspondente e com a classe que nunca devemos dispensar.

Por falar em dispensar, é coisa que não aceito no dia das eleições. Com reflexão, inflexão ou reversão e outras coisas terminadas em “ão”, lá estaremos no dia 30. Nunca sabemos a mesa em que votamos, mas escolhemos sempre o sítio onde colocamos a cruz.