A tipologia das Unidades de Saúde que prestam cuidados assistenciais ou clínicos fora do hospital depende do tipo de organização em que se enquadram.
1 – Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) – o modelo mais semelhante ao funcionamento do antigo Centro de Saúde. Os profissionais da equipa têm um horário de trabalho e remuneração de acordo com as suas respectivas carreiras e categorias. A organização obedece a um esquema vertical, em que os mais antigos ou de maior categoria têm ascendência sobre os mais novos ou de menor categoria. O dirigente máximo dessas Unidades, tal como nos antigos Centros de Saúde, é um médico nomeado pela Administração que lhe está acima ou tutela. O exemplo do concelho de Paredes é a UCSP Paredes, onde funciona o Serviço de Atendimento de Situações Urgentes (SASU).
2 – Unidade de Saúde Familiar Modelo A (USF-A)— neste modelo os profissionais das três carreiras, médicos, enfermeiros e administrativos têm um horário de trabalho e remuneração de acordo com as suas respectivas carreiras e categorias tal como nas UCSP. A diferença está no tipo de gestão que é de tipo horizontal, isto é, não há hierarquias. Há equipas das três profissões (medico, enfermeiro e administrativo) que se articulam no interesse de que o resultado final seja melhor do que o trabalho individual. Tem metas e objectivos que medem a sua eficiência. Estas metas são contratadas anualmente com a Administração e vão desde a produção e custos à satisfação das necessidades dos utentes e ganhos em saúde. Estas equipas de responsabilidade horizontal (cada profissional vale um voto) são autónomas e reúnem semanalmente para tomarem as sua decisões mais importantes sob a orientação de um Coordenador (e não Director) que é eleito pela equipa (e não nomeado pela Administração).
- Unidades de Saúde Familiar Modelo B (USF-B) – tem o mesmo tipo de organização de gestão horizontal das USF-A, em que as decisões mais importantes são definidas em reunião de toda a equipa (Conselho Geral). Diferenciam-se daquelas no tipo de remuneração. A remuneração mensal está indexada ao número de utentes que abarcam e aos resultados obtidos na avaliação dos indicadores contratualizados anualmente. Na generalidade dos casos há um incremento remuneratório que recompensa o esforço realizado. Seja pela quantidade de trabalho seja pela qualidade dos resultados.
O anterior Ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa tinha dúvidas quanto ao real valor das novas Unidades de Saúde e solicitou à Entidade Reguladora da Saúde (ERS), em 25 de maio de 2015, um estudo comparativo das Unidades de Saúde Familiar (USF) e das Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP), em cinco áreas: acesso, produção, prevenção, internamentos evitáveis e eficiência. Esse estudo concluiu em 2017 que houve genericamente um melhor desempenho das USF modelo B na maioria dos indicadores considerados.
Em todos os tipos de Unidades há bons e menos bons profissionais. Cada modelo de organização tem vantagens e desvantagens. A opção de estar num ou noutro modelo é voluntária (já foi mais). A mais-valia encontrada nas USF modelo B só pode ser atribuída ao que as distingue: o tipo de organização e remuneração. Há um trabalho de equipa multiprofissional mais eficaz, maior intervenção de todos na gestão e administração das Unidades de Saúde, maior autonomia organizativa e maior motivação. Mas o que faz a diferença é o sistema retributivo que premeia o esforço e a qualidade que as equipas impõem diariamente, e que não existe nos outros modelos de Unidades de Saúde.
Resumo das conclusões:
- ACESSO: maior taxa de cobertura nas USF modelo B do que nas USF modelo A e nas UCSP. Isto quer dizer, mais doentes por médico e por enfermeiro e melhor resposta na necessidade de atendimento. No que se refere ao cumprimento dos Tempos Máximos de Resposta Garantidos, constatou-se que as UCSP foram visadas em maior número de reclamações, destacando-se a demora na marcação de consulta programada para adulto a pedido do utente e a não marcação de consulta por doença aguda no tempo devido.
- PRODUÇÃO: sempre melhores taxas de utilização nas USF modelo B (consultas médicas e de enfermagem, de grupos vulneráveis e de risco, consultas domiciliárias).
- PREVENÇÃO: melhor desempenho na avaliação dos indicadores de vigilância oncológica, de rastreio, de vacinação e de prevalência de doença nas USF modelo B, seguidas pelas USF modelo A.
- INTERNAMENTOS EVITÁVEIS: menor taxa de internamentos hospitalares evitáveis (ex.: Pneumonia e Infecções Urinárias) por resposta adequada nas USF.
- EFICIÊNCIA ECONÓMICA: constatou-se que as USF modelo B exibiram um melhor desempenho (despesa mais baixa), seguidas pelas USF modelo A. A despesa média com medicamentos nas USF de modelo B foi de 135 euros para 177 euros nas UCSP. A despesa média com meios complementares de diagnóstico e terapêutica (MCDT) prescritos, por utente utilizador, foi de 46,95 euros nas USF de modelo B e de 51,75 euros nas UCSP.
Em suma, mais uma entidade independente demonstrou que as USF (nomeadamente as de modelo B) fazem mais, melhor e a melhor preço e que os cidadãos também o reconhecem!