Não foi ninguém. Começamos o ano com o país em campanha eleitoral para a eleição do próximo Presidente da República. Por estes dias, a campanha tem posto a descoberto a parte menos bonita (há alguma parte que seja bonita?) da política. Comecemos pelo início. Em 2006, Cavaco Silva ganhou as eleições presidenciais com 50,5% dos votos. Nas eleições de 2011 a percentagem de portugueses que votaram no actual Presidente subiu para 53,2%. Ora, estes dados, publicados pela Comissão Nacional de Eleições, ao fim de cinco anos, parecem ter sido inventados. Na verdade, julgando pelas conversas de café, pelas opiniões ouvidas na rua, pelos artigos de opinião dos vários jornais, parece que ninguém votou em Cavaco Silva. Até Marcelo Rebelo de Sousa, que foi apoiante de Cavaco Silva e Conselheiro de Estado escolhido por ele, parece não ter votado no professor de Boliqueime. Hoje, todos negam ter votado em Cavaco Silva, alguns até fogem dele como em África se fugia dos leprosos. É que ninguém, mas mesmo ninguém, votou nele.
Quer ser candidato? É certo que qualquer português com mais de 35 anos e no gozo de todos os seus direitos civis e políticos pode ser candidato à Presidência da República. Ao olhar para a lista de candidatos, percebe-se que passou a haver uma banalização da democracia, onde qualquer um acha que pode concorrer. Ao assistir a debates com um formato “tudo ao molho e fé em Deus” e com intervenções irrelevantes e despropositadas, sinto que se gera uma indiferença nos eleitores até pelas propostas dos candidatos.
O comentador e o candidato não são a mesma pessoa? Outro dos aspectos que foram postos a nu nesta campanha foi a capacidade que os candidatos têm para dar o dito por não dito. O exemplo mais flagrante é o de Marcelo Rebelo de Sousa. Para tentar “agradar a gregos e a troianos”, o ex-comentador foi capaz de mudar de opinião em assuntos de matriz ideológica. Sempre que é confrontado com um assunto mais polémico e o entrevistador o questiona sobre se, caso fosse Presidente, promulgaria ou vetaria esta ou aquela medida, o professor limita-se a dizer que seguirá sempre a decisão da Assembleia da República. Ou seja: o comentador Marcelo Rebelo de Sousa tinha opinião sobre tudo em geral; o candidato Marcelo Rebelo de Sousa não tem opinião sobre nada em particular. Caso vença as eleições, será certamente por ser o mal menor e, acima de tudo, por falta de comparência de candidatos com perfil para o cargo.