Paradoxalmente, a semântica não ajuda a perceber que o país abandone o estado de emergência para entrar no estado de calamidade. Isso importa, mas não é o que mais nos interessa hoje.
O que parece certo é que o país quase todo vai tentar relançar-se numa nova fase como consequência, aparentemente, do sucesso das medidas a que fomos sujeitos.
Em declarações proferidas à comunicação social, o presidente da câmara de Penafiel culpou o concelho vizinho, Paredes, que, segundo Antonino, pela proximidade e pela mobilidade intermunicípios será responsável pelo estado a que Penafiel chegou.
Interessa, desde logo, afirmar que os pressupostos científicos utilizados pelo presidente da câmara de Penafiel para chegar a esta conclusão são tão válidos quanto a nossa opinião sobre lagares de azeite. Torna-se também obrigatório recusar liminarmente qualquer aproveitamento político que os autarcas queiram fazer desta calamidade. A pandemia não pode servir para colocar uns municípios contra os outros, não pode servir para reacender antagonismos bacocos ou rivalidades há muito ultrapassadas.
Por outro lado, nenhum autarca é responsável pelo sucesso ou fracasso do combate contra a pandemia. No máximo, alguns deles, talvez não tenham feito o que deviam ou fizeram menos do que deles era esperado. Só isso.
Seria, contudo, de uma enorme injustiça colocar todos os autarcas ao mesmo nível quanto à sensibilidade perante as dificuldades dos seus munícipes ou até na qualidade e quantidade das ações e intervenções levadas a cabo junto das populações.
A disponibilidade dos melhores equipamentos para a vacinação que colocaram à disposição da DGS, como se vê pelo país inteiro, tem sido exemplar.
As maiores dificuldades reveladas pelas autarquias não se encontram nesta fase, que se quer final, de imunização das populações. Porventura, o aproveitamento político que alguns fizeram da situação, a dificuldade de comunicarem e de se aproximarem das populações, a ineficácia de algumas medidas que não passavam de meras acções de propaganda partidária, talvez sejam o que de mais reprovável encontramos no comportamento dos autarcas.
Contudo, tudo isto é muito pouco se comparado com o que fizeram certo para se colocarem ao lado dos seus munícipes, sobretudo dos que maiores dificuldades enfrentam. Não se pense que terminam aqui as suas tarefas. O futuro pode até ser mais risonho no combate à doença, mas afigura-se-nos muito sombrio com as novas realidade que emergirão como consequências deste período. Novos desafios perante maiores dificuldades.
E, já agora, para concluirmos, e porque nenhum preconceito urbano(ou rural) nos acompanha nesta assunto, registamos que em Paredes, o presidente da câmara geriu a pandemia como se ela não existisse. Em cada dia que aumentava o número de infetados e vítimas, Alexandre Almeida atirava-nos com auditórios de milhões que nunca saberá se algum dia encherá e, ao mesmo tempo, aumentava o preço das campas nos cemitérios. É um aproveitamento mórbido, quase sórdido, usar a lei da oferta e da procura numa altura em que o número de mortos, em virtude da pandemia, aumentava exponencialmente. “Ide morrer para outro lado” é a frase que nos assola o pensamento sempre que pensamos nisto.
Em Penafiel, parece-nos que, com poucas diferenças de Paredes, vão lá saber-se as razões, a eficácia das medidas levadas a cabo pelo executivo de Antonino Sousa surtiram melhor efeito.
É certo que Penafiel leva enorme vantagem em relação a Paredes no que se refere a indicadores de salubridade e saúde pública, mas isso não basta para “decidir” que a situação pandémica que agora vive se deve aos vizinhos de Paredes.
Já Lousada, neste processo, parece-nos exemplar na forma como lidou com a pandemia. É certo que o executivo de Lousada está, até do ponto de vista das competências e da formação dos seus membros, muito à frente dos outros, mas nem esse sucesso no combate ao vírus e à sustentabilidade económica do concelho devia ter dado ao seu presidente o privilégio de anunciar a construção de um novo aterro sanitário em…Paredes.
Penafiel está à rasca com a passagem à fase seguinte do desconfinamento e atira a culpa para Paredes. Lousada tem problemas com o tratamento de resíduos e arranja logo uma solução: faz-se um aterro em Paredes.
Com vizinhos deste o melhor é viver longe!