Quando se fala em vinhos não se pensa imediatamente em Valongo, mas é a partir deste concelho que, anualmente, são produzidos milhões de litros sob a insígnia da Quinta das Arcas.
Situada em Sobrado, esta empresa familiar, com cerca de 35 anos de existência, foi crescendo ao longo dos anos. Actualmente, explora directamente mais de 200 hectares de vinha em várias propriedades.
“Estamos aqui numa zona privilegiada. Maioritariamente, a zona dos vinhos verdes é uma zona de granito. Nós estamos aqui no xisto, por isso os nossos vinhos de certa forma tornam-se únicos. Termos aqui as nossas vinhas faz todo o sentido”, defende Diana Monteiro, uma das filhas do fundador e responsável pela área do Enoturismo. “Se analisarmos Valongo à luz de factores que contribuem positivamente para a produção de vinho, temos aqui tudo. E além disso temos a proximidade a um mercado como é o Porto. Diria que Valongo é uma zona excepcional para a produção de vinho”, acrescenta António Monteiro, também filho do criador da Quinta das Arcas e responsável pela área de Exportação da empresa.
Tudo começou com amor
É com amor, e com um acidente, que começa a história da Quinta das Arcas. António Esteves Monteiro conheceu a mulher, de Valongo, num acidente de automóvel na zona de Fátima, conta a filha. “O meu pai já trabalhava em vinhos e aguardentes, mas na zona da Batalha, de onde ele é. Depois disso casaram-se e ele veio para cá viver”, refere Diana Monteiro.
Estava-se na década de 80 do século passado. António Esteves Monteiro acabou por adquirir os terrenos que viriam a dar origem à quinta actual. “O meu pai vinha com uma visão diferente. A região dos vinhos verdes é conhecida pelos minifúndios, por pequenas parcelas de vinha e pela vinha de bordadura, e o meu pai quando veio para cá vinha com uma mentalidade mais da região dele, onde são parcelas muito maiores e cedo percebeu que, para poder crescer, não era com minifúndios”, resume a responsável pela área do Enoturismo.
O fundador avançou com o emparcelamento e implementação de uma viticultura moderna, plantando as primeiras vinhas. Em 1985, fundou oficialmente a empresa e lançou as primeiras garrafas de vinho, com a marca Arca Nova.
“Isto começou com os meus pais, e ainda está com eles, e eu e os meus irmãos agora também estamos aqui. Eu estou responsável pelo projecto de Enoturismo, que é o mais recente, o meu irmão António é responsável pelo Marketing e Exportação e o meu irmão Mário está responsável pelo Comércio Nacional”, descreve Diana Monteiro.
Começou com poucos hectares, mas hoje são cerca de 200 hectares de vinha nesta região, havendo parceria com agricultores da região na exploração de outros 100 hectares.
“Damos toda a assistência técnica nessas vinhas e ainda temos seis hectares de vinha biológica. Isto começou com cerca de dois hectares que é esta vinha aqui atrás de mim, a mais antiga. Foi um percurso ao longo de 35 anos em que o meu pai fez um trabalho muito interessante de emparcelamento. Ao longo destes anos foi comprando, trocando, vendendo, para conseguir juntar os terrenos e só assim conseguimos fazer uma vinicultura mais profissional e mais rentável”, acrescenta António Monteiro.
Além de várias propriedades em Valongo, Paredes, Penafiel e Santo Tirso, a Quinta das Arcas tem ainda uma herdade no Alentejo, que também tem vindo a crescer, onde em 120 hectares são produzidos vinhos da sub-região de Borba.
Quatro milhões de litros de vinho por ano
O foco da empresa são os vinhos verdes e do Alentejo, apesar de terem outros produtos.
“Tudo começou aqui nos verdes”, adianta António Monteiro. “Os nossos vinhos têm algumas características muito interessantes, sobretudo pelo facto de estarmos na parte sul da região dos vinhos verdes. Isso traz aos vinhos uma maturação mais intensa das uvas. Estamos também numa zona de xisto, que não é muito usual na região dos vinhos verdes, e isso também pode trazer aos vinhos influências na maturação, alguma influência na mineralidade e diferenciar a qualidade das uvas, que são maioritariamente da nossa produção”, explica o responsável pela Exportação da Quinta das Arcas. “Nós controlamos o processo todo e essa é a nossa maior preocupação, é termos a melhor fruta para fazer o melhor vinho”, salienta ainda.
O leque de produtos vai desde “o vinho verde mais ligeiro, com aquele gás carbónico, ao vinho verde rosé, vinho verde tinto, algumas aguardentes velhas de vinho verde envelhecidas em casco de carvalho” e vinho verde da casta alvarinho. No Alentejo, a produção está dedicada aos vinhos tintos. “Temos quase todos os estilos de vinho”, garante António Monteiro.
No Norte produzem cerca de três milhões de litros anuais, nos vinhos verdes, a que se junta um milhão de vinhos produzidos no Alentejo.
Aproximadamente 60% da produção é para o mercado nacional e os restantes 40% para a exportação. Os vinhos produzidos pela empresa seguem para 30 países, com destaque para os Estados Unidos da América, o Reino Unido, a Alemanha e a França. “A China tem tido algum crescimento nos últimos anos, esperamos que esse crescimento se vá mantendo”, diz.
Mais de 500 prémios para “vinhos honestos e fáceis de perceber”
O reconhecimento da qualidade tem chegado através de vários prémios. A lista já contabiliza mais de 500.
Desses, o responsável pelo sector da Exportação destaca o de “Melhor Vinho do Alentejo”, conquistado há cerca de três anos com um reserva 2012. “Já tivemos várias medalhas de ouro com esse mesmo vinho num concurso mundial de vinhos. Temos tido com o alvarinho, todos os anos, a medalha de ouro no Somellier Wine Awards, em Londres. Já tivemos no vinho verde mais de 90 pontos nos Estados Unidos na maior revista de vinhos americana”, além de prémios no Japão e na Rússia, dá como exemplo.
“Temos uma boa colecção de prémios, de que nos orgulhamos. Não é isso que nos faz melhores ou piore, mas é sempre um reconhecimento”, frisa António Monteiro. “Há alguns mercados em que só se consegue vender se os vinhos forem premiados”, acrescenta, justificando a sua importância para a empresa.
Uma aposta crescente no Enoturismo
Além dos vinhos, vinhos licorosos, espumantes e aguardentes, a Quinta das Arcas dedica-se também à produção de queijos e azeites.
Os queijos já são um projecto com alguns anos, que começou com uma vacaria e venda de leite. “Os nossos queijos são 100% vaca. Temos o queijo normal, o com pimenta caiene, com alho e salsa, com ervas aromáticas”, diz Diana Monteiro. A isto junta-se o azeite que vem do Alentejo e é produzido em modo biológico.
Nos últimos anos, até pelo boom que Portugal está a viver enquanto destino turístico, a Quinta tem estado a apostar no Enoturismo.
“Foi um processo natural. A Quinta das Arcas, à semelhança de outras quintas, está-se a remodelar e a abrir as portas e a dar a conhecer os seus produtos e o terroir onde estamos e como fazemos. Temos um salão de festas onde podemos fazer alguns eventos virados para o vinho. E temos esta sala de provas que é recente e está adaptada para podermos receber grupos até 30 pessoas e fazermos as provas, recebermos profissionais, recebermos turistas, não só estrangeiros mas também nacionais”, elenca. A meta passa por trabalhar outras ideias de futuro, como museu ou um comboio turístico para dar a conhecer as vinhas. Até agora a procura é sobretudo de turistas estrangeiros, muitos deles americanos.
Os portugueses participam sobretudo nos eventos da quinta, caminhadas solidárias e percursos pedestres.
“A Quinta das Arcas está inserida na Rota dos Vinhos Verdes e a primeira sinalização dos percursos pedestres foi feita em conjunto com a Comissão dos Vinhos Verdes. A partir daí, para dar a conhecer esta rota começamos a fazer caminhadas mensais em que no final há sempre prova dos nossos vinhos e queijos e todas essas caminhadas podem ter ou não um cariz solidário”, explica. Os percursos estão assinalados.
Na Quinta realiza-se também um trail, inserido no circuito de trails da Câmara de Valongo, que costuma contar com cerca de 1500 participantes.
Um projecto em curso
Para o futuro, há muito por onde crescer. “A Quinta das Arcas é um projecto em curso. Não há um ano em que não se esteja investir em alguma área, a fazer uma obra, a tentar melhorar alguma coisa, desde a vinha, aos edifícios, às adegas”, elenca António Monteiro.
Nos próximos tempos o objectivo passa por melhorar a zona de produção e engarrafamento, fazer melhorias nas adegas e construir uma nova adega, mas fazendo investimentos com a calma e ponderação necessária.
“Vivemos deste negócio. Não há nada a sustentar a produção de vinho. Isto tem de ser feito muito com os pés na terra, e passo a passo, para ser um negócio sustentado de família e que dure gerações também”, defende o empresário.
* Esta reportagem foi realizada antes do início da pandemia