“Daniel Faria: o silêncio e a palavra” é o nome da pelicula documental, realizada pela jornalista Marlene Maia, e que pretende contar quem era o poeta que nasceu em Baltar, Paredes, em 1971 e que desapareceu aos 28 anos, de forma trágica, após uma queda.
O princípio da poesia para Daniel Faria começou com Sophia de Mello Breyner. Leu-a e foi lido por aquela que foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões. Decorria 1999, precisamente o ano do desaparecimento de protagonista deste filme.
Daniel Faria gostava mais de estar em casa, mas nas idas à praia trazia búzios, conchas e pedras. Cada amigo de viagem lhe trazia uma. Esta paixão que durou uma vida, assim como o amor às palavras. Marlene Maia apaixonou-se por esta personalidade que não tinha nenhuma obra documental. E foi esta lacuna que, há cerca de um ano e meio, motivou a jornalista a transportar para um filme, tudo aquilo que encerrava aquele homem inquieto. Gizou o projecto e apresentou-o à Câmara Municipal de Paredes que, de imediato, o acolheu.
Depois da investigação sobre a vida e obra do também estudante de teologia, passou para a realização, onde juntou 14 pessoas que privaram com Daniel Faria e foi todo esse universo que fez questão de transpor para este seu trabalho, como a própria contou ao Verdadeiro Olhar.
Os cenários para as entrevistas foram pensados ao pormenor, tendo escolhido os locais certos, ou seja, “os que mais os unia e faziam lembrar o Daniel”. E as conversas fluíram e foram de uma “expressividade, sensibilidade” suprema, “carregadas de emoção e de uma acutilância” quase surpreendente. O filme também viajou “por locais” como o Vaticano e Roma. O primeiro é onde vive um dos entrevistados, D. Carlos Azevedo, que trabalha no Pontifício Consílio da Cultura, e o segundo serviu de cenário a uma das interpretações de poesia, explicou a realizadora.
E todos esses testemunhos abordam “a alma e o coração de Daniel””, sublinhou Marlene Maia, destacando que, “embora tenha sido um criador, era um operário do silêncio e da reflexão” e foi esta “dicotomia que esteve presente” na sua curta, mas intensa vida e “em todas as suas memórias”. E “o silêncio e as palavras” são “dois versos de um dos poemas de Daniel” e que a levou a escolher o nome do documentário, produzido pela Dalmática, co-produzido pela 7AM e que contou com a promoção da autarquia de Paredes.
Um dos testemunhos ouvidos para a pelicula foi o do escritor Valter Hugo Mãe que, e apesar de não ter conhecido o protagonista deste ‘estória’, partilha com ele muitas afinidades, admirações, assim como o mesmo ano de nascimento, tendo conseguido fazer com que Daniel Faria “voasse de um circuito fechado para uma universalização”, explicou Marlene Maia.
A realizadora, natural do Porto, mas residente, em Paços de Ferreira, leu muito Daniel Faria que, em jovem começou a escrever sobre vários temas como o Porto, os pescadores, o amor e até a morte e Deus. E o que mais a marcou, ao longo desta viagem que fez ao mundo de um homem que era sereno, mas muito curioso, foi o facto de todas as palavras que ouviu terem sido tão “intensas”, destacando ainda a “generosidade” dos entrevistados, porque “deram muito mais” do que aquilo que alguma vez poderia ter imaginado. E a verdade é que todos, sem excepção, falaram de Daniel com “alma e coração”.
Um ano de investigação e meio de realização culminaram neste trabalho, que pretende eternizar alguém que deixou um legado de palavras, que nunca ninguém conseguirá apagar e que, à medida que os anos passam, só consegue ser replicado. Para além disso, neste trabalho é feita a ponte entre as palavras e o “teatro, o cinema, a música e as belas artes”, áreas que mereciam a entrega, a dedicação e a atenção de Daniel.
Este não é o primeiro trabalho de Marlene Maia que já contabiliza cerca de 15 filmes documentários no seu currículo. Aliás, e durante quatro dias, duas peliculas da sua autoria estão em exibição no Pavilhão de Portugal, na Bienal de Luanda. O convite, para este evento da UNESCO, surgiu da Embaixada de Portugal em Angola e do Instituto Camões em Luanda.
Sobre o futuro, a jornalista espera realizar muitos mais filmes, tal como o que agora está a concluir, sobre outras pessoas, ouras almas inquietas, quem sabe, que a levem a eternizar outros nomes, outras palavras.
O filme é apresentado no dia 4 de Dezembro, na Casa da Cultura de Paredes, às 21h00. Paralelamente, é inaugurada exposição ‘Daniel, nome de poeta” que expõe um conjunto de trabalhos, individuais e coletivos, realizados durante a residência artística, ocorrida em Setembro, e que teve como objectivo ser um um espaço de abertura e diálogo entre a cultura e a fé.
Estas Iniciativas pretendem assinalar os 50 anos do nascimento do poeta e que têm a assinatura do Colégio de Fundadores da Associação Casa Daniel e município de Paredes.