Celina, desempregada, foi despejada e vivia a saltitar de casa em casa com a ajuda dos vizinhos; Justa e José, um casal de seniores, viviam numa casa sem condições, com humidade e até ratos; Telma é viúva e tem dois filhos, uma neta de dois meses e vivia em casa da mãe. Estas foram três das 16 famílias que, esta quarta-feira, receberam da Câmara Municipal de Valongo a chave para uma nova casa e uma nova vida. “Tirando os meus filhos e a minha neta esta casa é outro euromilhões. Estou felicíssima. Não há palavras”, explica Telma Moreira.
No total vão beneficiar deste apoio 41 pessoas, 16 delas crianças. Segundo o presidente da Câmara, desde que tomou posse foram entregues 130 habitações de habitação social, sendo que a sua recuperação exigiu um investimento de cerca de um milhão de euros.
“Vamos ter um quarto para cada um. Graças a Deus”
Justa dos Santos e José Manuel Azevedo, de 70 e 68 anos, viveram na mesma casa durante 49 anos, desde que casaram. “A casa é arrendada. Fomos fazendo obras, mas as reformas agora são baixas e não dá. A casa já não tinha condições e, em Janeiro, optamos por pedir uma à câmara. Viemos pedir socorro”, conta o casal. Na casa antiga entra humidade, à bolor, soalhos em madeira a ficar apodrecidos e já houve a visita de ratos. A opção dos seniores foi também precipitada pelo piorar de saúde do marido, que tem problemas respiratórios. “Aquilo não lhe fazia bem”, diz a esposa. Com esta nova casa, em Alfena, Justa dos Santos não esconde a que está feliz. “A casa tem muito boas condições”, assegura.
Desde que ficou viúva, com dois filhos pequenos, há 16 anos, que Telma Moreira, de 44 anos, tentou uma habitação social, já que teve que entregar a casa que estava a pagar ao banco. Viveram até agora na casa da mãe, só com dois quartos e uma cozinha no exterior. “A minha filha ainda hoje me dizia que agora não íamos apanhar chuva quando fossemos à cozinha”, brinca. Quando a filha de 18 anos engravidou voltou a insistir porque a casa não tinha condições para tanta gente. Ela, os dois filhos e a neta de dois meses vão agora mudar-se para um T4 em Balselhas. “Vamos ter um quarto para cada um. Graças a Deus”, desabafa. “É uma casa maravilhosa e estamos ansiosos por nos mudar”, assegura Telma Moreira. “Isto é o realizar de um sonho para mim e para os meus filhos”, concluiu emocionada.
Foi também com emoção que Celina Gama, de 59 anos, contou um pouco da sua história de vida que não tem sido fácil nos últimos anos. Estava à espera de casa desde 2007, mas, entretanto, a vida mudou. “O pai da minha filha deixou-me e tive que entregar a casa ao banco. Depois a minha filha, com deficiência, faleceu. Comecei a dormir em vizinhos e tomava banho aqui e ali. Não tinha como suportar as despesas de uma casa sozinha e vim aqui pedir ajuda à câmara outra vez”, relata. Agora vai ocupar um T1 na Palmilheira. “Fiquei sem nada e estou de baixa crónica, mas a vida continua. Este vai ser o início de uma nova etapa”, acredita.
Centenas em lista de espera apesar de investimento feito
Durante a cerimónia de entrega oficial das chaves, que decorreu no Salão Nobre da Câmara de Valongo, José Manuel Ribeiro destacou o empenho do município e da Vallis Habita em resolver o problema das muitas centenas pessoas que estão em lista de espera para uma habitação social. É dada prioridade aos casos mais dramáticos. “Para recuperar cada casa gastamos em média oito mil euros. Ao disponibilizarmos 130 casas a 130 famílias estamos a falar de um esforço de cerca de um milhão de euros”, salientou, referindo-se às habitações entregues desde que é autarca.
“É uma ajuda, um empurrão para a vida correr melhor. Aos que recebem só peço que estimem a casa. É a melhor forma de agradecerem este esforço da comunidade. Agarrem esta oportunidade da melhor forma”, apelou o presidente do município.
O autarca lembrou ainda os projectos existentes nos empreendimentos sociais como “O Meu Bairro Não tem Paredes”, que tem como missão erradicar as causalidades, sintomas e evidências de desfiliação e de precariedade aumentando o sentimento de pertença, ligando o bairro ao mundo e trazendo o mundo ao bairro, com acções ligadas à capacitação; cidadania, igualdade e não discriminação; educação para a saúde; acções de inclusão pela arte e pelo desporto; entre outros.
José Manuel Ribeiro não esqueceu ainda o “exército de pessoas” que todos os dias trabalham para resolver questões sociais no município. “Uma grande parte desse trabalho não é visível nem pode ser. Tem que ser feito de forma discreta”, sustentou.
Desta vez, foram realojadas 16 famílias em casas de diferentes tipologias (T1 a T4) em urbanizações localizadas em Alfena, Campo, Ermesinde, Sobrado e Valongo. As rendas variam entre os 4,29 euros e os 117,76 euros.
A autarquia lembra que estão a ser realizadas obras de quatro milhões de euros, com apoio de fundos comunitários, para melhorar o conforto térmico e requalificar os espaços exteriores dos empreendimentos de habitação social do concelho.
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