A minha vida cruzou-se por duas vezes com a de Jorge Malheiro: a primeira em 1992, quando trabalhei na elaboração do primeiro Plano Director Municipal de Paredes, e a segunda em 2004, por motivos políticos. Dele guardo a imagem de um homem coerente, firme no que pensava, dizia e fazia. Jorge Malheiro era um homem de trato simples, sem deixar de ser um verdadeiro cavalheiro.
Quando assumiu a presidência da Câmara Municipal já vivia na Quinta D’Além, onde a residiu até ao fim da sua vida. Nunca foi conhecido por ter enriquecido durante os seus 17 anos de autarca, nem tão-pouco foi alguma vez acusado de negócios menos sérios. Foi sempre um adepto fervoroso do União Sport Clube de Paredes, mas diz-se que fazia questão de ir ver os jogos fora no seu próprio carro. Se estamos todos sujeitos a que sobre nós se diga tudo, é de justiça que se diga que, durante 17 anos, serviu sem nunca se ter servido. Era um político sério.
Numa altura em que Paredes não tinha nada e não havia dinheiro para quase nada, a sua gestão autárquica foi responsável pelo projecto de saneamento da vila de Paredes, pela elevação de Paredes a Cidade, pela remodelação e ampliação do edifício dos Paços do Concelho, pelas obras de alargamento e melhoramento em vários cemitérios, pela construção de arruamentos por todo o concelho, pela infra-estruturação de diversos equipamentos escolares, pela remodelação da rede de distribuição de energia eléctrica em várias freguesias, pela construção da ETAR de Paredes, pela construção do bairro O Sonho, pela instalação de um núcleo da delegação da Cruz Vermelha em Paredes, pela construção de um Parque Infantil em Parada de Todeia, pela implantação da CESPU em Paredes ou pela compra de 18 mil metros quadrados da Quinta da Estrebuela, destinada já ao Parque da Cidade de Paredes, entre tantas outras obras e iniciativas que contribuíram decisivamente para o desenvolvimento do concelho.
Quando, há pouco tempo, foi homenageado com a atribuição da Chave de Honra do Município de Paredes, dizia que tinhas dúvidas se a merecia, mas tinha a certeza de que “foi neste espaço público que dei de mim o melhor que soube e pude”. Oxalá que a sua postura sirva de exemplo para outros políticos.