Paulo Jorge Oliveira nasceu em Alcochete há 53 anos. Descreve-se como um homem que tem a sua própria fé e, depois de quase 30 anos a trabalhar como funcionário público, decidiu mudar de vida e instalou-se em Penafiel. Hoje em dia, dedica-se ao artesanato religioso, à associação de artesãos que criou e a mais uns quantos hobbies que lhe dão energia para cada vez fazer mais.
Até há cinco anos, Paulo Jorge Oliveira vivia no Montijo, onde trabalhou durante 27 anos e onde ia fazendo alguns trabalhos de artesanato. No entanto, revela que estava “saturado” da vida que levava e que “as pessoas lá não dão muita importância a esse tipo de artesanato”. Decidiu pedir licença sem vencimento e tentou uma vaga, através da lei da mobilidade, em Penafiel ou Paredes, mas não conseguiu. Veio, então, para Penafiel “à aventura”.
Já se tinha enamorado pela cidade quando veio em alguns passeios, depois de se ter casado, e diz-se “fascinado” pelo local. “Não sou de cá, mas é a minha terra, foi a terra que me acolheu. As pessoas vão para a América, que dizem que é a terra prometida. Para mim, a terra prometida foi Penafiel. Eu adoro estar aqui”, explica.
Agora está “a fazer aquilo que mais gosta na vida”: A sua profissão “é ser artesão a 100%”. “Não tenho ordenado, mas dá para por as contas em dia. Nunca fui rico, acho eu que sou uma rica pessoa, tenho os valores que os meus pais me ensinaram”, o respeito e a educação pelos outros, confessa.
“O artesanato religioso é a minha paixão”, sublinha, contando que já foi sacristão quando era mais novo e que já tentou também fazer outro tipo de peças, mas estas são as que gosta mais de elaborar.
Faz um pouco de tudo, conforme as ideias que surjam, mas sempre baseando-se em imagens religiosas. Uma das suas marcas é o galão dourado, que consiste numa fita de tecido bordado ou de fios entrançados, que geralmente conjuga com a madeira para adornar a peça – em dourado porque é inspirado na arte sacra, ou seja, da altura em que o ouro vinha do Brasil.
Paulo Jorge Oliveira é um autodidacta. Nunca aprendeu a arte com ninguém, nem tem familiares com esta veia artística. Começou aos poucos realizando diferentes tipos de trabalhos quando ainda se encontrava no Montijo. Primeiro, fazia uns “registos religiosos” em vidro, depois passou a comprar molduras e a personalizá-las, assim como a colocar imagens dentro de caixas de cartão ou de lanternas.
Nos últimos tempos, tem trabalhado vários candeeiros e pintado anjos, mas diz que não está “sempre agarrado ao mesmo”, que tenta “sempre inovar”. As ideias surgem de tudo aquilo que vê, de algumas pesquisas que faz online e de algumas imagens já feitas, que depois vai adaptando à sua maneira.
Quanto à receptividade, o artesão conta que tem sido boa desde que chegou e que, inclusive, as vendas durante a Agrival têm vindo a aumentar ao longo dos anos. “As pessoas dão um bocadinho de valor ao meu trabalho e isso para mim é muito bom e depois estou sempre a ajudar os outros”, afirma.
E foi nesse âmbito que criou, em 2017, a Associação de Artesãos Intermunicipal do Tâmega e Sousa, abrangendo 12 concelhos. A missão é “ajudar os outros”, “divulgar o artesanato, o trabalho do artesão” que é sócio, mas também fazer espectáculos de beneficência.
Actualmente, Paulo Jorge Oliveira é o presidente e conta com cerca de 15 associados. Revela que gosta sempre de batalhar por aquilo que quer e tem conseguido obter o que deseja. “Luto por aquilo que preciso. Não é só para mim, mas para os que estão comigo. No meu entender, porque vivo desta arte do artesanato, se der um bocadinho aos outros, acho que sou compensado e não tenho razão de queixa disso”, acrescenta.
A inspiração veio de uma “feirinha solidária” com que se deparou quando foi a Santiago de Compostela. “Cheguei a casa e pus-me a escrever a minha ideia e apresentei o projecto do mercado solidário”, que consiste numa feira de artesanato realizada em Penafiel, em que a Câmara Municipal não cobra o espaço na condição de 10% das vendas reverter para ajudar instituições, explica.
Os espectáculos de beneficência surgiram no âmbito dos objectivos da associação, nos quais ajuda o facto de Paulo Jorge Oliveira ter feito teatro de revista à moda de Lisboa durante quase 20 anos.
Através deles, quer conseguir mostrar esse tipo de teatro que “aqui não vêem porque não vão a Lisboa” e também fazer o que gosta nesta área específica, que é representar o papel de mulher. “Gosto muito de ser homem, mas o meu grande desafio é fazer papel de uma mulher. Fascina-me muito a mulher. Sempre fiz grandes aventuras no teatro. Na minha aldeia, fui o primeiro homem a aparecer em cima do palco transvestido de mulher a fazer uma imitação da Maria José Valério, isto nos anos 80”, conta, referindo ainda que sabe costurar roupa de mulher e tem feito algumas das peças para esses espectáculos.
Para os próximos tempos, o alcochetense já tem muitos projectos programados, entre eles espectáculos de homenagem a artistas, teatro de revista e exposições. No futuro, quer “continuar sempre com o artesanato religioso, tentar fazer mais iniciativas” e, entre outras coisas, editar um livro.