Chegou Binyam Abebe, mas é agora conhecido por todos como ‘Benjamim’. É ele quem fala da experiência que tem sido viver em Penafiel, de como as pessoas são amigáveis e o conhecem na rua. A mulher, Selam Melkamu, continua introvertida e recatada. Sorri. Brinca com o filho de quatro meses junto à árvore de Natal que, este ano, alegra o T1 onde moram, numa das ruas históricas do concelho.
Faz hoje um ano que este casal de refugiados – ele da Eritreia, ela da Etiópia – chegou a Penafiel. Foram dos primeiros a ser colocados em Portugal e ficaram sob a responsabilidade da Santa Casa da Misericórdia de Penafiel.
Apesar de estarem mais integrados, mas a adaptação ainda não está completa. O pouco conhecimento que têm da língua portuguesa tem sido uma barreira, sobretudo para Binyam ingressar no mercado de trabalho. Ambos continuam a ter aulas pagas pela Misericórdia de Penafiel e Júlio Mesquita, provedor da instituição, acredita que em Janeiro, o jovem de 27 anos já estará a trabalhar.
Segundo dados divulgados pela Comissão Europeia, o nosso país recebeu, até agora, 720 migrantes provenientes da Grécia e de Itália. No total, 8.162 pessoas foram distribuídas por outros países da União Europeia.
“Gosto de estar aqui. É tranquilo e pacífico e as pessoas são amigáveis”
Chegaram a Pena fiel no dia 17 de Dezembro de 2015. Binyam Abebe e Selam Melkamu são ambos refugiados, ele da Eritreia, ela da Etiópia. Fugiram da guerra e da fome. Estão entre os muitos que arriscaram a vida e pagaram para atravessar o Mediterrâneo num barco de borracha. Conseguiram chegar a Itália, passaram por um campo de refugiados até serem colocados no nosso país.
Foram recebidos pela Santa Casa da Misericórdia de Penafiel. Ficaram no Lar Santo António das Capuchos nos primeiros dias, até serem instalados num apartamento da instituição.
Daí para cá, o casal tem procurado adaptar-se ao estilo de vida. E garante que não está arrependido de ter vindo para Penafiel.
Apesar de continuar a ter aulas de português, é em inglês que o jovem de 27 anos se expressa. Em português, explica, consegue perceber o que está a ser dito mas ainda não é capaz de comunicar de forma clara. “Inglês e português são muito diferentes em termos de verbos e gramáticas”, refere o eritreu formado em design industrial.
O casal passou por um curso intensivo de português e tem agora aulas particulares, três dias por semana, com uma professora contratada pela Misericórdia.
Tudo para promover a integração de Binyam no mercado de trabalho. “Disseram-me que preciso de saber português e isso é difícil para mim”, conta. Neste momento, pensa que o mais fácil para conseguir emprego seria conseguir documentos na Etiópia que provem a sua formação académica. “Se eu tivesse o reconhecimento da minha formação seria mais fácil aceitarem-me”, acredita.
Aceitar vir para Portugal foi a decisão certa
Durante este ano, a família cresceu. Nasceu o pequeno Zion. É à volta dele que tem girado o seu dia, com passeios pela cidade, sempre que não está nas aulas. “Passeio e falo com as pessoas. Umas entendem-me, outras não, outras até me ensinam”, comenta Binyam Abebe.
“Depois deste ano em Penafiel toda a gente sabe quem eu sou, onde vivo. Confio nas pessoas, são amigáveis e boas para mim. Conhecerem-me é uma coisa boa”, defende.
Já Selam, de 23 anos, é mais recatada. Pouco percebe de inglês e também ainda não fala português. Mas foi a primeira a ser integrada no mercado de trabalho. Antes de Zion nascer já trabalhou alguns meses na lavandaria da Santa Casa da Misericórdia. Em Janeiro, deve regressar ao trabalho, enquanto o menino vai frequentar a creche da instituição.
“Querem ficar a morar em Penafiel?”, perguntamos. “Não sei, não temos planos para o futuro”, explica ‘Benjamim’. Mas não tem dúvidas de que aceitar vir para Portugal foi a decisão correcta.
Este ano, já fizeram a árvore e vão celebrar o Natal. “Bacalhau é bom”, confirma o natural da Eritreia. “Desejo a todos um Feliz Natal”, diz em português.
Provedor faz balanço positivo: “Sentimo-nos recompensados. Toda a gente gosta deles”
Desde o início que a preocupação da Misericórdia de Penafiel passou por dotar o casal de competências para que se tornem autónomos.
Filipa Rego, Psicóloga Clínica que tem acompanhado Binyam e Selam, e agora também Zion, conta que, inicialmente, “a adaptação foi mais complicada, sobretudo para a Selam porque é mais introvertida”. “Mas há medida que o tempo passou ela foi a primeira a conseguir a integração no mercado de trabalho e a relacionar-se com as pessoas no trabalho”, explica. “E está ansiosa por voltar à actividade profissional”, acrescenta a técnica da Santa Casa.
Por outro lado, e porque o curso de português de cerca de um mês não bastou, a instituição “avançou com aulas de português a expensas próprias para que fiquem dotados de competências de interação e para o mercado de trabalho”, refere o provedor: “Há várias promessas de emprego. Espero que em Janeiro o Binyam esteja a trabalhar”.
Segundo Júlio Mesquita, depois de um período em que o apoio estatal não surgiu nos moldes definidos, a situação foi regularizada e está a ser cumprido o protocolo que estabelece uma comparticipação de seis mil euros, por cada refugiado, durante 18 meses.
O líder da Santa Casa da Misericórdia de Penafiel faz um balanço positivo desta experiência. “Valeu a pena. Há muito trabalho, muitas horas investidas. Os funcionários têm sido incansáveis. Acompanhá-los em tudo e isso não se contabiliza em dinheiro”, salienta. “Sentimo-nos recompensados e satisfeitos. Toda a gente gosta deles”, sustenta o provedor.