Verdadeiro Olhar

Um ano de política autárquica: as oposições

 

Já passou um ano desde as últimas eleições autárquicas. Por esta altura, poder e oposição costumam fazer balanços. No entanto, à excepção de um ou outro executivo, não houve avaliações tornadas públicas sobre o trabalho de um ano dos partidos no poder ou na oposição. Por isso, justificava-se plenamente que fornecêssemos aos nossos leitores elementos de análise sobre este último ano autárquico. Esta semana, ocupamo-nos das oposições.

Lousada é, provavelmente, o concelho onde a oposição está mais bem organizada e com um objectivo muito bem definido. A chegada de Simão Ribeiro à liderança do PSD local deixa antever que estará a preparar o seu caminho rumo às próximas eleições. O PSD tem a maioria das juntas de freguesia e percebeu que, embora o PS tenha vencido as eleições, conseguiu-o com um resultado um pouco magro para conquistar um segundo mandato. A boa articulação entre Leonel Vieira, os restantes vereadores e Simão Ribeiro poderão obrigar o PS a mexer-se.

Paços de Ferreira tem aquela que deve ser a oposição mais encrespada da região. O PSD mantém na vereação um registo bastante agressivo, perdendo-se muitas vezes com o acessório em vez do essencial. No entanto, é, na região, a única que vai fazendo algumas propostas. Se na vereação o PSD se mantém bem vivo, o mesmo não parece acontecer fora da Câmara Municipal. O PSD de Paços de Ferreira teve o pior resultado eleitoral regional. Embora tenha trocado de líder, a verdade é que na prática não se renovou, pois o presidente do partido é o mesmo candidato que saiu derrotado. Nestes próximos três anos, Joaquim Pinto, caso queira recandidatar-se, terá que se esforçar muito mesmo para convencer a população a votar nele.

Em Paredes, o PSD parece uma espécie de doente bipolar: vota de uma forma na Câmara Municipal e de forma oposta na Assembleia Municipal. Na Câmara, os vereadores do PSD fazem oposição defendendo o legado de 24 anos em que o partido esteve no poder. Na Comissão Política, o PSD faz oposição tentando descolar do passado, numa espécie de “não foi nada connosco”. O exemplo mais flagrante foi a última conferência de imprensa do actual presidente, em que acusou o anterior executivo de irregularidades, supostamente graves, e o PSD não reagiu. Fez de conta que não viu, não ouviu, nem leu. Ou o partido tem um candidato muito forte para as próximas eleições, ou, a Alexandre Almeida, para vencer, bastar-lhe-á anunciar que será candidato.

Desaire idêntico ao de Paredes é o que acontece em Valongo. Durante um ano, o partido quase não fez oposição, com intervenções nas reuniões de Câmara que deixaram muito a desejar. O PSD de Valongo, para além de ter a difícil tarefa de fazer oposição a um PS com maioria absoluta, tem ainda a árdua empreitada de passar a falar a uma só voz e acabar com as facções interessadas na sua promoção pessoal. Só depois disso tratado é que poderá pensar em fazer oposição ao PS.

Penafiel é o único concelho onde os socialistas são oposição e, provavelmente, são os que mais trabalho dão a quem está no poder. Têm conseguido capitalizar mediaticamente alguns assuntos menos abonatórios para o concelho, apesar de terem pela frente o executivo mais atento e que melhor responde aos ataques da oposição. O maior problema do PS de Penafiel é a sua dupla liderança. Na Câmara Municipal, é liderado por André Ferreira, um socialista mais moderado e perto do centro, e na comissão concelhia do partido, por Nuno Araújo, um socialista mais próximo da ala esquerda do PS. É por de mais evidente que os dois ambicionam chegar à presidência da Câmara Municipal, embora com estratégias diferentes.