Hoje em dia, muitos jornalistas estão convencidos de que a Igreja também vive numa nuvem de sonhos, irrealista, «acima da realidade», como proclamavam os surrealistas com o seu humor muito especial. O discurso da Igreja tem alguma coisa a ver com os problemas do mundo em que vivemos?
No meio de tantas convulsões, o Papa Francisco está focado no sacramento da Confissão!
Das primeiras vezes, as pessoas estranharam. Com a insistência, muitos estão perplexos. Neste momento, os jornalistas já não sabem se devem dar a notícia ou se é a brincar.
Na Carta Apostólica com que encerrou o Ano da Misericórdia, o Papa Francisco estabelece que «o sacramento da Reconciliação precisa de voltar a ter o seu lugar central na vida cristã». Em cada parágrafo, aparece uma referência a este «caminho que somos chamados a percorrer». «A misericórdia constitui a própria existência da Igreja. Tudo se revela na misericórdia; tudo se compendia no amor misericordioso do Pai». «O perdão é o sinal mais visível do amor do Pai, que Jesus quis revelar em toda a sua vida». «Nada que um pecador arrependido coloque diante da misericórdia de Deus pode ficar sem o abraço do seu perdão». «Agora, concluído este Jubileu, é tempo de olhar para diante e compreender como se pode continuar, com fidelidade, alegria e entusiasmo, a experimentar a riqueza da misericórdia divina». «Não limitemos a força renovadora da misericórdia; não entristeçamos o Espírito». «Mantenhamos o coração aberto à confiança de ser amados por Deus. O seu amor sempre nos precede, acompanha e permanece connosco, não obstante o nosso pecado». «O sacramento da Reconciliação é o momento em que sentimos o abraço do Pai, que vem ao nosso encontro para nos restituir a graça de voltarmos a ser seus filhos».
«Recebi muitos testemunhos de alegria pelo renovado encontro com o Senhor no sacramento da Confissão. Não percamos a oportunidade de viver a fé, inclusive como experiência da reconciliação. “Reconciliai-vos com Deus”: é o convite que ainda hoje dirige o Apóstolo a cada crente».
Nesta carta e nas homílias do Santo Padre, vejam-se as da última semana, há um apelo muito forte aos padres para que dediquem horas ao confessionário: «Aos sacerdotes, renovo o convite para se prepararem com grande cuidado para o ministério da Confissão, que é uma verdadeira missão sacerdotal». «O sacramento da Reconciliação precisa de voltar a ter o seu lugar central na vida cristã; para isso requerem-se sacerdotes que ponham a sua vida ao serviço do “ministério da reconciliação”». «Agradeço-vos vivamente (…) e peço-vos para serdes acolhedores com todos, testemunhas da ternura paterna não obstante a gravidade do pecado, solícitos em ajudar a reflectir sobre o mal cometido, claros ao apresentar os princípios morais, disponíveis para acompanhar os fiéis no caminho penitencial (…), generosos na concessão do perdão de Deus». «Nós, confessores, temos experiência de muitas conversões que ocorrem diante dos nossos olhos. Sintamos, portanto, a responsabilidade de gestos e palavras que possam chegar ao fundo do coração do penitente».
Seria impossível enunciar todas as vezes em que o Papa pede aos católicos para se confessarem e aos padres para estarem disponíveis.
Que Deus continua a ser o mais importante parece tão fora da realidade que os próprios católicos se surpreendem. Não admira que muitos jornais não saibam informar sobre um discurso tão surrealista. Resta saber se os católicos também olham para o Papa como se fosse um surrealista.