25 de abril: o dia seguinte

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Há 47 anos, no dia 26, começávamos a percorrer o longo caminho da revolução democrática e republicana, aquela que “começou a fazer-se por desejo” em 74 mas apenas venceria em 1982. Abril foi de todos, incluindo dos jovens e da direita, e tem de continuar a sê-lo.

É evidente que Cunhal e Soares foram dois comandantes nessa mudança, o primeiro liderando a revolução, o segundo travando tentações ditatoriais de Cunhal e do Partido Comunista. Mas não deveria ser menos evidente que dois jovens nos conduziram ao Portugal verdadeiramente democrático: Sá Carneiro e Freitas do Amaral. Com a reforma constitucional de 82 lograram o fim do conselho da revolução e abriram caminho para uma economia social de mercado, concretizada anos mais tarde por Aníbal Cavaco Silva. Donde resultou também a adesão à União Europeia. Foi com eles que a constituição portuguesa espelhou, finalmente e sem medo, o que verdadeiramente queriam os portugueses: um Portugal livre e democrático.

Sá Carneiro e Freitas do Amaral, então uns jovens, não tiveram medo dizer o que pensavam. Mas, mais do que isso, lutaram pelo que queriam e julgavam ser o melhor para os seus concidadãos, envolvendo-se e entregando-se à coisa pública. Um exemplo que nos devia inspirar a todos e, provavelmente, convocar ação e mudança.

Afinal, numa época em que os jovens podem tudo dizer e pelas mais variadas formas e plataformas, a sua voz parece não ser ouvida e o bafio – que também se quis derrotar com a revolução – perdura. Entre o descalabro ambiental, os desafios do mundo virtual, o mercado laboral estagnado, a desigualdade na distribuição de riqueza, a dívida pública galopante ou a justiça capturada pela elite de sempre, continuamos a comprometer o futuro.

Mas que fique também claro que não há, nem nunca houve, um Portugal perfeito, como não há um Portugal condenado, para usar palavras do Presidente da República na sessão evocativa. Pelo contrário, nas também muito palavras de António Barreto, as últimas cinco décadas mostraram uma democracia “lúdica, insegura, malfeita, à beira do abismo e irresponsável mas atraente e comovedora”. Um Portugal imperfeito que temos vindo a melhorar desde 1974.

Quase meio século depois, contudo, parece haver mais medo em arriscar e há certamente mais indiferença nos mais novos, causa (ou consequência?) de um sistema que teme a sua natural renovação, que quer menos aperfeiçoar-se. A contínua capacidade de mudança é o cimento do regime democrático.

Abril foi liberdade, mas também foi dar no presente voz ao futuro. Em 2021, no dia seguinte a mais uma evocação, não é menos importante lembrá-lo. Em 2021, o exemplo de Freitas do Amaral e Sá Carneiro, dois jovens, de direita, que muito fizeram por cumprir Abril, permanece mais atual do que nunca.