No último congresso da JSD, antes de fazer o meu último discurso como militante, disseram-me que mais do que um bom político era um bom contador de histórias. Hoje, escrevo-lhe a história de ter pertencido à maior organização política de juventude partidária do nosso país. Se me der esse tempo, vou contar-lhe a história de alguém que ambicionou, militou, lutou e conquistou aquilo que mais ambicionava na sua vida política: ser presidente da JSD na sua concelhia. Para alguns, certamente curto demais e até passível de alguma chacota, mas para mim representava defender a nossa terra, as nossas gentes e acreditar que era possível fazer mais e melhor por esta concelho a que chamamos casa.
Nos longos verões das férias escolares, enquanto eu e o meu avó apanhávamos o pendão do milho para alimentar os animais lá de casa, discutia e aprendia com ele questões básicas sobre a economia local, a política local e conhecia de perto o quanto o estado na sua omnipresença diária castigava o meu avó, sufocando-o com leis e impostos escravizantes que apenas prejudicavam o desenvolvimento e alimentavam as tentativas de fugir aos desvaneios de alguns tecnocratas de Lisboa. No final a nossa discussão terminava sempre com o mesmo apontamento: “Aqueles malandros dos políticos se nascessem pobres ao invés de ricos, talvez percebessem o que nos custa o trabalho”. Um dia e numa loucura, certamente consequente do sol e calor que imperavam no campo aquela hora, disse ao meu avô que iria mudar o país e que iria ser político. Curto e seco o meu avô respondeu: “Meu filho: antes de sonhares deixa de ser preguiçoso. Acorda cedo, estuda e arranja um trabalho. A política não é para nós.”. Curto e seco, tal como tinha dito.
Contudo, nesse mesmo dia prometi a mim mesmo que iria ser político. Primeiro como deputado, depois como primeiro-ministro e claro está, terminaria como presidente da república. Sonhos de alguém jovem que ainda pouco percebia das exigências de uma vida publica como esta.
Comecei pelo mais difícil: a ideologia.
Meus avós eram claramente conservadores baseados nos costumes e regras católicas. Eu sentia-me distante desse caminho e nem entendia, certamente, nesse tempo a importância do catolicismo na sociedade ocidental.
Já o socialismo era muito distante do que podia aceitar como vivência ou doutrina como procurar o melhor para as pessoas. A aulas de história tinha sido claras na apresentação dos horrores que o Nacional Socialismo fazia na Alemanha Nazi ou na Rússia com a luta de classes de Stallin.
O caminho tinha de ser outro.
Sorte ou acaso, momentos quentes de campanha autárquica aconteceram bem perto de nossa casa em Louredo. Numa garagem de armazenamento de fruta, um comício do PSD começava. Discursavam homens de barba rija, hoje históricos do PSD, e distribuíam-se brindes mascarados de convites ao voto. Eu recebi duas bolas de futebol brancas e com letras garrafais laranjas a dizer “PSD – Granja da Fonseca”. Os discursos foram empolgando a audiência e a mística das bandeiras bem altas e agitadas com toda a força, investiam, claro está, a adrenalina louca na alma de um jovem que pouco mais sabia do que era Portugal abaixo de Lisboa. Nesse dia, independentemente da ideologia eu sabia que queria ser PSD.
Os anos foram passando e a verdade é que era difícil entrar na vida política partidária. Para a maioria era novo demais e para os meus pais e avós não era o tempo certo, diziam eles.
Aos 17 anos surgiu aquela oportunidade única na tua vida: o meu melhor amigo fora convencido com os sonhos típicos de mudar o mundo. As fichas foram imprimidas e preenchidas com a caneta da sorte e na sede do PSD entramos a medo, mas com a certeza que aquele momento nos iria mudar para sempre.
A primeira reunião começou à mesa de casa com os meus avós e com a desculpa de que iria ver televisão para casa desse meu grande amigo à noite. Sim, as cassetes com filmes pirateados eram serões únicos para quem pretendia sair da rotina diária do controlo da família.
Autorização concedida e viajamos à velocidade da luz para a sede e para a nossa primeira reunião. Entrei na sede novamente com aquele medo e frio na barriga de quem muito queria “ser político”, mas com o receio de não ter o jeito certo para pensar e discutir a vida política. Quando chegamos à sala da reunião e por mais estranho que hoje possa parecer, o fumo produzido pelos cigarros acumulava-se a meio da sala e tornava-se, por vezes, difícil ver a ponta da mesa.
Primeira intervenção foi da presidente da JSD e logo aí nos foi pedido que nos apresentássemos como homens e quais os nossos sonhos. Tínhamos preparado aquele momento como se de uma entrevista de emprego se tratasse e claro está, brilhamos os dois. Falamos de quem eramos, o que nos trouxe ali e o que pretendíamos para futuro. Independentemente do conteúdo ou das ideias que estávamos ali a discutir, aquele era o nosso momento. No final e já no carro, rimos tamanha era a felicidade que os nossos corações carregavam. Nesse dia sabia o que queria. Sabia que queria ser como ela: queria ser presidente da JSD em Paredes.
Passaram-se muitos anos desde esse dia.
A vida alterou-nos os caminhos e pouco depois tivemos de nos separar. Eu continuei na vida política autárquica e na JSD em Paredes.
Conhecia pessoas boas, bons amigos e fiz outros como inimigos. Lutei, sonhei e conquistei o que mais queria: ser presidente da JSD. Tentei ser arrojado, diferente e procurei sempre fazer o que realmente o meu coração dizia. Umas vezes bem e outras nem perto lá cheguei.
Tentei que a JSD deixasse de ser um lugar de jogos e passasse a ser um lugar de família, amigos e onde as vitórias fossem partilhadas entre a equipas e as derrotas amortecidas pelos seus líderes.
Lutei e fui uma das vozes mais incomodas na vida interna do PSD nos últimos anos, criticando e elogiando o Celso Ferreira em tempos certos, mas no final sempre admitindo a capacidade única e brilhante dele ser um verdadeiro líder que fazia qualquer um sonhar na sala onde discursasse. Custou-me algumas amizades todo este processo, mas nunca aceitei que alguém cego com as suas ambições pessoais quisesse controlar uma JSD e amestrar-lhe o caminho de liderar, junto com o PSD em Paredes o rumo deste nosso concelho. A JSD não é nem pode ser servente de ninguém, muito menos dos líderes passados.
Conquistamos muito para Paredes e para a JSD.
Pela primeira vez e numa reunião ampla e alargada, perdoando-me erros de calculo, com mais de 30 pessoas indicamos politicamente a pessoa mais bem preparada para liderar um projeto de juventude ambicioso e que fosse capaz de ser um exemplo por esse país fora. Os elogios foram claros.
Fomos e continuamos a ser vice-presidentes da maior distrital da JSD do País, a do Porto. Fomos membros eleitos da comissão política nacional da JSD onde ao lado do Simão Ribeiro lideramos os destinos de Portugal num dos momentos mais difíceis que existe memória.
Foram muitos milhares de quilómetros percorridos num Fiat Uno, com muitas dores de cabeça acumuladas por causa de um radiador velho que acumulava calor em todos os seus cantos e ao mesmo tempo perdia água nesses mesmos cantos. Mas foram também muitas alegrias e vitórias que o Fiat Uno ajudou a carregar na sua mala.
Já bem perto do final, chegou o maior desafio enquanto presidente. Liderar uma juventude partidária que durante vários meses tinha de acompanhar o nosso candidato, Rui Moutinho, na sua jornada de candidato à Câmara Municipal de Paredes.
Foram tempo únicos de amizade, convívio e de dificuldades únicas que nos fizeram crescer como homens e mulheres, mas acima de tudo como amigos e família. Tive um orgulho e uma sorte única em ter aquele grupo de amigos prontos a estar ao meu lado nas lutas e nos caminhos a trilhar, mesmo que no último momento não tivessem lugar para se sentar à mesa.
Tivemos a maior representação de sempre da JSD nos órgãos autárquicos locais: elegemos dois jovens presidentes de junta que são exemplos únicos no nosso concelho. Elegemos dezenas de jovens para as assembleias de freguesia. Elegemos quase uma dezena para a assembleia Municipal e tivemos ainda representação na equipa candidata à vereação.
Poderia continuar a falar-vos do que conquistei com esta família. É um baú infinito de memórias que levo para a vida e com a certeza que tudo fiz para elevar a nossa JSD a ponto nunca antes visto. Não pela arrogância de sermos melhores, mas porque esta nossa terra, esta nossa gente e este nosso povo merecem! É isto que é a vida política: lutar pelos nossos.
Isto tudo foi capaz de acontecer porque um dia enquanto apanhava o pendão com o meu avô disse-lhe que iria ser político. Talvez um dia consiga ser um político razoável. Para já, apenas um sonhador.
Antes de terminar, não posso deixar de fazer aquilo que em política mais se tem perdido: agradecer aos nossos.
Ao Carlos, à Mariana, ao Luís e ao Bica, que se tornaram militantes honorários da JSD, por tudo o que fizeram, pela lealdade e amizade permitam-me que vos diga: continuamos juntos hoje e amanhã. Na política ou na amizade, continuamos juntos.
Aos que continuam Jotinhas e na pessoa de um amigo que conquistei e que com muito orgulho me sucedeu, Nené Gomes, deixo uma dica única: lutem sempre como se isto terminasse amanha. Vocês são a incríveis como homens e mulheres, mas são fenomenais como amigos e família.
E termino com aquilo que mais aprendi a dizer nestes dias: Obrigado.