Continua o relato: «O resultado da votação foi positivo, dissemos sim [ao novo mosteiro de Nossa Senhora Mãe da Igreja, na diocese de Bragança, perto da aldeia de Palaçoulo]. Quando as Madres [que tinham votado] desataram a aplaudir, cheias de alegria, irromperam pela sala capitular as noviças, as freiras, as irmãs hóspedes ou visitantes, para se unirem à festa. Depois, assistimos à transmissão do Papa em Fátima e à canonização de Jacinta e Francisco Marto, o que situou ainda mais no coração da Igreja a decisão que tínhamos vivido».
«Impressiona ver o envolvimento afectivo e espiritual da comunidade. É verdade que (…) era um momento fora do comum, mas talvez o motivo de tanta paixão é que esta fundação não nasceu de nenhum projecto, de um desejo especial ou de uma ideia nossa, impôs-se simplesmente como uma evidência, neste ano ligado a Nossa Senhora de Fátima, com o pedido do Bispo de Bragança (…). De certo modo, sentimo-nos olhadas, amadas, escolhidas para estarmos mais próximas de Nossa Senhora no centenário das Aparições de Fátima. A seguir, virão seguramente todas as provas, as fadigas, as dificuldades (…), mas agora reparamos mais no milagre da Vida».
As autoridades portuguesas aceitaram a instalação do convento, o Capítulo Geral da Ordem aprovou a iniciativa. O relato do 13 de Maio em Vitorchiano conclui: «Acompanhem-nos com as vossas orações para que tudo se cumpra conforme o querer de Deus e para que as dificuldades (também financeiras) nunca ofusquem o nosso sim de hoje, que dissemos com alegria e confiança na Providência».
Em Vitorchiano vivem cerca de 80 mulheres, de vários países. Gostam de parafrasear Bento XVI: «queremos deixar-nos transformar pelo Amor, pela Pessoa de Cristo, porque a nossa vida não assenta numa ideia ou numa decisão ética, mas brota do encontro com Cristo que se renova cada dia na Igreja». Segundo elas, «seguir Cristo, dar-Lhe tudo, significa receber já cem vezes mais». E gostam de citar um programa de vida espiritual, escrito no século XII por um membro da Ordem: viver «em caridade recíproca e ininterrupta (…) fundada sobre a verdade, não inquinada por rancores ou suspeitas; constantemente cultivada pela aceitação mútua (…); guardada com delicadeza e prudência (…); não obscurecida pela simulação (…). Ninguém se engane julgando que ama Deus: se não ama o próximo, não ama Deus».
A vida nos mosteiros trapistas é muito dura. Mas vale a pena! Muitas raparigas continuam a afluir, para se consagrarem a Deus para toda a vida. Hoje em dia, que a internet nos permite estar em todo o lado, encontramos comunidades transbordantes de alegria, personalidades equilibradas e felizes, femininas e elegantes (as fotografias falam por si). E a Ordem continua a abrir conventos: Angola, Argentina, Brasil, Chile, República Checa, China, Filipinas, Indonésia, Itália, Nicarágua…
A Irmã Gabriela é a figura mais conhecida de Vitorchiano. As biografias contam que era uma criança um pouco contestatária, rebelde, com um forte sentido da fidelidade. Aos 18 anos, pôs-se nas mãos de Deus e, aos 21, entrou no convento. Um dos seus traços essenciais é a gratidão. Agradecia a misericórdia de Deus, o tê-la chamado à vida monástica, o tê-la posto junto daquelas irmãs, tudo. Passava a vida a surpreender-se: «Como o Senhor é bom!».
Vitorchiano caracterizava-se por uma grande sensibilidade ecuménica, um desejo intenso de promover a unidade da Igreja. A Irmã Gabriela captou esse querer divino e por isso escolheu o nome de Maria Gabriela da Unidade e centrou a sua oração no capítulo 17 do Evangelho de S. João. Pouco depois de entrar no convento, entregou a própria vida a Deus por essa intenção. Nesse mesmo dia, ela – que respirava saúde –, ficou gravemente tuberculosa. Morreu em 15 meses, no Domingo do Bom Pastor de 1939, em que a Igreja lê o Evangelho em que Jesus anuncia: «Haverá um só rebanho e um só pastor».
O empenho da Irmã Gabriela pela unidade da Igreja teve eco nas comunidades anglicanas e noutras comunidades protestantes. Foi também a partir da sua morte que as vocações começaram a chegar a Vitorchiano em maior número. O Papa João Paulo II beatificou-a no último dia da Semana de Orações pela Unidade dos Cristãos do ano de 1983 e, na Encíclica «Ut unum sint», de 1995 (n° 27), propõe-na como modelo a todos cristãos.
Bem-vindas Irmãs! Welcome Sisters! Siate benvenute Suore! Bienvenues Sœurs! Willkommen Schwestern! Portugal espera-vos!