Face aos dados divulgados, hoje, no âmbito de um estudo realizado nas escolas do concelho, o objectivo passa por desenvolver estratégias que ajudem a combater a obesidade infantil e que devem vir já plasmadas no Plano Municipal de Saúde que está a ser elaborado.
“Só conseguimos resolver um problema quando assumimos que temos um problema. A obesidade infantil é um retrocesso civilizacional. Este estudo vai ajudar a decidir o que fazer”, explicou o presidente da Câmara Municipal de Valongo, José Manuel Ribeiro.
Quatro em cada 10 crianças têm excesso de peso
O estudo “Avaliação e auto-percepção antropométrica de crianças do 1.º ciclo do ensino básico das Escolas do Município de Valongo” foi apresentado, esta terça-feira, na Biblioteca Municipal. Foi realizado no ano lectivo 2017-2018, no âmbito do projecto Crescer+ da responsabilidade do Instituto Técnico de Alimentação Humana, empresa que fornece refeições nas escolas do 1.º ciclo do concelho, com a colaboração da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP) e a parceria do município.
Dos 3.147 alunos inscritos nas escolas do 1.º ciclo em Valongo, foram avaliadas 481 crianças de 29 turmas. Em conta foram levados critérios como peso e estatura, sexo, idade e percepção da composição corporal, nível de escolaridade dos pais e número de irmãos, entre outros.
Essa percentagem de 40% de crianças com excesso de peso fica acima dos números nacionais que apontam para os 30%, referiu Rui Poinhos, investigador e doutorado em Nutrição Clínica da FCNAUP. É de 41% no sexo feminino e 35,7% no sexo masculino.
Esta prevalência elevada de excesso de peso na infância traduz-se em excesso de peso na idade adulta e vários problemas na adolescência, sustentou. Por isso, este estudo optou por estudar a insatisfação das crianças com a imagem corporal, que pode motivar “baixa auto-estima e até depressão, dificuldades de interacção social e alterações comportamentais”.
Por isso, um dos dados mais preocupantes é que “cerca de 70% das crianças tem insatisfação com a sua imagem corporal, mais de metade das raparigas e mais de 40% dos rapazes”, explica o investigador. Ou seja, apenas três em cada dez crianças se mostram satisfeitas com o seu corpo.
“É mais barato comprar comida de plástico do que comida saudável”
E essa insatisfação com a imagem corporal não está circunscrita a crianças com excesso de peso ou com baixo peso ou baixo índice de massa corporal. Está distribuída pela generalidade das crianças, sustenta. “Sete em cada dez crianças não estão satisfeitas com a sua imagem, sendo que a maioria deseja uma imagem inferior à actual [querem ser mais magras]. A maioria das crianças normoponderais (com peso e estatura normal) está
insatisfeita com a imagem”, adianta Rui Poinhos. Já um sexto das crianças com excesso de peso deseja uma imagem igual à actual o que pode “ser prejudicial em termos de motivação para a mudança”.
Para o investigador, contrariar estes números exige estratégias de prevenção e intervenção abrangentes, nomeadamente de âmbito escolar. Além disso, é preciso acções adaptadas à escolaridade dos pais e à idade das crianças. “Mas não é pô-las a ouvir palestras cuja eficácia é zero. É preciso estratégias que envolvam contacto com aquilo que se quer mudar e não passar mais informação”, defendeu.
António Teixeira, da ITAU, argumentou que a obesidade leva a muitos outros problemas de saúde e também a bullying e baixa auto-estima. “Três em cada 10 crianças terem excesso de peso é alarmante. Nunca houve tanta informação, mas mais do que nunca existe maior prevalência desta epidemia”, lembrou.
Já o presidente da Câmara Municipal de Valongo argumentou que têm vindo a apostar na prevenção. “Há quatro anos Valongo foi o primeiro município da Área Metropolitana do Porto a aderir à rede de Cidades Saudáveis e estamos a elaborar o Plano Municipal de Saúde, que existe em poucos municípios”, salientou. Por outro lado, José Manuel Ribeiro antevê que esta seja uma luta difícil, porque exige mudança comportamental. “É mais barato comprar comida de plástico do que comida saudável”, lamentou, defendendo que o problema da obesidade infantil deve ser encarado com seriedade ao invés de ser ignorado.