Sobem ao palco sem medos e sem nervos e falam numa experiência que os enriquece.
Um grupo de 16 idosos que frequenta as aulas de Música do Centro Social e Comunitário de Ermesinde da ADICE – Associação para o Desenvolvimento Integrado da Cidade de Ermesinde, acompanhado de dois voluntários, gravou um CD com músicas tradicionais portuguesas.
Hoje, ainda antes da actuação oficial, que acontece esta noite, na Junta de Freguesia de Ermesinde, os “cantores” afinaram vozes no último ensaio.
O objectivo do projecto, explicou Maria Trindade Vale, passou por “aumentar a auto-estima dos seniores, combater o isolamento e a solidão e promover o envelhecimento activo” com uma actividade que acaba por ser terapêutica. “Houve gente a adiar consultas para não faltar aos ensaios e um senhor com uma faringite que estava preocupado por não participar. Os seniores estão todos mais motivados”, deu como exemplo a presidente da ADICE.
Os seniores têm uma aula de música por semana e o projecto de gravar um CD foi crescendo, só sendo possível de concretizar graças a apoios, acrescenta a dirigente.
Existe a ideia de continuarem a fazer concertos, com os fundos angariados a reverterem para a instituição.
Banda “Onda Sénior” recupera memórias
“Nós somos a Banda Onda Sénior e este CD chama-se Memórias”, diz, em palco, Ana Gonçalves, de 78 anos, que não canta, mas apresenta o grupo. “Puseram-me neste cargo e como é por uma boa causa aceitei, embora não goste de me expor”, confessa. “Pensei que ia estar mais inibida, mas não estou”, afirma com descontracção, brincando: “já posso ser apresentadora de profissão agora”.
Seguindo as dicas da ensaiadora, Cátia Barbosa, os seniores vão entoando modas de outros tempos, como “Cheira bem, cheira a Lisboa”, “Ó ferreiro guarda a filha” ou “Olhos Negros”, com ou sem a ajuda das letras.
Têm entre 60 e 86 anos e quando foram desafiados a gravar um CD não hesitaram.
Joaquim Pereira, de 69 anos, é um homem da música, mas frequenta também outras aulas como forma de preencher o tempo, como o Inglês, a Ginástica ou a Informática. Já ajudou a criar três grupos musicais na cidade de Ermesinde: Estrela de Sonhos, Margens do Leça e Boinas da Vela. Apesar disso, nunca estudou música. Toca cavaquinho “por acordes”, desde 1992, e leva a música muito a sério. “Quando falaram em gravar um CD eu disse ‘atenção, que isso não é coisa com que se brinque’”, conta. Mesmo não tendo sido o primeiro CD que gravou – já esteve em estúdio mais de 13 horas seguidas – diz ter gostado de repetir a experiência. “Isto é motivador e faz bem ao cérebro, desta gente e ao meu”, garante.
Descendo as escadas do palco a saltitar, do alto dos seus 86 anos, Conceição Rilhó salienta que não gosta de estar em casa. Por isso, ocupa o tempo com várias aulas, promovidas pela ADICE e não só, muitas ligadas à actividade física e à dança. À música também já estava ligada. “Canto há 20 anos e adoro cantar. Gostei muito de entrar nisto porque nos fez conviver. Estar em palco não me assusta. Isto trabalha a memória e põe-nos alegres”, afirma. “Gostava que fizéssemos uma tournée a apresentar estas cantigas. Íamos já hoje!”, brinca a sénior.
Quem também já cantava e tocava cavaquinho é Luís Teixeira, de 72 anos, que frequenta as aulas há oito anos. “Fui convidado a participar e aceitei. Gosto de cantar, às vezes a voz é que não ajuda muito”, confessa. “Ensaiei pouco, mas as canções são tradicionais e a gente sabe-as”, garantia o sénior, ainda antes do concerto.